O Brasil foi notícia na maioria dos jornais
internacionais nestas últimas semanas. Um país calmo e pacato, interessado
apenas em futebol e carnaval, cerveja e praia, de repente viu milhares de
pessoas nas ruas, protestando contra aumentos abusivos do transporte coletivo,
corrupção no setor público e votação de matérias no Congresso Nacional.
Multidões entupiram importantes avenidas das
grandes capitais carregando faixas e cartazes censurando atos praticados por
políticos, exigindo tomada de posição acerca de assuntos importantes para a
Sociedade, bradando palavras de ordem.
Afinal, o que está havendo?
Está havendo é que o povo brasileiro, em sua
esmagadora maioria, resolveu dizer “não” a décadas de desmando, corrupção e
desdém para com a coisa pública. O povo cansou de assistir pacificamente a
criação de impostos e mais impostos sem ter nada em troca. Somos o país com uma
das maiores cargas tributárias do planeta e os últimos em Educação, Saúde e
Segurança. Se os impostos são justamente para manter a máquina pública para que
tenhamos tudo isso, onde está, onde foi nosso dinheiro?
Vivemos num país de contradições, em que uma pequena parcela da população vive nababescamente, enquanto a maioria se
sacrifica apenas para pagar suas contas – e impostos. O desnível
social em nosso País é abissal: enquanto alguns privilegiados têm dinheiro para
comprar jatinhos particulares, outros andam descalços por faltar uma sandália.
É isso o que está ocorrendo: o povo
brasileiro percebeu que, ano após ano, vem sendo enganado nas eleições por
gente desonesta e despreparada para exercer o Poder, para comandar suas
cidades, seus Estados e seu País.
Eu senti orgulho de ver os jovens engajados
numa luta em pról da Sociedade, destemidos e com argumentos incontestáveis. A
minha geração não foi capaz disso; reclamávamos debaixo das cobertas, nossas
críticas eram veladas, feitas no núcleo da família e dos amigos. Essa moçada,
não: enfrentou as balas de borracha, bombas de gás e os cassetetes implacáveis
da polícia com muita dignidade.
Agora que o povo tomou coragem de sair as
ruas e mostrar o descontentamento, temos que tomar cuidado para não deixar essa
chama apagar e não permitir que haja oportunismos. Por certo haverá a tentação
de surgir, entre alguns integrantes desses movimentos, a candidatura a algum
cargo eletivo – mas esse filme nós já vimos. Daqui não podemos mais retroceder:
basta de populismos, de promessas tôlas e risos fáceis, já que não é essa a representatividade
que queremos.
Para ser representante do povo brasileiro,
há que se ter capacidade, integridade e, acima de tudo, honestidade de
princípios.
Cansamos de servir de palhaços neste grande
picadeiro que se chama Brasil.