sexta-feira, 29 de julho de 2011

Amy

Tomei um susto, sábado passado: liguei meu computador à tarde e me deparei com a notícia da morte de Amy Winehouse. Eu gostava dela, embora não fosse assim um fã de carteirinha. O timbre de sua voz era muito bonito, entoando letras melancólicas, carregadas de sentimento.

Confesso que fiquei chocado, muito mesmo. Aquilo me abalou de maneira estranha, forte. Talvez pela idade dela, nem dois anos a mais do que minha própria filha ou pelo cenário dos últimos tempos de sua vida, do envolvimento com drogas.

É muito preocupante essa proximidade dos vícios com a juventude. Sempre comparo a cabeça de um adolescente com um disco rígido de computador ou com um desses disquinhos de mídia: você pode gravar ali qualquer coisa e mesmo que possa se trocar informações depois, vai ser quase impossível apagar tudo de vez, sempre sobrarão alguns resquícios daquelas primeiras coisas alí marcadas.

Isso evidencia a importância de uma educação de berço, da atenção dos pais, do carinho de um lar alicerçado nas velhas e boas tradições da família. Modernamente, o que se viu foram crianças e adolescentes criados por aparelhos de televisão e computadores – com mínima presença dos pais. Muito mais fácil e confortável deixar os filhos se divertindo com um videogame do que chamar para uma boa conversa ou um passeio ao ar livre. O sorvete perde feio para qualquer game...

Os almoços em família foram substituídos por lanches rápidos aquecidos no microondas e devorados rapidamente para não atrapalhar um jogo qualquer: uma das mãos no sanduíche e outra no mouse. Os pais correndo, ambos com seus afazeres e sem tempo para os próprios filhos!

Não é difícil supor que um ambiente assim se torna favorável à abordagem de pessoas alheias ao núcleo familiar: é gente que supre a atenção desses jovens e usam isso para o cenário inaugural das drogas. Pronto, está armado o desastre!

Precisamos rever com urgência esse comportamento, devemos fechar o cerco em torno da família, potencializar os bons sentimentos, evidenciar os exemplos que trazemos de nosso passado para projetar isso aos nossos filhos e netos. Pode parecer muito “careta” mas aquela imagem de reuniões familiares, seja à volta da mesa na sala de jantar ou nos encontros íntimos como Natal e aniversários, essa demonstração coletiva de carinho pode, aos poucos, reverter esse quadro que se formou, de literal abandono dos nossos jovens à própria sorte.

Essa inversão tem um componente muito especial: amor. Talvez seja uma forma de contrariarmos Amy numa de suas composições mais tocadas, provando, definitivamente, que seu refrão está errado: “Love is a losing game”... ou alguém duvida disso?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lacuna para as férias!

Bom... depois de algumas semanas ausente, estou de volta! Se não tenho férias no trabalho há muitos e muitos anos, pelo menos me dei ao luxo de sossegar os neurônios para que eles voltassem com mais carga durante uma nova fase!
Obrigado pela paciência, pela espera... e pela fidelidade!
Vamos lá?

Liberdade, liberdade... abre as asas sobre nós!

Passei minha infância e minha adolescência sob o clima do regime militar que governou o Brasil a partir do famoso 31 de março de 1964.

Foram tempos duros, sob muita censura. Não se podia falar sobre muita coisa, havia risco de alguém ouvir e denunciar. Músicas e peças teatrais tinham que passar por um crivo prévio. A Imprensa não podia publicar o que queria e era frequente nos deparamos com notícias desconexas porque parte do texto havia sido cortado. Como protesto branco, alguns jornais publicavam receitas culinárias ou versos de Camões no lugar das matérias vetadas; assim, era muito comum, no meio de alguma reportagem política, ter uma inexplicável receita de bolo de cenoura.

Pessoas foram presas, torturadas e até mesmo mortas apenas por expressarem suas idéias, por defenderem um ideal de liberdade. Pensar era proibido num País que despontava para o mundo como liderança numa época de ufanismo. Muitos intelectuais se exilaram na Europa mas por aqui havia canções patrióticas enaltecendo o povo. Os universitários eram perseguidos, presos e torturados enquanto a televisão anunciava a construção da Transamazônica. Vladimir Herzog era assassinado nos porões do DOI-CODI e o Brasil iniciava seu programa nuclear.

Na conveniente ignorância da maior parte da população, o País ia bem, obrigado. Aos poucos uma outra consciência foi tomando conta de todos e o clamor pelo afastamento dos militares e a devolução do poder político do País aos civis tomou proporções que não dava mais para esconder. Passada uma fase de transição, vivemos uma outra época e a desejada luz no final do túnel começou a surgir.

Depois de 21 anos de ditadura militar, a liberdade voltou às nossas mãos.

Será?

Camuflado sob uma pretensa Democracia e numa discutível defesa de minoras, hoje em dia você é obrigado a engolir tudo, mesmo que não queira, ainda que não concorde. Somos proibidos de um monte de coisas, é o Estado interferindo cada vez mais em nossas vidas, delimitando o que você é obrigado a aceitar como normal. Já parou para pensar que você não tem mais o direito de ter opinião sobre nada?

Tomar um chopp no final da tarde com os amigos? Nem sonhar... se você for parado numa blitz da Lei Seca, pode ir preso. Acender um cigarrinho no bar? Multa na certa! Não se pode nem mais contar anedotas envolvendo nossos irmãos lusitanos ou nipônicos ou judeus e nem pense em fazer um gracejo sobre aquele rapaz afeminado do escritório porque você acabará nas barras de um Tribunal, devidamente processado. De Homem de bem a criminoso é um estalar de dedos. O politicamente correto, hoje, é participar da Marcha da Maconha, é ter bolsa-alguma-coisa, é pertencer a uma tribo.

No fim, estamos apáticos, nem contar uma piadinha pode! Saímos de um Regime em que vivíamos sob o jugo dos militares e caímos num pior: qualquer pessoa pode nos delatar e nos acusar de alguma coisa. Estamos num grande Big Brother, somos observados minuto a minuto, eletronicamente ou ao vivo. Até mesmo nossos perfis nas redes sociais da Internet são vasculhados e tem sido frequentes as demissões por conta de comentários públicos principalmente no Orkut, Facebook e Twitter - e isso tudo está interligado! Para quem gosta de História, procurem a figuração desse tipo de denuncismo gratuito na II Guerra, vejam quem se valeu disso para angariar colaboracionistas.

Mas que mundo esquisito, este, não? Clamamos tanto pela liberdade e fomos presenteados com um (outro) disfarçado Cavalo de Tróia.

É... não tem jeito: a História sempre se repete!

Falando nisso, alguém sabe da Helena?