sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O rabo que balança o cachorro

A região central de São Paulo sempre um atrativo para mim. Desde criança, sempre gostei de andar por alí e olhava maravilhado para os edifícios imensos, vetustos, as ruas com aquele amontoado de gente apressada. Homens de terno e gravata, mulheres elegantemente inseridas em sóbrios tailleurs seguiam impassíveis seus rumos. As vitrinas das lojas tinham a simplicidade dos anos 50/60 e eu me encantava com tudo aquilo, as luzes coloridas, as coisas expostas de forma chamativa. Não havia tantos modelos de automóveis mas eles eram mais coloridos do que hoje, em que reina a tirania do preto/cinza/prata. Sem dúvida, a cidade era mais alegre; as pessoas se cumprimentavam na rua ainda que não se conhecessem, era uma regra de boa educação, de civilidade, de cortesia. Havia u´a magia no ar, principalmente na época de Natal.

Para mim tudo era novidade e eu crivava meu pai de perguntas. Meus olhos se entupiam de cores, de luzes, de sonhos. Quando voltava para casa eu ficava o resto do tempo com aquilo tudo na cabeça, relembrando cada instante, cada cena, cada som, cada aroma.

O tempo passou e meu destino profissional e acadêmico foi distante do Centro; passei anos sem ir até lá: o trânsito caótico e a agitação constante das pessoas cada vez mais apressadas acabou por favorecer esse afastamento.

Há algum tempo resolvi resgatar um pouco desse tempo perdido. Por algumas vezes tomei o Metrô e, munido de uma câmara fotográfica e muita disposição, passei a percorrer aquelas mesmas ruas e praças de quarenta anos atrás – para minha solene decepção!

Os edifícios ainda estão alí, ostentando a mesma imponência de sempre; algumas lojas tradicionais já se deslocaram para centros de compras mais sofisticados e outras simplesmente fecharam as portas. As vitrines ganharam um luxo brega e os artigos são mais populares. As pessoas continuam apressadas mas nem de longe lembram aquelas da minha infância... os trajes formais foram substituídos por camisetas com frases desconexas em inglês e jeans descoloridos; as moças ostentam trajes que beiram à indecência – e olhe que eu não sou moralista. Bonés completam essa indumentária despojada dos jovens. Não existe mais elegância nem sofisticação e a educação de outrora deu lugar a empurrões e cotoveladas como se fossem a coisa mais natural do mundo.

Pelos cantos, os mendigos parecem dormir tranquilamente em meio ao burburinho, cobertos de andrajos, exalando odor desagradável. Topamos com moradores de rua usando drogas sem se incomodar com quem esteja por perto. Chegam ao cúmulo de armar barracas de camping para fazer uso de entorpecentes, entupindo o espaço público e que, por isso mesmo, é de todos e não de alguns. Camelôs completam esse cenário próximo do caos, apregoando mercadorias falsas a plenos pulmões.

Minha querida São Paulo não existe mais... está às moscas! Fruto do descaso, do descuido e da ganância de governantes que só aparecem na hora do voto, a cidade simplesmente desapareceu diante da miséria e da falta de comando. Não há quem ande despreocupadamente por alí, sem temer pelo assalto a seus bens pessoais ou mesmo pela integridade física.

Enquanto isso, temos que conviver com a cantilena do “politicamente correto”: o drogado é doente, a prostituta é fruto do sistema, o andarilho é um coitado, o camelô é um trabalhador. Ainda que envoltos num manto de ilegalidade, nenhum deles deve ser incomodado. O conceito de espaço público é esticado até o ultrapassar o limite do suportável.

Honestamente, eu me questiono se não nos tornamos escravos de conceitos e escondidos atrás do manto da hipocrisia, aceitamos de araque tudo o que nos surge à frente. Eu não conheço uma só pessoa, do meu círculo de relacionamentos, que concorde com essa situação.

O que é que está faltando? Falta coragem para dizer o que pensamos, de exigir o retorno dos valores que cultivamos desde nossos avós, nossos pais... nossos antepassados.

Estamos vivendo a ditadura da mídia televisiva onde os canais de comunicação mais influentes nos ditam o linguajar, as gírias, a moda e os costumes. Aceitamos que nos digam o que devemos pensar como certo e o que devemos considerar errado. Quem leu George Orwell sabe do que estou falando!

Não podemos aceitar, cabisbaixos, essa revolução cultural às avessas, onde literalmente o rabo balança o cachorro!

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O escândalo do "mensalão"

A prisão dos “mensaleiros”, ocorrida no último final de semana, tem provocado um alvoroço danado no meio político brasileiro.

Para quem está chegando agora ao assunto, o Processo do Mensalão foi o maior escândalo levado a público e envolveu dezenas de políticos com mandato popular ou ocupando postos de destaque no Governo Federal – além de empresários e funcionários públicos de alto escalão. Ao todo, nada menos do que vinte e cinco pessoas.

Da denúncia feita por um Deputado Federal - também envolvido no crime de desvio de verba pública - até a prisão, foram oito longos anos de desgastante lide judicial, de recursos, de julgamentos, de mais recursos e debates públicos acerca do tema. Cidadãos comuns puderam assistir às sessões de julgamento na mais alta Corte de Justiça, transmitidas ao vivo pela televisão e se acostumaram a termos jurídicos rebuscados, entendendo-lhes o significado e formando sua própria opinião.

O que mais impressiona é o fato dos políticos presos representarem o papel de injustiçados, se autodenominando presos políticos.  Pisando duro a caminho da cadeia, afrontaram a dignidade dos brasileiros honestos, proferindo palavras de ordem ou fazendo gestos que lembram a velha ideologia facista, numa cópia tupiniquim do Sieg Heil nazista, a famosa saudação ao Führer.  

Não imagino um só brasileiro de bem que possa hipotecar algum tipo de apoio a esses meliantes engravatados, que mesmo condenados e mantidos sob cárcere, insistem em conservar a soberba de outrora. Aliás, essa é característica inequívoca da maior parte dos políticos brasileiros: uma vez eleitos, se distanciam do povo – do qual só se reaproximam na hora do voto.

Enoja constatar que mesmo julgados e condenados - atrás das grades! - lutam para ter de volta as mordomias, ainda que à sombra do Poder.

Mantido sob os holofotes da Imprensa, inclusive internacional, o que se espera é que tudo isso não seja um teatro eleitoreiro com vistas à eleição presidencial de 2014: em tese, a manutenção de aliados do Governo na prisão ensejaria princípios de honestidade, na velha teoria de cortar na própria carne, extirpando os males pela raíz. O receio é que após as eleições aconteçam malabarismos jurídicos para relaxar as prisões, devolvendo esses criminosos às atividades de sempre.

Por enquanto, a prisão dos envolvidos no escândalo do Mensalão provoca na Sociedade um sentimento bom de que a Justiça está sendo feita e servirá de parâmetro para outros crimes envolvendo o patrimônio público que, em última análise, é de todos nós.

Não sou descrente mas sou reticente. Afinal, acostumado por toda uma história de desmandos, acordos espúrios e corrupção, é difícil acreditar no fechamento da já famosa “Pizzaria Brasil”.  Nem de longe quero vislumbrar que algum desses meliantes possa sair da jaula e se tornar um mártir, aclamado num palanque e ocupando algum cargo público outra vez.


Se isso acontecer, juro que me mudo para Marte.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Nada mudou

Faz algum tempo que não escrevo e se isso acabou acontecendo foi por falta de estímulo. O Brasil anda num marasmo muito grande e a rotina dos fatos e escândalos repetitivos me leva a pensar se compensa ficar debatendo sempre as mesmas coisas. Nada muda, não existe nada de novo, apenas roupagens novas para velhos manequins.

Em junho deste ano, pensei que estivesse nascendo um momento diferente em nossa História, com os jovens saindo às ruas para reivindicar diminuição nas passagens dos transportes públicos das principais cidades brasileiras. Aquilo pareceu um movimento cívico de relevância, a juventude comprometida com os destinos políticos do País, engrossando as reivindicações ao exigir moralidade nos atos públicos, combate à corrupção generalizada e prisão dos processados pelo conhecido escândalo do “mensalão”.

Foi tudo muito bonito.

Infelizmente, só isso. Tudo não passou de uma grande encenação pois na vida prática não mudou absolutamente nada. A única coisa que aconteceu foi a redução de míseros vinte centavos nas passagens dos transportes coletivos. Não foi efetivada qualquer medida de combate à corrupção nos mais variados setores, nenhuma medida para resgatar a moralidade pública e os já condenados pelo “mensalão” não só continuam soltos como conseguiram anular o julgamento para promover um outro, que levará - sabe Deus! - quantos anos para ser concluído.

Até mesmo certas pessoas que se mantiveram silentes durante todas aquelas manifestações e passeatas – ainda que figurassem como principais alvos de ataque, agora resolveram dar o ar da graça: ressurgindo nas manchetes e dando palpites na vida política do País.

Como no velho dito popular, “está tudo como dantes no Quartel d`Abrantes”.

Estou começando a concordar com os turistas que enxergam o Brasil como “o País do Carnaval”: só futebol e cachaça, samba e mulher pelada.


É isso aí.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O presente

Muitas vezes, quando eu era pequeno, via o anúncio de um brinquedo pela televisão ou me encantava com alguma coisa numa vitrine e pedia aquelas coisas ao meu pai. Eu não me recordo das evasivas dadas mas minhas táticas de convencimento quase nunca resolviam e o regalo não vinha.
Um pouco mais tarde – e eu devia ter lá meus cinco ou sete anos – meu pai resolveu ser mais honesto comigo e confessava: “Papai não tem dinheiro para comprar agora; quem sabe mais tarde...”.
As despesas da casa não deviam ser poucas e às vezes ele ficava mais nervoso com as solicitações várias e deixava escapar: “vocês pensam que eu tenho maquininha de fazer dinheiro?”
Assim, eu cresci tomando consciência de que para se conseguir alguma coisa, além de merecer, era necessário ter meios para adquirir aquilo – em outras palavras, ter dinheiro.
Dessa forma, nunca mais pedi nada pois sempre fui muito prático: o que eu pedisse não viria mesmo! Além disso eu ficava com pena porque via no meu pai um semblante de desapontamento, de impotência por não ter condições materiais de atender além do estritamente necessário.
Aprendi a esconder meus desejos, a sufocar meu ímpeto ou qualquer demonstração de interesse pelos brinquedos, joguinhos e passeios: aquilo tudo teria um custo e era melhor não pedir do que escutar uma negativa.
O que vivenciamos na infância molda nosso caráter, se solidifica na adolescência e se reflete na vida adulta. Desde cedo passei a dar valor ao merecimento, à subordinação de hierarquia, à possibilidade de aquisição e à conquista. Não entendo como hoje as crianças e adolescentes têm tudo o que querem e ainda acham que merecem mais e mais. Mesmo não tendo lido nenhum ensinamento de Jean Piaget, meu pai fazia o mais correto: usava de honestidade para expor uma situação. Ao falar francamente que não tinha dinheiro, deixava claro o motivo pelo qual não me dava alguma coisa: não é que eu não merecesse; ele é que não podia – acariciando meu ego e se colocando numa posição coadjuvante.
Essas variações todas, no tabuleiro da vida, talvez possam explicar como sou hoje. Sou réu confesso: talvez eu seja um pouco severo demais comigo mesmo, não guardo expectativas e meus sonhos são contidos. Na minha cabeça há um torvelinho de pensamentos e divagações mas não permito que escapem para que, antes de mais nada, não causem decepção por não se concretizarem. Sou tímido, metódico, cuidadoso e extremamente analítico.
De todos os presentes que meu pai não me comprou, ficou o mais importante porque brotou de seu exemplo: a felicidade de ser honesto, íntegro: isso sim, é tão valioso que não pode ter preço!

Obrigado, pai - valeu! 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Picadeiro Brasil

O Brasil foi notícia na maioria dos jornais internacionais nestas últimas semanas. Um país calmo e pacato, interessado apenas em futebol e carnaval, cerveja e praia, de repente viu milhares de pessoas nas ruas, protestando contra aumentos abusivos do transporte coletivo, corrupção no setor público e votação de matérias no Congresso Nacional.
Multidões entupiram importantes avenidas das grandes capitais carregando faixas e cartazes censurando atos praticados por políticos, exigindo tomada de posição acerca de assuntos importantes para a Sociedade, bradando palavras de ordem.
Afinal, o que está havendo?
Está havendo é que o povo brasileiro, em sua esmagadora maioria, resolveu dizer “não” a décadas de desmando, corrupção e desdém para com a coisa pública. O povo cansou de assistir pacificamente a criação de impostos e mais impostos sem ter nada em troca. Somos o país com uma das maiores cargas tributárias do planeta e os últimos em Educação, Saúde e Segurança. Se os impostos são justamente para manter a máquina pública para que tenhamos tudo isso, onde está, onde foi nosso dinheiro?
Vivemos num país de contradições, em que uma pequena parcela da população vive nababescamente, enquanto a maioria se sacrifica apenas para pagar suas contas – e impostos. O desnível social em nosso País é abissal: enquanto alguns privilegiados têm dinheiro para comprar jatinhos particulares, outros andam descalços por faltar uma sandália.
É isso o que está ocorrendo: o povo brasileiro percebeu que, ano após ano, vem sendo enganado nas eleições por gente desonesta e despreparada para exercer o Poder, para comandar suas cidades, seus Estados e seu País.
Eu senti orgulho de ver os jovens engajados numa luta em pról da Sociedade, destemidos e com argumentos incontestáveis. A minha geração não foi capaz disso; reclamávamos debaixo das cobertas, nossas críticas eram veladas, feitas no núcleo da família e dos amigos. Essa moçada, não: enfrentou as balas de borracha, bombas de gás e os cassetetes implacáveis da polícia com muita dignidade.
Agora que o povo tomou coragem de sair as ruas e mostrar o descontentamento, temos que tomar cuidado para não deixar essa chama apagar e não permitir que haja oportunismos. Por certo haverá a tentação de surgir, entre alguns integrantes desses movimentos, a candidatura a algum cargo eletivo – mas esse filme nós já vimos. Daqui não podemos mais retroceder: basta de populismos, de promessas tôlas e risos fáceis, já que não é essa a representatividade que queremos.
Para ser representante do povo brasileiro, há que se ter capacidade, integridade e, acima de tudo, honestidade de princípios.

Cansamos de servir de palhaços neste grande picadeiro que se chama Brasil.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Pressa


Dia destes tive a oportunidade de assistir a um trecho de uma palestra do professor Mario Cortella (procurem no Youtube...). Ele é ótimo e entre tantos assuntos interessantes, nos fala do tempo das coisas e de como é essencial que as crianças participem disso para terem noção de que para tudo existe um tempo; nada surge de repente, como que por mágica.
É verdade, tudo tem um tempo de amadurecimento. Uma flor que se planta, uma refeição que se prepara, um estudo que se inicia.
Se alguém já teve a oportunidade de observar, a Natureza nos dá lições maravilhosas desse mecanismo de esperar para ver as mutações. Comece a olhar à sua volta e verá que interessante acompanhar o desenvolvimento daquele arbusto que você plantou, da flor que dele desabrocha. Nada acontece de um dia para o outro mas temos transformações quase imperceptíveis diariamente, mostrando que somente o tempo confere solidez. O tempo é capaz de transformar, de materializar e de solidificar. Não adianta querer alterar isso porque é uma lei da Natureza... é algo divino e indiscutível.
A vida, a nossa vida segue esse mesmo princípio. Nascemos sem saber absolutamente nada; talvez sejamos os seres mais indefesos de todo o Planeta, temos total dependência de nossos pais – principalmente da mãe – durante toda a nossa infância e boa parte da adolescência. Ao contrário de outros seres vivos com quem dividimos a Terra, parece que não temos instinto – os cientistas preferem chamar de inteligência – mas temos que aprender as coisas dos mais experientes e aí podemos aperfeiçoar isso, alterando ou modernizando técnicas, adequando aos nossos tempos.
Por isso, não adianta querer dominar um outro idioma em três semanas ou usar uma técnica mirabolante para ficar rico em dois meses. 
Nunca se esqueça: qualquer obra humana demora. Michelangelo levou quatro anos para pintar os afrescos que compõem a Capela Sistina; os grandes mestres da literatura também demoravam para concluir suas obras; a Igreja da Sagrada Família, de Barcelona, teve sua construção iniciada em 1882 e não foi terminada até hoje (2013), só para citar alguns exemplos.
Temos que respeitar o tempo; não há que se ter pressa. É dele a decisão de quando as coisas acontecerão e não adianta tentar alterar sua mecânica: ele é exato e absoluto, conclusivo e implacável.
E você, já fez esse balanço na sua vida? Como tem aproveitado o seu tempo?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

A reunião


Quando eu comecei a trabalhar, aos dezesseis anos de idade, foi no escritório de uma renomada empresa do ramo têxtil aqui em São Paulo.
Tudo lá era muito pomposo: tínhamos que ir trajados de gravata; jeans e tênis eram proibidos. As mulheres também só usavam roupas sociais. Os superiores tratavam a todos por “senhor” e “senhora”, não havia nenhum tipo de intimidade, algo que ensejasse alguma aproximação. Eu achava estranho ser chamado assim... de “senhor” – afinal, eu era um adolescente! Mas era assim, tudo era muito circunspecto.
Era o tipo de ambiente comum naquela época: as pessoas mantinham-se numa postura respeitosa umas com as outras e o trabalho fluía assim. Não fosse o cansaço de conjugar o trabalho com meu primeiro ano noturno de curso colegial, eu teria ficado lá muito mais tempo. O salário era péssimo mas havia sempre a oportunidade de crescer dentro da empresa.
Às vezes os chefes se fechavam numa sala para conversar, discutir coisas do trabalho, sei lá. Muitos sisudos, os colegas comentavam que eles estavam ocupados em reunião.
Aquele termo ficou na minha cabeça: em reunião.
Eu ficava imaginando quando é que eu seria tão importante a ponto de participar de uma reunião. Sonhava em ter meu lugar naquela mesa imensa, de madeira pesada e escura, com o Presidente da empresa na ponta, avaliando e determinando os rumos a serem seguidos, o vislumbre de crescimento da companhia. Eu ouviria e seria ouvido, minhas opiniões levadas em conta, participaria, teria meus breves instantes de sucesso.
O tempo passou, eu saí de lá, terminei meus estudos, trabalhei em outros lugares. Modernamente as coisas mudaram muito. Em geral, todo mundo trabalha de tênis e usa os jeans mais surrados do armário. O formalismo de outrora deu lugar a gírias, os tradicionais e sinceros apertos de mão foram substituídos por malabarismos de dedos que estalam, giram e se batem no ar. Não é raro que se vejam pessoas com fones de ouvido escutando suas musiquinhas favoritas ou plugadas num celular que nunca para de tocar.
Entretanto, tem uma coisa que mudou mais do que tudo: as reuniões. Às vezes as pessoas não querem atender alguém na empresa e pedem: “fala que eu estou em reunião”.
A reunião! Aquele momento tão mágico quanto solene, hoje serve como esconderijo, como desculpa para não se atender uma pessoa ou – pior – para se livrar dela. Tudo virou “reunião”. Duas pessoas tomando cafezinho, contando piadas lá no canto da sala, isso já é considerado reunião...
Acontece muito onde eu trabalho e sou obrigado a dizer às pessoas que fulano não vai poder atender pois está “em reunião”. Noto a tristeza na voz das pessoas ou sinto o olhar de decepção caso estejam presentes pois no fundo, ninguém é bobo e existe plena consciência de que se está sendo enrolado: elas procuram soluções para seus problemas e nem podem expor seus argumentos por causa da tal reunião que sequer existe. “Em reunião” sinaliza uma dispensa sumária; se você ouvir isso por pelo menos três vezes e sem um retorno daquela pessoa, desista!
Isso projeta meu pensamento diretamente para todos esses colegiados que existem mundo afora, confabulando horas a fio, sempre em reunião... e nem sempre com os resultados que esperamos.
Que tristeza, não? O futuro de alguém pode depender apenas de um instante de atenção mas fica alí, pendurado no descaso, refém daquele instante de prepotência que se apodera de alguns seres humanos, eternamente... em reunião!

sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher


Hoje é o Dia Internacional da Mulher.
Já tive a oportunidade de escrever sobre isso anteriormente; eu não concordo com a data – aliás não concordo com datas comemorativas de forma geral.
Neste dia as mulheres todas recebem atenção, botões de rosa, bombons, verdadeiras declarações de amor de seus maridos, filhos, chefes, subalternos, amigos e etc.
Se duvidar até o Porteiro do prédio se apressa em cumprimentar as moradoras e o Ascensorista do escritório também não vai deixar a data passar em branco.
E nos outros dias?
Ah, nos outros dias a mulher volta a ser escravizada pelos compromissos, soterrada por inúmeras obrigações, prisioneira de sua família, enlouquecida pelo binômio casa-trabalho. Quase ninguém se lembra dela como mulher.
Teoricamente liberta nos anos 60 com a revolução sexual liderada por Betty Friedan no seu emblemático livro A Mística Feminina (1963), a mulher se viu, de repente, presa no emaranhado da vida moderna, compromissada com o desenvolvimento de uma sociedade que ela ajudou a criar.
A partir daí, a mulher abandonava definitivamente a vida doméstica e o cuidado exclusivo do lar e filhos para ser cada vez mais atuante no mercado de trabalho, onde conseguiu se firmar com espantosa velocidade. De forma irreversível dava adeus ao sossego da casa para se tornar empresária, profissional liberal ou executiva tomando importantes decisões.
Assim, muito particularmente acredito que o Dia da Mulher não pode se resumir num único dia – mas deve ser comemorado todos os dias! Basta de hipocrisia pois mulheres e homens não são rivais mas sim parceiros, ambos trabalhando em pról de um mundo melhor para todos.
Por isso o meu discurso é um pouco diferente: parabéns às mulheres não só por hoje mas por todos os dias, agradecendo pela companhia nessa nossa caminhada pela existência terrena! É graças à mulher que o mundo evolui com mais harmonia, graça, sabedoria e equilíbrio!
Precisa algo melhor?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Dura Lei, Seca Lei...


Se você gosta de sair e se divertir com sua família, seus amigos, adora aquelas reuniões bem animadas num restaurante ou na sua pizzaria preferida, pode esquecer aquele choppinho gelado ou a brasileiríssima caipirinha: não vai poder dirigir seu carro na volta.
O bom e velho scotch só em casa e o vinho foi banido na mesa daquele jantar romântico – ou o motorista de táxi vai ser testemunha das confidências mais íntimas.
Cuidado também com o bombom recheado de rum na festinha de aniversário do seu sobrinho e nem pense em usar enxaguante bucal antes de sair do escritório: se você for flagrado por uma blitz da Lei Seca, corre o risco de ser preso.
É certo que o endurecimento no tipo de conduta do motorista brasileiro precisava ser feito – ainda que tardiamente. Foram muitos os acidentes provocados por condutores alcoolizados com a perda de milhares de vidas; não há como discordar que a legislação precisava ser mudada. Se as pessoas não têm bom-senso, responsabilidade e autocontole, não resta outra alternativa senão o rigor da lei. A partir de agora, dirigir no Brasil virou coisa séria: a tolerância ao álcool é zero. Qualquer índice superior a 0,05 mg de álcool no sangue vai fazer você perder seu direito de dirigir por um ano, além de multa e retenção do carro. A partir de 0,34 temos flagrante de crime por embriaguêz. Não vale a pena arriscar, não é mesmo?
Mas eu fico pensando numa coisa: a fiscalização da Lei Seca, a cargo da Polícia Militar, só ocorre no período noturno e nas primeiras horas da madrugada. Entretanto, se isso fosse feito até mesmo durante o dia, muita gente seria parada e enquadrada na nova legislação.
Você duvida?
Vamos imaginar a seguinte situação: você sai para uma festa e lá encontra seus amigos, conversa, come alguns canapés e bebe; toma lá umas três ou quatro doses de uísque e  depois ainda participa do brinde com o anfitrião tomando champagne. Voltar para sua casa não é problema: sua namorada, que não bebeu, volta dirigindo seu carro em absoluta segurança. No dia seguinte, cedo, você acorda, toma um banho, se veste e vai trabalhar com seu carro. Será que não sobrou vestígio de álcool no seu corpo? A resposta é positiva, sobrou sim! Se você for parado às oito horas da manhã e tiver que soprar o etilômetro – bafômetro para os íntimos – haverá alteração e, dependendo da quantidade de álcool, poderá ser até tipificado como crime, irá preso e responderá a Processo.
Exagero? Pode até ser mas acredite... é assim mesmo! Se você se dispuser a fazer uma pesquisa na Internet, vai constatar que um copo de cerveja, que tem só 4% de teor alcoólico, demora uma hora para sair completamente de seu organismo. Destilados como uísque, vodka ou cachaça possuem teor alcoólico muito superior, acima de 40% e, portanto, demora muito mais para deixar seu corpo “limpo”. A Polícia Rodoviária Federal preconiza um intervalo de doze horas, após a ingestão de álcool, para que você volte a dirigir.
Somos um País de gente que, na sua maioria, bebe. Temos isso arraigado, é uma coisa cultural. O álcool sempre foi socialmente aceito e símbolo de alegria, comemoração, entrosamento. Ligado a acontecimentos felizes, o excesso de álcool é quase sempre o responsável por grandes tragédias no trânsito, com acidentes pavorosos que ceifam a vida de inocentes.
Só que não basta nem a existência da Lei, temos que limitar nossas comemorações em função de nossos semelhantes. Ah, mas a legislação não é muito dura? Talvez seja sim e  é bom que ela nos sirva de alerta. Vamos tirar deste momento uma lição para respeitar a integridade e a vida do próximo e a nossa, também.
Um brinde à vida!