Quando eu comecei a trabalhar, aos dezesseis
anos de idade, foi no escritório de uma renomada empresa do ramo têxtil aqui em
São Paulo.
Tudo lá era muito pomposo: tínhamos que ir
trajados de gravata; jeans e tênis eram proibidos. As mulheres também só usavam
roupas sociais. Os superiores tratavam a todos por “senhor” e “senhora”, não
havia nenhum tipo de intimidade, algo que ensejasse alguma aproximação. Eu
achava estranho ser chamado assim... de “senhor” – afinal, eu era um
adolescente! Mas era assim, tudo era muito circunspecto.
Era o tipo de ambiente comum naquela época:
as pessoas mantinham-se numa postura respeitosa umas com as outras e o trabalho
fluía assim. Não fosse o cansaço de conjugar o trabalho com meu primeiro ano
noturno de curso colegial, eu teria ficado lá muito mais tempo. O salário era
péssimo mas havia sempre a oportunidade de crescer dentro da empresa.
Às vezes os chefes se fechavam numa sala
para conversar, discutir coisas do trabalho, sei lá. Muitos sisudos, os colegas
comentavam que eles estavam ocupados em reunião.
Aquele termo ficou na minha cabeça: em
reunião.
Eu ficava imaginando quando é que eu seria
tão importante a ponto de participar de uma reunião. Sonhava em ter meu lugar
naquela mesa imensa, de madeira pesada e escura, com o Presidente da empresa na
ponta, avaliando e determinando os rumos a serem seguidos, o vislumbre de
crescimento da companhia. Eu ouviria e seria ouvido, minhas opiniões levadas em
conta, participaria, teria meus breves instantes de sucesso.
O tempo passou, eu saí de lá, terminei meus
estudos, trabalhei em outros lugares. Modernamente as coisas mudaram muito. Em
geral, todo mundo trabalha de tênis e usa os jeans mais surrados do armário. O formalismo de outrora deu lugar a gírias, os tradicionais e sinceros
apertos de mão foram substituídos por malabarismos de dedos que estalam, giram
e se batem no ar. Não é raro que se vejam pessoas com fones de ouvido escutando
suas musiquinhas favoritas ou plugadas num celular que nunca para de tocar.
Entretanto, tem uma coisa que mudou mais do
que tudo: as reuniões. Às vezes as pessoas não querem atender alguém na empresa
e pedem: “fala que eu estou em reunião”.
A reunião! Aquele momento tão mágico quanto
solene, hoje serve como esconderijo, como desculpa para não se atender uma
pessoa ou – pior – para se livrar dela. Tudo virou “reunião”. Duas pessoas
tomando cafezinho, contando piadas lá no canto da sala, isso já é considerado
reunião...
Acontece muito onde eu trabalho e sou
obrigado a dizer às pessoas que fulano não vai poder atender pois está “em
reunião”. Noto a tristeza na voz das pessoas ou sinto o olhar de decepção caso
estejam presentes pois no fundo, ninguém é bobo e existe plena consciência de
que se está sendo enrolado: elas procuram soluções para seus problemas e nem
podem expor seus argumentos por causa da tal reunião que sequer existe. “Em
reunião” sinaliza uma dispensa sumária; se você ouvir isso por pelo menos três
vezes e sem um retorno daquela pessoa, desista!
Isso projeta meu pensamento diretamente para
todos esses colegiados que existem mundo afora, confabulando horas a fio, sempre
em reunião... e nem sempre com os resultados que esperamos.
Que tristeza, não? O futuro de alguém pode
depender apenas de um instante de atenção mas fica alí, pendurado no descaso, refém daquele instante de prepotência que se apodera de alguns seres humanos, eternamente...
em reunião!