sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

2013


Não gosto de finais, de términos. Nunca gostei. Desde criança a sensação é a mesma: quando algo acaba sempre deixa um vazio, uma coisa meio incompleta, fora um sentimento de tristeza – também inexplicável.
Quando estava na escola era época de provas finais, a progressão de uns e a retenção de outros: partida para uma série nova, nova classe, nova sala, novos colegas e novos professores – e tinha que começar tudo de novo...
No campo de relacionamentos os términos são a maior tortura: não gosto de sofrimento, de dor, de saudade.
Dizem que o velho dá lugar ao novo e talvez seja isso o que me assusta: não lido muito bem com novidades e me sinto mais seguro pisando em terreno conhecido.
Devo confessar, entretanto, que estou torcendo para este ano de 2012 acabar logo. Foi um ano péssimo, tive muitas derrotas pessoais, íntimas. Conflitos acabaram na pior solução possível e se isso me trouxe amadurecimento também provocou mais cabelos brancos do que eu gostaria...  Decididamente, não vai ser um ano para se guardar na memória.
É claro que não posso – e não vou – esquecer de pessoas que conheci, das que me ajudaram quando mais precisei e das que me viraram as costas também! Positiva ou negativamente, todos contribuem para nosso crescimento interior: aprendemos a ser mais espertos, mais conectados.
Como todo final de ano – todo!!! – ouço sempre as mesmas coisas, de que o ano novo vai ser diferente, mais cheio de esperanças e repleto de realizações. Juro que esboço um sorriso bem próximo da sinceridade mas uma dúvida sempre me assusta... será que vai ser, mesmo?
Longe de parecer pessimista, vou logo dizendo que encaro as coisas com realismo, parâmetros bem distintos.
Assim, o que posso desejar a todos, longe de um pieguismo totalmente dispensável, é que 2013 seja um período bem legal de suas vidas e que consigam passar por ele sem grandes problemas – aí sim, dando vazão àquela esperança, sentimento tão gostoso e necessário para nossa sobrevivência. 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

O fim do mundo


Pois é.
Falaram tanto, tanto e tanto... arquitetaram mil coisas, estudos, conjecturas. Cientistas foram convocados, religiosos se manifestaram, reportagens foram feitas. O assunto foi motivo de filmes, documentários e especiais. As emissoras de televisão enviaram seu pessoal aos quatro cantos do planeta, pessoas foram consultadas nas ruas, enquetes nos sites da Internet. Os videntes deram asas à imaginação, jogaram búzios e cartas, acenderam incensos e velas. Os mais fanáticos estocaram comida em celeiros subterrâneos.
No fim, tudo em vão.
O mundo não acabou.
A suposta previsão dos Maias, feita há milhares de anos, de que o mundo terminaria oficialmente hoje, não se concretizou. Pelo menos não até agora...
Talvez eu esteja escrevendo esta crônica e ninguém a leia pois na metade do texto a Terra seja de fato destruída e a raça humana desapareça para sempre do Universo.
Até que não seria má idéia; assim teríamos chance de uma nova raça, melhor do que esta, cheia de vícios e imperfeições. Poderíamos ter um outro planeta com gente honesta, decente, de coração puro e sentimentos nobres, em sintonia com uma escala de evolução permanente.
Deixaríamos de vez a a ignorância, a ganância e os sentimentos materialistas que levam à corrupção. Não compactuaríamos com as formas totalitárias de governo que escravizam o povo em ideologias falidas. Não teriam vez aqueles que sugam a sociedade em troca de mentiras deslavadas, travestidos de bonzinhos. Diríamos não à segmentação feita através da cor de nossa pele, de nossa estatura ou de nosso peso, pela cor de nossos olhos ou condição social que possuímos.
Teríamos um mundo mais justo sem que houvesse uma igualdade obrigatória, mesmo porque cada um deve se esforçar para melhorar individualmente como pessoa e como espírito.
Mas para termos tudo isso não é necessário esperar que o mundo acabe! Podemos mudar nossa atitude a partir de agora e começar a agir de maneira diferente hoje mesmo; certamente as vibrações positivas contaminarão as pessoas aos poucos mas decisivamente, de forma constante. Podemos começar isso dentro da nossa casa, com nossos parentes, nossos vizinhos, dedicando a eles mais atenção e mais carinho, não deixando morrer aquela centelha de amor que todos nós temos no coração.
Se você já leu até aqui isso quer dizer que o mundo não acabou, mesmo...
Vamos tentar essa mudança, já?

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

As curvas e os sonhos


O universo da Arquitetura perdeu, nesta última quarta-feira, 5 de dezembro, um de seus expoentes: Oscar Niemeyer deixou órfãos milhões de pessoas em todo o planeta, que se encantaram com suas obras magníficas.
Entretanto, o que mais chamava a atenção nesse carioca de Laranjeiras com certeza ia além das curvas mágicas que fez nascer em sua prancheta mas a determinação diante da vida.
Niemeyer conseguia sintetizar numa frase conceitos muito fortes sobre a existência humana e nos fazia viajar na sua filosofia pura e verdadeira. Sua vontade de viver estava acima de tudo – “Amo a vida e a vida me ama. Somos um casalzinho insuportável.”, disse certa vez.
Mesmo quando de sua derradeira internação em hospital, aos 104 anos de idade, ele queria ir embora logo afirmando que precisava trabalhar, num exemplo ímpar àqueles menos acostumados à labuta.
E é esse mesmo dinamismo que fica para nós, a imagem de um homem obstinado pelo belo, pelo novo, pelo sonho. Justas as homenagens que se prestam a ele neste instante e por mais que se diga, nunca se dirá tudo a seu respeito.
Pois é, Niemeyer... você nos deixou tanta coisa bonita e eu fico aqui, tentando compor uma arquitetura de palavras para definir – mas isso é quase impossível porque, como bem disse Chico Buarque, você foi maior que sua arte. Assim, as palavras são pequenas para garantir às suas obras o esplendor que elas possuem.
Temos pelo menos um consolo: os gênios não morrem.
Até um dia, camarada!


sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Leis para os honestos


Ando meio cansado dos noticiários aqui no Brasil. Já repararam que não tem notícia boa? Só se fala em crimes: assaltos, gente morta em tiroteios, tráfico de drogas e de influência, corrupção, desvio de dinheiro público e por aí vai.
Aí surgem os especialistas clamando por mais leis para disciplinar este ou aquele comportamento, para punir com mais severidade crimes mais impactantes. Não se poupa vernáculo chamando à razão os políticos para ampliação do conjunto de leis – que na ótica deles diminuiria a criminalidade ou acabaria com a corrupção.
Particularmente eu não concordo com isso. Não precisamos de mais leis, é necessário apenas que se apliquem as já existentes. Uma enxurrada de normas só leva à confusão, num atropelo que pode até favorecer o culpado porque se sobrar uma brecha, é alí que se envereda em benefício do réu.
Não tem que criar mais leis, tem é que acabar com o universo de recursos que só atravanca o processo. É culpado, tem isso provado? Então, pague, seja quem for! Bandido não tem que ser tratado como príncipe, não tem que dar entrevista na televisão.  
O que eu acho que está faltando no Brasil são leis para pessoas honestas. Isso mesmo: leis que beneficiem também as pessoas honestas.  É comum acompanhar algum caso mais rumoroso e notar que de repente se fala menos e menos sobre aquilo, até que acaba caindo no esquecimento; de repente você fica sabendo que o suspeito foi beneficiado com alguma artimanha jurídica.
Quando se fala em corrupção é que a coisa desanda mesmo: por mais que esteja provado que algum agente político desviou dinheiro para o próprio bolso, os processos se arrastam por anos a fio, há recursos intermináveis e prazos dilatados. Ninguém é punido, ninguém é preso e o dinheiro não retorna aos cofres públicos.
Essas ocorrências causam enorme frustração para a parcela de pessoas decentes deste País; afinal, são elas que dão sustentáculo à Nação, operários do bem que trabalham, produzem riquezas, geram empregos e pagam impostos.
E o que queremos?
Queremos que haja mais equilíbrio na avaliação dessas questões, que o Judiciário não demore tanto para julgar os processos que são levados a seu exame. Queremos um Estado soberano, honesto e limpo, uma instituição em que a população possa confiar e não ter que se submeter às nefastas estruturas do “jeitinho”. Queremos viver nossa vida por inteiro, felizes e com a consciência tranquila, certos de que nossos sacrifícios diários não estão sendo em vão. Queremos não ser feitos de bobos.
É pedir muito?

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Café da Manhã


- O que aconteceu com sua mão direita?
- Como assim?
- Você está mexendo o café com a colherzinha na mão esquerda... machucou a direita, onde?
- Em lugar nenhum... estou com a mão direita ocupada folheando o jornal, não está vendo?
- Por falar em ler, não deveria forçar os olhos assim; já está precisando usar óculos!
- Eu não preciso de óculos... às vezes uso um para descansar a vista no computador mas não tenho nada nos olhos...
- Tem controlado seu diabetes?
- Eu não tenho diabetes!!!
- Você pode não saber... mas e se tiver? Pode até causar problemas nas juntas dos dedos, sabia? Prejudica a visão...
- Ah, vai dar uma de médica, agora???
- Querido, eu me preocupo com você, só isso...
- Não, você não se preocupa... você fica fazendo exercício de adivinhação, tentando saber até o que eu estou pensando... isso é que vem abalando nosso casamento nestes anos todos! Você nunca é direta, fica falando desse jeito... parece que me provoca o tempo todo!
- Está escondendo alguma coisa de mim?
- Escondendo o quê???
- Não sei... por isso estou perguntando. E responder uma pergunta com outra é típico de quem tenta ocultar algo mais grave...
- Meu Deus... virou Psicóloga agora, é?
- Não ironiza...
- Eu não ironizo, eu constato!!!
- Como foi a consulta, ontem?
- Consulta? Mas que consulta?!?
- Você disse que ia a uma consulta médica ontem à tarde...
­- Ahnnn...é... bom... a secretária do médico me ligou desmarcando...
- Hummm...
- Quem está ironizando, agora?
- Não estou ironizando nada... eu também constato. Tudo começou por causa da sua mão esquerda...
- Ai, meu Santo!!! Tenha paciência!!! De novo??? Que tem a minha mão esquerda???
- Cadê sua aliança???

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eleição... eles são...


Estamos às vésperas de mais uma eleição para Prefeitos e Vereadores, no Brasil. Para quem não sabe muito bem as funções de cada cargo, basicamente os vereadores compõem um colegiado para apreciar projetos de interesse das cidades e aos prefeitos cabe gerir administrativa e politicamente essas mesmas cidades, de modo a possibilitar que seus habitantes tenham qualidade de vida e bons serviços públicos. É para isso que pagamos impostos.
Àqueles que ficam em dúvida sobre este ou aquele candidato, analisando uma série de fatores, eu posso dizer tranquilamente que não se preocupem tanto pois todos, sem qualquer exceção, prometem as mesmas coisas, desde sempre.
Isso mesmo. Se alguém perder – se é que já perdeu – um tempo vendo os programas políticos obrigatórios na televisão, vai entender o que eu estou dizendo. Todos os candidatos prometem investir na Educação, na Saúde, Segurança,  na questão da moradia, no transporte público, entre outras “mesmices”.  Assim, há de se concluir que qualquer um deles serve para nos representar; aí a coisa vai de simpatia pessoal.
Infelizmente, o que temos assistido nas últimas décadas é uma dança de cadeiras – mais nada. Mudam os nomes, os rostos mas as propostas e a realidade permanecem,  até uma próxima eleição, quando as mesmas promessas são renovadas.
Está mais do que na hora de darmos um basta nessa situação porque as pessoas só trabalham, pagam gorda parcela de impostos e nada muda. Tudo o que é público é ruim, defasado, relegado a segundo plano. Se votamos nesses candidatos pelas promessas que fazem, onde estão nossos serviços de Saúde exemplares? Cadê a Educação que todos prometem a cada quatro anos? Quem é que pode contar com a Segurança?  A verdade escancarada é que as cidades não precisam de políticos mas sim de gerentes, pessoas que a Sociedade pudesse contratar e demitir como em qualquer empresa privada. Não cumpriu as metas? Sinto muito, amigo...
O próprio Estado deveria dispor de mecanismos eficazes para exigir dos políticos o cumprimento das promessas de campanha e responsabilizá-los caso isso não ocorresse. 

No Brasil, cargo eletivo virou emprego e – pior! – em alguns casos, hereditário. Quando o patriarca, por algum motivo, não pode mais se candidatar, lança o filho e assim por diante.  E na cabeça das pessoas mora uma ilusão, que faz crer que “agora vai ser diferente”.  Não se iluda... não vai ser diferente; vai ser a mesma coisa.
Você não acredita? Duvidou do que eu escrevi? Acha que eu sou pessimista?  Então, guarde bem os nomes daqueles em quem você vai votar... e a gente conversa na próxima eleição, tá bem?

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Estrela e a Lua


O vento leva as nuvens
e esconde minha estrela,
que brilhava intensamente
entre sonhos e desejos (meus).
Fico triste.
O mesmo vento
que encobre de negro a estrela
faz surgir a Lua,
fulgurante e pacífica,
alegre e faceira,
sedutora e madura.
Desisto da estrela?
Por certo que sim!
Para que chorar o brilho fugaz
de uma estrela que se esconde
e que se anula a si própria
quando tenho a Lua, mais poderosa,
que me chama, romântica,
entre sorrisos meigos e mãos macias?
Minha Lua tem nome,
tem rosto e tem coração.
Tem abraço e beijo,
minha Lua é terna,
minha Lua é mulher.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

A Mudança

A sala ficou pequena de repente com tantas caixas atulhadas. Estava tudo meio empilhado, fora de ordem, um desalinho só. Sem etiquetamento nem qualquer identificação aparente, tentava adivinhar o que estava dentro de cada uma daquelas embalagens – em vão.
Passeava a esmo pelo apartamento vazio de mobília, observava cada canto fazendo inevitável comparação com o anterior.
De repente a vida deu uma guinada e teve que sair de uma relativa zona de conforto – um pesadelo, na verdade. Mas tudo bem, com calma tudo se ajeitaria, agora tinha a perspectiva de um recomeço. Talvez novos móveis ajudassem a arejar a cabeça – quem sabe até um novo amor? Estava disposto a tudo isso e mal podia esperar o momento em que tudo se concretizasse.
Os devaneios foram interrompidos pelo som irritante do interfone, que rebatia nas paredes nuas.  Era ela... havia chegado como prometera! Pontual e linda, entrou pela porta emprestando beleza e sensualidade ao lugar.
- Gostou do apartamento?
- Adorei... tudo muito lindo, uma gracinha!
- Desculpe-me pela bagunça... até arrumar tudo vai demorar um pouco...
- Eu entendo perfeitamente... Esqueceu do que eu falei? Eu sei até manejar uma vassoura, sabia?
- É mesmo? Hum... olha que as bruxas também sabem... (risos)
- Engraçadinho... Gosto do seu bom humor...
- E eu gosto desse seu charme! Quer dizer que vai me ajudar a arrumar e decorar minha casa nova? Fico feliz...
- Mas é claro! Vai ficar tudo como você gosta... simples mas de bom gosto, sofisticado sem parecer brega...
- Confio em você. Trouxe o champagne?
- Isso eu não esqueceria por nada, lembra daquele e-mail?
- Claro que sim! E não podemos beber em copo de requeijão, lembra? (risos)
- De jeito nenhum! (risos)
- Onde estão as taças?
- Ai! Eu não sei como dizer isto mas... eu esqueci de trazer...
- Bom... é... vai ser difícil encontrar alguma taça no meio desta bagunça...
- Deixe-me tentar, eu levo sorte nessas coisas. Acho que pode estar nesta caixa aqui... ah, não... talvez nesta... também não... deixe-me ver nesta aqui... ah, não falei? Achei uns copos!
- É mesmo? Não acredito... você tem sorte, mesmo!
- Bom... ih... mas... é que...
- O que foi?
- Não vai brigar comigo...
- Por quê eu faria isso?
- Os copos são de requeijão...
- O quê??? Copos de requeijão??? Ah, tem dó... tomar nossa primeira champagne no apartamento novo, em copo de requeijão???  Que decadência... que falta de requinte... não tem coisa pior!
- Acho que tem, sim...
- O quê?
- São de plástico...

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Juventude

É bom ser jovem. Você tem a vida toda pela frente, conhece de tudo, sabe de tudo, enfrenta tudo de peito aberto.
Tudo var certo e nada pode comprometer o seu sucesso. Afinal, você é jovem e o que é que pode dar errado?
Sempre haverão aqueles tolos a encher os ouvidos dos jovens sobre as mazelas da vida, a vaticinar os perigos, a antever as derrotas.  Quanta babaquice! Ser jovem significa não ter medo de nada, passar noites em claro, beber além da conta, fazer sexo sem preocupações. O dia seguinte? Ah, isso se vê depois, quando o dia seguinte chegar.
Nada de precipitações. A vida é longa e maravilhosa – precisa ser aproveitada, digerida, curtida.  Não há que se perder tempo com análises das situações: para que tudo isso, essa ansiedade?
Isso é coisa de velho.
Jovem não fica ligado em problemas. Atrasa na aula da Faculdade, estaciona o carro em qualquer lugar, vai mal na prova – só não dá bobeira quando o compromisso é com aquela festa tão esperada. Tudo é válido!
Até que chega um dia em que a juventude cede lugar à maturidade.
Largamos a casa paterna e temos que viver a nossa realidade. A prestação da casa, o carnê do carro novo, a televisão de tela plana, os filhos, a conta do supermercado, o boleto do seguro-saúde... ufa!
Ué, cadê aquela nossa vida de idealismos? Onde foi parar aquele sonho cor-de-rosa?  O cabelo longo deu lugar a um comportado conjunto de mechas grisalhas e um par de óculos invadiu nosso nariz de repente. Marcas de expressão teimam em morar no nosso rosto e trocamos as noitadas por sessões bem comportadas na academia logo cedo. A única coisa que sobrou foi o gosto pelo rock pesado.
Ficamos velhos.
Velhos, não... inevitavelmente maduros.
Aí as situações se invertem e passamos a compreender os nossos pais. Ficamos preocupados quando os filhos chegam tarde, queremos saber onde estiveram e quem são suas companhias e ouvimos algo sobre invasão de privacidade. Quando questionamos as notas baixas nos esfregam na cara as reportagens sobre novos modelos sociais, psicologia moderna e revolução nos estudos. Malditas revistas!
Juventude. Parece que esse termo carrega algo mágico e a tradução exata desse termo não consta em dicionário algum.
Sempre existirá esse choque, essa mescla de valores entre a Juventude e a Maturidade.  Acho que nunca chegaremos a um denominador comum. Os jovens sempre afrontarão a todos porque estão contaminados pela certeza que serão assim para sempre.
Não adianta tentar explicar que a vida é cíclica: jovens não têm paciência para escutar isso. No fundo, somos todos iguais, pretendemos as mesmas coisas, queremos somente nossa felicidade. E não adianta atropelar o tempo. Temos que ouvir e respeitar as opiniões mesmo que forem contrárias.
Os jovens só entenderão tudo isso quando forem maduros mas antes, devem ser jovens! Não adianta essa pretensão de inverter porque a dinâmica da vida é maravilhosa – parabéns a quem inventou esse modelo!
Só nos resta assistir essa transição, rezando para que não enveredem por caminhos muito tortuosos porque, um dia, nos encontraremos para conferir nossas apostas.
Tenho certeza disso!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Smart


Embora eu tivesse me segurado bastante, não teve jeito: cedi mesmo à tentação e comprei um Smartphone.
Não foi exatamente uma pechincha mas o parcelamento em doze vezes sem juros no cartão de crédito foi decisivo. As facilidades que a Internet oferece são irresistíveis: não conheço melhor vendedor.
Dois dias depois, antes mesmo do prometido, o aparelho chegou. Quando o porteiro avisou pelo interfone, desci rápido, todo feliz. Vim pelo elevador já rasgando a embalagem... parecia uma criança. Desembalei com cuidado e me deparei com um pequeno folheto de instruções; o manual estava no próprio telefone, teria que ligá-lo primeiro.
Mãos à obra!!!
Fiquei longos minutos olhando para o aparelhinho em minhas mãos e tentando descobrir como abrí-lo para inserir a bateria (não veio escrito como isso poderia ocorrer). Procurei por todos os lados e... nada! Consegui abrir o estojo por acaso e instalei o cartão de memória, o chip da operadora e a bateria. Fechei tudo e liguei. Uau! Ele funcionou!!! Resolvi fazer a primeira ligação mas... como? Onde está o teclado? Tudo na tela, tudo virtual – isso eu já sabia – mas tinha que ter uma dica, uma seta piscante com um aviso “aperte aqui”.  Nada. Achei um ícone escrito “Configurações”. Pensei: “ah... agora sim!” Hum... quem disse?!? Que nada, o menu de configurações é quase tão claro como inscrições rupestres. Fiquei lembrando do garoto que trabalha conosco; tem um aparelho igualzinho ao meu e faz de tudo com ele: telefona, usa a Internet, faz trabalhos de Faculdade, tudo! Como é que eu não conseguia? De repente me senti um homem pré-histórico tentando dirigir um Lamborghini.
Eu já tinha ouvido falar que quem projeta esses aparelhos todos são pessoas muito jovens, adolescentes com QI elevadíssimo e agora vejo que é tudo verdade.  Acho que eles se divertem só de imaginar as pessoas tentando se acostumar com tantos botões, configurações e palavreado em tecnologês.
Mas tudo bem. Aos poucos eu vou me acostumar com meu novo brinquedinho. Já sei ligar e desligar – é um progresso e tanto. Falta, ainda, decorar quarenta e seis botões virtuais com suas funções, etc. Depois disso posso avançar para o uso da Internet – como acessar, mandar e-mail, percorrer redes sociais, essas coisas básicas.
Agora preciso ir. Tenho que fazer uma ligação e, para isso, vou pegar meu velho aparelho celular – aquele que pretendi aposentar para usar o Smartphone. Coisas deste tempo doido, que num primeiro momento atropela até nosso bom senso – mas nunca o bom humor...

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Rio + 20

Acabou a Rio + 20.

A Cidade Maravilhosa foi palco, uma vez mais, de conferência mundial sobre o meio ambiente. Durante nove dias, de 13 a 22 de junho deste ano, Nações do mundo todo debateram acaloradamente itens de crucial importância para o desenvolvimento sustentável.

Trocando em miúdos, isso quer dizer: como sobreviver na Terra sem acabar com o planeta.

A preocupação com a saúde da Terra é antiga. O primeiro grande evento nesse sentido ocorreu em Estocolmo, em 1972. Depois, veio a Conferência do Rio de Janeiro, em 1992;  Kyoto, em 1997 e agora, a Rio + 20.

Em todos esses conclaves, a temática girou em torno de proteção do meio ambiente, redução dos níveis de poluição e favorecimento das condições de vida dos seres humanos de maneira global.

Mandatários do mundo todo se reuniram nessas ocasiões, debateram, defenderam seus pontos de vista e, pelo menos em tribuna, houve a concordância total e um veredicto único: medidas precisavam ser tomadas para salvar o planeta do caos. Ao final, o documento contendo o Protocolo de Intenções e os políticos todos posam, sorridentes, para a foto.  Flashes, mais sorrisos, outras poses, mais flashes e fim.

E o que acontece depois disso?

Nada! Isso mesmo: nada.

Por incrível que pareça, a culpa da degradação ambiental continua recaindo sobre os pobres seres humanos dos países de segundo ou terceiro mundo.  A responsabilidade sobre um tal de efeito estufa é dos flautos dos bovinos que criamos por aqui ou daquele inocente churrasco que teimamos em fazer ao reunir a família e os amigos. O ar fica poluído porque usamos automóveis ao invés de nos utilizarmos do farto transporte coletivo não poluente que o Estado coloca à nossa disposição. O solo se degrada por causa do lixo que você joga indiscriminadamente: baterias do seu celular, do seu computador e da sua máquina digital, as pilhas do seu controle remoto.

É você quem está destruindo o planeta!

Os países desenvolvidos não querem saber de pagar a conta da degradação do meio ambiente. Para se ter uma idéia, os Estados Unidos e o Japão sequer assinaram o Protocolo de Kyoto, que previa rígido controle na emissão de monóxido de carbono. Ou seja, país rico não polui.

Muito modestamente, eu continuo cobrando aqui a responsabilidade daqueles que geram a poluição. Existe todo um aparato para fomentar o consumismo e gerar riquezas para os grandes grupos econômicos mas eles ficam isentos de culpa! Todos sabemos que motor de automóvel polui mas o que é que as montadoras fazem com relação a isso? Muito se fala sobre o envenenamento do solo, causado por componentes das pilhas e baterias mas quem as fabrica está preocupado? E as indústrias que jogam seus resíduos nos cursos d´água? E os Governos que têm a obrigação de estipular normas e sanções para coibir tudo isso?

Ninguém tem coragem de bater nesse ponto: quem propicia o surgimento desse lixo é quem tem que dar um jeito de limpá-lo – e não simplesmente varrer para debaixo do tapete.

Vamos esperar pela próxima Conferência...

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pizza

Tive a oportunidade de assistir, num Programa do Jô desta semana, debate entre várias Jornalistas que abordaram, principalmente, o cenário político de nosso País.

É forçoso reconhecer que escândalos envolvendo políticos em atos de corrupção não se constituem num privilégio brasileiro: isso ocorre no mundo todo.  Tem uma pequena diferença, entretanto: em outros países não existe impunidade e as comissões de investigação são sérias, analisam e decidem num tempo razoável e os culpados são punidos.

Aqui, não. Descoberto um ato de corrupção a Imprensa faz um alarde danado e os noticiários não se ocupam de outra coisa por semanas a fio, até que ocorra um escândalo maior e mais rumoroso, ou um crime que choque demais a opinião pública ou ainda uma fofoca envolvendo um jogador de futebol ou artista consagrado.

Durante todos os blocos daquela edição do Programa do Jô pode-se ver, claramente, que as Jornalistas, acostumadas com o tema, têm a exata visão disso e elas têm certeza, também, que nada é levado muito a sério, no meio político brasileiro.

A verdade é que um escândalo encobre outro e as Comissões de Inquérito perdoam todos.

Agora voltará à baila um assunto que já virou até motivo de piada: o mensalão. Trocando em miúdos (para quem não se lembra mais ou nasceu no mês passado), tratava-se de um volume de dinheiro que era distribuído entre parlamentares para aprovação de determinadas medidas do Governo – como se isso fosse alguma novidade. Ingenuidade tem limites. Nesse esquema, estão envolvidas trinta e oito pessoas, entre políticos, empresários, banqueiros e publicitários.

O julgamento, agora, não se dará a nível político mas é técnico e será no STF (Supremo Tribunal Federal), com início em 1º de agosto deste ano. Só o voto do Relator tem mil páginas – isso mesmo, mil páginas – e, pelo que foi noticiado, o revisor dessa matéria quer propor algumas alterações em pontos desse Parecer – mil páginas. Esse calhamaço tem que ser lido integralmente.

Ocorre que existe aí um emaranhado que promete mais emoções: pelo menos dois Ministros do Supremo estão para se aposentar durante esse período de julgamento e podem desfalcar o quorum para condenação dos réus. Fora isso, alguns Ministros estão com viagem marcada e um deles pode ficar impedido de votar porque sua namorada já foi advogada de réus nesse Processo.

Como podemos perceber, toda a expectativa da Sociedade pela punição exemplar dos culpados pode terminar, uma vez mais... em pizza!

É inacreditável que um assunto desse porte, grave, que trouxe prejuízos inegáveis à Nação, seja tratado dessa foma, com leviandade.  É acintoso que a população, que é quem paga a conta disso tudo, seja obrigada a assistir um espetáculo desses – mais um, engolindo em seco mais um naco de impunidade.

Por falar nisso, vai uma de calabreza, aí, amigo?!?

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Falar é prata, calar é ouro!


Virou moda: agora, em qualquer situação mais delicada, a pessoa se vira e diz solenemente que não vai falar nada pois não é obrigada a produzir prova conta ela própria. E fica por isso mesmo.


Isso já se tornou rotina nas ruas das cidades brasileiras, quando a Polícia faz a fiscalização da Lei Seca. Soprar o bafômetro? Só de livre e espontânea vontade. Aí o cidadão é parado e mal consegue sair do carro de tão alcoolizado e balbucia tropeçando nas palavras que não vai soprar nada. O policial o conduz à Delegacia mas forçá-lo a se submeter ao etilômetro, nem pensar. Não pode. É a tal da prova contra si próprio.


E de onde vem isso? Ah, está na Constituição.  É a interpretação do inciso LXIII do artigo 5º da CF, que diz que “o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado”.  Segundo posições doutrinárias, esse direito de permanecer calado é mais abrangente e não se restringe somente à pessoa presa.  Pronto, confusão armada.


Na verdade, esse princípio de permanecer calado vem expresso no Pacto de São José da Costa Rica, de 1969, em seu artigo 8º: “Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: ... g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada;”.  O Pacto de São José da Costa Rica é um Tratado Internacional do qual o Brasil é signatário e disso decorre sua estrita observância por aqui, também.


É bom que se diga que essa Carta da Convenção Americana de Direitos Humanos apenas reforçou a máxima latina “nemo tenetur se detegere” – literalmente “ninguém é obrigado a se descobrir”.  O surgimento desse conceito se perde na História mas é correto afirmar que já tem alguns séculos e carrega um sentimento de auto-defesa que o ser humano possui desde sempre. 


Se pensarmos bem, qual a criança que, acusada de uma travessura, confessa? Ao que eu saiba, nenhuma... o mais comum é ouvirmos “não fui eu”. Algumas vão além e estendem o dedo acusatório: “Foi ele... ó...ó...ó...”. Crianças crescem e algumas delas seguem assim pela vida afora. 


Vários profissionais também emudecem ou se esquivam:


Médico: “Fizemos o que foi possível...
Engenheiro: “A ponte ruiu, é? Não fui eu quem fiz os cálculos...
Religioso: “A culpa não é de ninguém; Deus quis assim...
Dentista: “O problema é fadiga do material...
Advogado: “Agora é com o Juíz...


Alguns políticos ainda acrescentam “... não fui eu... eu não sabia de nada... ninguém me contou...”.


Agora, até malandro convocado em CPI do Congresso envereda por essa brecha e fica mais calado do que uma cachoeira.


Mas tudo é aprendizado. Experiência conta, concorda comigo?


Da próxima vez que eu for à Igreja e tiver que encarar o confessionário, ajoelho lá e fico bem quietinho...


Tá pensando que sou besta?!?

sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Golpe do Carro Novo

O Governo Federal do Brasil anunciou, nesta semana, a redução do imposto sobre produtos industrializados – IPI - para aquecer a venda de veículos novos.

Segundo noticiou a Grande Imprensa, esse foi o resultado de negociações entre as montadoras, que amargando baixas constantes nas vendas, viu nessa alternativa a mola propulsora para aquecer o mercado de veículos zero quilômetro.

Os Economistas de plantão já se manifestaram, alertando os cuidados a serem tomados por quem pretende trocar o carro usado ou adquirir o primeiro zero. Essa precaução é necessária mesmo pois a inadimplência anda solta. Aqui nas ruas de São Paulo o que mais se vê são carros novos mas a esmagadora maioria deles pertence a algum Banco – está tudo financiado. Assim, não é errado dizer que essas pessoas não estão andando de carro mas encontram-se a bordo de dívidas. Não raro, a inadimplência irá mandar mais da metade desses carros para os pátios de leilão.

O que causa surpresa é essa benevolência com as montadoras – todas estrangeiras – e num prazo recorde.  Quando se trata de poderio econômico, as soluções saem assim, num estalar de dedos. Para quem ainda não acredita que quem manda no mundo é o Poder Econômico, essa é uma evidência incontestável. O dinheiro manda e os políticos obedecem. A Sociedade? Ah... a Sociedade obedece junto!

Eu me pergunto onde esses milhares de automóveis novos irão rodar – e quem mora em São Paulo ou Rio de Janeiro sabe do que estou falando: não tem ruas para todos! Nesta quarta-feira uma greve dos metroviários deixou claro que São Paulo – a quinta maior cidade do mundo, segundo dados da ONU, de 2007 – não tem como suportar sua frota toda nas ruas.

Outro fator que restou esquecido foi o da poluição ambiental. Mais alguns milhares de carros significa emissão de toneladas de material particulado na atmosfera. Serão mais motores funcionando ao mesmo tempo, no mesmo congestionamento, lançando fumaça para nossos pulmões. Todas as promessas feitas aos ambientalistas no passado foram jogadas no lixo.

Só quem está feliz nessa estória são as montadoras (norte-americanas, européias e asiáticas) e os Bancos, claro!

Não se trata de apostar no fracasso mas o bom senso fala mais alto: essa redução de IPI para incentivar venda de carros novos significa acenar à população com um presente de grego. E se analisarmos bem a atual situação econômica da Grécia, isso é que não queremos, mesmo...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Relacionamentos

Voltou a circular pela Internet um texto creditado a Arnaldo Jabor, intitulado Relacionamentos. Coisas na Rede são assim... vão e voltam!
Nele, é feita toda uma explanação sobre a durabilidade e a finitude dos amores, que não se pode ter sempre o ideal, que nem sempre o ideal é aquele que nos completa e que nem sempre ter sexo bom com alguém significa amor e vice-versa, que não devemos ficar com alguém por pena ou medo de solidão,  que podemos ter vários amores na vida... e por aí vai.
O texto é datado de 2008 e nem sei se foi escrito mesmo pelo Jabor. Se foi, desculpe mas não concordo com ele, não. Aliás, ainda bem que existe essa possibilidade de divergir das idéias! Que seria do azul se todos gostassem (só) do vermelho?
Gosto de ler as crônicas do Jabor, ele tem humor refinado e agudo senso de observação, mesclado com ironia e inteligência. Só que eu penso com meus próprios neurônios e nem sempre dá para concordar com opinião alheia.
Esse texto Relacionamentos tem conceitos óbvios mas que não consigo aceitar: falar que um amor acaba e encontramos outro parece tão fácil quanto mudar o canal da televisão. Considerar que devemos esquecer um amor antigo e substituí-lo por um novo beira a escolha do sabor do sorvete no menu do restaurante.
Não acho que seja assim, não.
Quando amamos alguém significa que percebemos afinidades em vínculos que desejamos para nós e deixar essa pessoa ir embora porque é obra da vida é um simulacro idiota de conformismo. É como assistirmos a um filme, onde não podemos mudar o final. 
O amor é um sentimento que nos faz passar por cima de tudo porque é a nossa felicidade que está em jogo e é esse sentimento que vai determinar o rumo de nossa vida. E a vida é um roteiro nosso! Temos que lutar por quem amamos, sim!
Construir um arquétipo é fácil – todos nós sabemos como as coisas deveriam ser; o que a maioria faz é não assumir os próprios erros, conviver com suas realidades.
Assim, o texto Relacionamentos do Jabor carrega uma certa amargura, um acomodamento pelas situações que deveriam ser mas não são.
Conheço pessoas que vivem projetando nos outros as suas próprias frustrações, insistem em analisar comportamentos jogando em outros atores papéis que na realidade são seus! Costumam achar soluções para todos, dão aulas de autoconfiança mascarando os próprios conflitos, enganando a sí próprias. Por fora sorriem como se não tivessem problemas mas no íntimo são extremamente frágeis, vulneráveis, tristes.
É a velha estória: falar dos outros é fácil.  Lendo aquele texto, só posso concluir uma coisa: o autor – seja ou não o Jabor – nunca amou ninguém!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Anna

Lembrei de você, Anna.

Claro que não foi por acaso. Na verdade, você não sai da minha cabeça.

Desde que nos conhecemos, foi a mulher mais marcante da minha vida:
conseguiu me ensinar coisas... nossa... jamais esqueci!

Vou ser réu confesso pois muitas outras tentaram fazer o mesmo mas não conseguiram. Sabe por quê? Sua voz sempre vinha na minha cabeça e eu acabava me guiando por aqueles seus palpites tão sábios. 

Eu sei que nosso amor foi meio desproporcional. Você me amava muito, aliás, sempre me amou e eu, embora dissesse o mesmo, insistia em procurar outras mulheres. Esnobei você, acreditei que sabia de tudo... doce ilusão!!!

Quando eu quebrava a cara, você me recebia de volta, com um sorriso de reprovação, um beijo quieto e carinhos. Isso tudo me reconfortava e me dava ânimo.

Sempre fui assim, meio volúvel, não é mesmo, Anna? Coisas da juventude, bobagem de auto-afirmação, explosão de hormônios... mas acho que é assim com todo mundo. Vacilei, não é? E você sempre soube...

Por causa dessas tolices acabamos brigando muito. Às vezes eu ficava tão magoado com suas críticas e comigo mesmo que nem tinha vontade de conversar. Tá certo... você nunca me obrigou nessa coisa de “discutir relação” mas suas palavras, embora mansas, doíam. Seu olhar naquele misto de compreensão e reprovação sempre foram, para mim, um castigo severo. E sabe por quê, Anna? No fundo, você sempre tinha razão, sempre teve.

O tempo – e você sempre me falou nisso – acabou me  ensinando o resto que eu me recusava a aprender:  com o tempo acabamos aprendendo, por bem ou por mal.

Hoje estamos separados – e para sempre, pelo menos neste nosso relógio terreno. Uma pena, pois sinto vontade de ligar para você e contar um pouco da minha vida, pedir conselhos para meus problemas, solicitar uma luz para meu futuro... ahn... mas agora não dá mais! Você se foi!

Confesso aqui, reafirmando: você foi a mulher mais importante da minha vida. Eu só continuo caminhando em função da sua voz, que continua nítida na minha cabeça e, principalmente, no meu coração.

Mãe, minha amada mãe Anna... eu não poderia deixar de mencioná-la aqui, para que fique gravado para todo o sempre, que eu a amo e sempre a amei.

Longe dessas propagandas do Dia das Mães, hoje eu não tenho apego comercial algum, não tenho um presente embrulhado com papel bonito, não trago um laço vermelho.

Tenho apenas meu coração aberto e com muita saudade... muita!

Guardo a certeza que no plano mais alto em que você está, continua auxiliando os que a procuram, sempre com aquela sua frase de estímulo que me guia até hoje: “...não pensa negativo pois acaba atraindo...”.

Não penso não, mãe...

Beijos... saudade!!!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O tempo

Logo quando eu me mudei para o apartamento onde estou, notei que havia um grupinho de adolescentes, com idade média de uns quinze anos, que às vezes costumava ficar de madrugada batendo papo na calçada.
Eram filhos de vizinhos que se reuniam alí para jogar conversa fora, contar piadas, falar do dia-a-dia. Coisa de adolescentes. Às vezes ficavam até uma, duas da madrugada rindo, brincando entre eles, fumando escondido. Não vou negar que até atrapalhavam o sono, já que moro no quinto andar, não é tão longe da rua...
Outro dia eu estava na varanda, apreciando a noite, a Lua... e só aí me dei conta que há muito tempo eu não escuto mais aquela algazarra. Fiz os cálculos mentalmente e me espantei ao perceber que aquela garotada de seus quinze anos hoje está com... trinta!
Faz quinze anos que moro aqui e nem notei esse tempo passar! Quanta coisa aconteceu nesse período, nossa...
Você já parou para pensar nisso? O tempo nos atropela! Às vezes, planejamos tanto para fazer algo e repetinamente já é tarde, a idéia inicial caduca, não é mais hora daquilo.
Até nós mudamos sem perceber. De repente, assumimos uma outra postura, modificamos nossa linha de raciocínio, nos tornamos mais tolerantes, aceitamos melhor opiniões que nos eram tão contrárias.
Tudo isso quem faz é o tempo.
Desde criança eu gostava de ter contacto com objetos antigos; moedas principalmente. Meu pai tinha bom punhado de moedas bem antigas, enegrecidas pelos anos.
Ficava fascinado, olhando para aqueles pequenos objetos metálicos, alguns datados do século XIX, imaginando por quais mãos haviam passado, o que teriam comprado, o quanto teriam sido alvo de cobiça e no entanto, não passavam de peças sem qualquer valor, riscados, arranhados pelo uso, debilitados por décadas de inflação.
O tempo... o tempo... o que através do Universo representa um breve instante, para nós pode significar toda uma vida. Todos nós passaremos; o tempo continuará soberano, sossegando conflitos, sentenciando destinos, tendo o dom implacável entre a realidade e o sonho. Vivemos escravos dele, presos num relógio, num calendário, algemados em nossas esperanças, reféns de nossas ilusões, algo que só se dissipará com o tempo... o tempo... o tempo...







sexta-feira, 20 de abril de 2012

O sexo dos Anjos - e das Anjas

Quem vive dizendo que este País não é sério, pode ir revendo seus conceitos. Estamos, sim, num País preocupado com os grandes problemas sociais e com políticos empenhados em melhorar a vida do cidadão.


Prova disso foi a promulgação da Lei Federal nº 12.605, devidamente publicada no Diário Oficial da União do dia 04 de abril de 2012. Podem consultar e verão: está lá na primeira página.


Referida norma legal obriga a flexão de gênero das profissões. As instituições de ensino deverão expedir os Diplomas de acordo com o sexo do formando. Homens são Médicos e mulheres são Médicas. Homens são Advogados e mulheres são Advogadas. Homens são Enfermeiros e mulheres são Enfermeiras.


Não é fantástico?


Na minha modesta opinião, a medida não tem qualquer finalidade prática mas representa um arroubo de feminismo, nada além de um capricho. Afinal, certos termos, na língua portuguesa, são comuns de dois gêneros. Ou a regra mudou, não são mais?

Se essa corrente continuar assim e ganhar corpo, teremos que flexionar tudo para o masculino/feminino... já pensou? Eu adoro assistir as corridas de Fórmula Um mas terei que aceitar também a Fórmula Uma? Competições de kart  terão o correspondente em karta

Pensando assim, o rapaz que cuida dos meus dentes é o Dentisto, não é? Teremos o Esteticisto, o Motoristo? E o homem que escreve na redação do jornal é o Jornalisto? Quem cuida de finanças é um Economisto? Quem fez a planta da sua casa, um Projetisto? E a criança, terá o correspondente masculino em crianço?  O que vale para um, vale para outro... não é a igualdade que se pretende?

Mas é bom saber que já que não temos graves desníveis sociais e nem problemas com a Educação, Saúde e Segurança neste País, o Congresso Nacional pode se ocupar de assuntos de crucial importância como esse, o de legislar sobre a flexão de gênero nos Diplomas Universitários!


Os Céus que se cuidem pois aquela máxima de que “anjo não tem sexo” cairá por terra não demora muito...

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Páscoa

- Psiu!
- ?!?
- Aqui... embaixo!
- Ah... olá! Quem é você? Tudo bom?
- Eu sou um bacalhau. Tudo mais ou menos... E você, quem é?
- Ora, eu sou um coelho!
- Prazer, coelho...
- Igualmente. Parece que você está se escondendo... por que?!?
- Estou, mesmo. Nesta época do ano é fogo!
- Como assim?
- Sei lá, cara... mas nessa tal de Páscoa todo mundo vem à minha busca, querem a todo custo me colocar numa panela ou numa frigideira, você não faz ideia de como fico arrasado.
- Verdade?
- É. Ainda por cima reclamam que custo muito caro e só tenho rabo e espinhas. Isso é mentira! Olha como sou gordinho.
- Acho que sei como você se sente. Comigo não chega a ser uma coisa tão drástica mas você acredita que pensam que eu boto ovos? E de chocolate, ainda por cima... alguns com mais de um quilo!
- Que loucura!
- Pois é. Esses humanos são meio doidinhos. 
- Mas pelo menos você não vai pra panela, né?
- Nesta época do ano não mas... e o aspecto moral, como é que fica?
- Aspecto moral?!? Não entendi.
- Ora bolas, eu sou espada! Além de afirmarem que eu boto ovos de chocolate recheados, ainda associam minha imagem à cor rosa, vê se tem cabimento...
- Quer trocar de lugar comigo?
- Hummm... pensando bem... não!
- E o que você vai fazer nesta Páscoa?
- Vou ficar com minha família, muito numerosa... muitos filhos, sabe? Minha esposa vai preparar um baca...
- O quê???
- Nada... é só um almoço em família, mesmo. E você?
- Eu também vou ficar com minha família. Aliás, estou saindo para comprar uns ovos de chocolate e... ei!... você podia me ajudar nessa, que tal?!?
- Caramba... até você?
- Foi só para descontrair...  Legal falar com você!
- Idem! Boa Páscoa!
- Boa Páscoa para todos nós!

sexta-feira, 30 de março de 2012

O Velório

A sala não era grande. As cadeiras tomavam as paredes laterais, concentrando-se para o meio. Na parede do fundo um pedestal com um crucifixo e muitas velas disputando o destaque com as imensas coroas de flores. No centro, o caixão.
As pessoas foram chegando devagar, muito quietas. O passo diminuía à proporção em que se aproximavam do esquife: parece que não queriam ver o defunto mas o faziam como uma espécie de obrigação macabra. Alí paravam e mantinham o olhar fixo, perdido, sussurrando baixinho frases que ninguém entendia.  Soluços, choro abafado, consternação.
Sinésio estava morto.
Ninguém acreditava naquilo. Como podia?
- Infarto fulminante – comentou alguém – Trabalhava demais, muita preocupação, responsabilidade, essa agitação de vida moderna...
Os amigos se reuniam em grupinhos para relembrar os momentos vividos na companhia dele. Bom colega, excelente profissional, competente, querido por todos.  Um futuro brilhante pela frente... agora ali, inerte!
Assim iam as conversas quando, de repente, irrompia um choro compulsivo aqui e ali. O ambiente era de tristeza, inconformismo.
Vanessa não saía do lado do caixão. Ela era uma das melhores amigas, daquelas sempre presentes, conselheira, cúmplice mesmo. Fora a perda irreparável, não suportava ver o sofrimento dos outros colegas.
Teve uma idéia. Foi a uma farmácia próxima e comprou um calmante que, diligentemente, misturou a um inocente chazinho de camomila que preparou na copa. Muito simpática, foi oferecendo a bebida a todos.
O resultado foi o esperado. Aos poucos as pessoas foram ficando mais calmas, mais descontraídas. Já não se ouviam mais os lamentos e as crises de choro. As conversas foram ficando mais normais. Aqui e ali já se escutava uma piadinha, risinhos contidos. Começaram a se acomodar do lado de fora onde a conversa podia rolar mais solta.  De vez em quando se ouvia uma gargalhada. O papo tomou um outro rumo, as estórias do morto começaram a ser contadas num outro tom; ele já não era assim tão santo e nem tão trabalhador. Colegas do escritório começaram a lembrar de como ele costumava empurrar suas tarefas para os outros.  Pequenos empréstimos de dinheiro não pagos já lhe rendiam a fama de caloteiro e alguém lembrou de uma excursão à praia em que ele e Vanessa sumiram, só aparecendo tarde da noite porque haviam “se perdido” no caminho. Mulherengo, tinha o péssimo hábito de paquerar até as namoradas dos amigos. Um sem-vergonha.
De um instante a outro, Sinésio tinha perdido o trono.
A sala, agora, estava quase vazia, só os parentes ainda permaneciam firmes. De quando em vez um grupinho de amigos entrava e revezava com outros, só para não ficar muito chato.
E assim foi até a hora do enterro.
Vanessa ainda visita o túmulo do amigo. Fica lá alguns instantes pensativa e vai embora, deixando sempre um vasinho de rosa-da-índia que, inexplicavelmente, aparece completamente seco no dia seguinte...

sexta-feira, 2 de março de 2012

A Vaca

Imagine que você tem uma vaca. Você vai lá todas as manhãs, faz a ordenha e consegue seus cinco, sete litros de leite. Você aproveita esse leite e a vaca fica lá.
No dia seguinte você faz a mesma coisa: nova ordenha, mais leite. A vaca continua lá, quietinha. 
Semana após semana a rotina se repete: você tira o leite, o consome. E a vaca? A vaca permanece lá, bonitinha, pastando alegremente na sua propriedade. Você usa o leite para beber, fazer queijo, manteiga, sorvete e a vida vai passando.
Um dia você começa a achar que só o leite não é suficiente porque, afinal de contas, faz tempo que você não come um bom churrasco. Você olha bem para sua vaca e decide abatê-la para aproveitar a carne. Ou vai ficar tomando só aquele leitinho todo dia?!?
Você, então, providencia o abate, faz a separação das peças, embala e coloca num freezer. Aos poucos você vai consumindo aquilo tudo. Faz uma picanha, uma paleta, tira uma peça de alcatra, maminha, filet mignon... que coisa boa!  Tem lá uns 400 kg de carne – é carne que não acaba mais!
Acaba, sim.
Um dia, quando você menos se dá conta, pegou o último pacotinho de costela. O freezer está vazio. E a vaca, cadê? A vaca não está mais lá.
O que foi que aconteceu? Aconteceu que você consumiu o principal e, agora, não tem mais de onde tirar coisa alguma.
Pode parecer um plágio de Esopo com a fábula da galinha dos ovos de ouro mas é sempre bom contar a estória com outra roupagem pois a ganância do ser humano não muda.
Quantas vezes você escutou o relato de alguém que ganhou um dinheiro inesperado ou vendeu um imóvel e resolveu viver daquela renda e, de repente, acabou mais pobre do que antes?
Se você receber uma bolada assim, sem esperar, cuidado! Lembre-se da teoria da vaca. Há pessoas que não têm muita paciência para aplicar esse dinheiro, reaplicar os rendimentos para engordar o principal. Ou então, acham que esse percentual mensal é pouco – muito ralo – e preferem ir consumindo o principal aos pouquinhos, em pequenos prazeres, até que se acabe. Aí não terão nem o rendimento - o leite - e nem o capital - a vaca.
Pensa bem... melhor uma vaca no chão do que duas voando.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Samba II

Acabou o Carnaval mas não a folia.
Quem acompanhou os desfiles das Escolas de Samba de São Paulo deve ter notado como evoluíram as agremiações paulistanas. Belas apresentações, fantasias bem elaboradas, carros alegóricos majestosos. Lindo, tudo muito bonito. Se o intuito era emocionar o público, conseguiram. Parabéns, mesmo! O espetáculo vem melhorando ano a ano.
A grande nota zero, entretanto, viria na apuração.
O que pudemos assistir ao vivo, transmitido pela televisão, foi algo grotesco. Confusão, briga, invasão da mesa apuradora e um cidadão rasgando os envelopes com votos ainda não computados. No final, algumas pessoas presas, a instauração de um Inquérito Policial e a quase certeza de que ninguém será punido.
Aí começaram as denúncias de que a bagunça não se constituiu em fato isolado mas algo orquestrado por algumas Escolas de Samba, apenas para tumultuar o processo.
Pior ainda: a Prefeitura de São Paulo se manifestou, dizendo que se essa orquestração fosse provada, essa ou essas Escolas não iriam receber mais verba pública.
Como é que é?!?
O dinheiro do contribuinte vai para desfiles de Carnaval? Vai. Só neste ano a Prefeitura destinou R$ 23 milhões (aproximadamente US$ 13 milhões ou € 10 milhões) para o evento.
Quando soube disso percebi, no mesmo segundo, o porquê de tanta briga, tanto bate-boca, tanto desentendimento entre as Escolas de Samba para subir de nível, para migrar ao grupo especial ou coisa que o valha. Não é pelo fascínio, pelo glamour ou pelo apego de cultura popular, nada disso. O quesito principal é o dinheiro, mesmo.
Só Deus sabe quanto disso é desviado para alguns bolsos e é isso que me causa uma irritação maior: tem sempre alguém dando uma de espertinho, tirando proveito de uma situação que ele mesmo cria.
Eu, de maneira muito ingênua, sempre pensei que as Escolas contassem com recursos de seus integrantes, naquela abnegação quase doentia para desfilar no Sambódromo. Que nada... em tudo tem a mão do Estado que, generosa, esparrama o dinheiro que você, eu, todos nós pagamos de Impostos para manter a cidade.
Alguém tem idéia do que daria para fazer com R$ 23 milhões?  Muitas obras, sem dúvida.
Mas é isso... daqui a pouco começará a época de chuvas e, então, aqueles passistas que desfilaram alegres para as câmaras, estarão reclamando da enchente na porta de suas casas, lamentando que perderam o pouco que tinham.
Vamos sambar, gente... vamos sambar!!!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Samba

Vai começar o samba na avenida
Só alegria, só vitória
Resumo de uma vida
Pedaço de alguma estória
Às vezes sem rima e sem verso
Conta mais o luxo e a memória
E vem a escola
Embalada na prosa
Vestida de cores
Do verde ao rosa
Com tanto esplendor
Falando de amor
São frases de efeito
Ditas com jeito
Causando furor
Erguendo a avenida
Naquele momento
Que se esquece da vida
E do sofrimento
Não tem dor de partida
Não se escuta um lamento
Aqui tudo pode
Poeira se sacode
Não tem mais tristeza
O que se vê é beleza
Sorriso é o lema
Não existe problema
Só tem coisa boa
O resto é à toa...
E por quê?
E por quê?
E por quê?
Porquê vai começar o samba na avenida...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Que saco, hein?!?

Durou pouco o clima de cordialidade entre os grupos que apoiaram o acordo havido entre o Governo do Estado de São Paulo e os empresários do setor de supermercados com relação à supressão das sacolinhas de plástico.

No início das negociações, ano passado, tudo era festa. Os ambientalistas comemoravam o sumiço das terrríveis sacolinhas plásticas e acenavam com um planeta mais limpo, livre de um lixo muito inconveniente.

Neste ano de pré-adaptação, as conversas giravam em torno da substituição das sacolinhas por outros meios para transporte das compras do supermercado. Caixas de papelão, sacolas de lona, cada um inventaria um jeito.

Afinal, e quando não existiam as tais sacolinhas??? Eu me lembro, quando criança, íamos ao supermercado e levávamos sacolas de feira; elas eram deixadas numa espécie de guarda-volumes e obtínhamos uma senha (uma cartolina pintada ou algo semelhante a um cartão de crédito com um número inscrito). Fazíamos nossas compras tranquilamente e depois um garoto do supermercado ia correndo resgatar nossa(s) sacola(s). Era assim, tudo simples assim.

Aí alguém inventou uma sacolinha de plástico para embalar as compras. Extremamente práticas, elas caíram no gosto do consumidor rapidamente, além de terem outra função: ninguém mais comprava sacos de lixo. Passaram-se os anos e elas tiveram que se sentar no banco dos réus: tóxicas, demoravam cerca de 400 anos para se decompor e ajudavam a entupir bueiros e favorecer enchentes.

Mas agora enfrentamos um outro dilema: as sacolas não são mais distribuídas gratuitamente – aliás aqui cabe um parêntese porque o custo delas sempre esteve embutido nas mercadorias. Os supermercados começaram a vender umas tais sacolinhas biodegradáveis (demoram só 100 anos para se decompor) e também sacolas retornáveis – também de um material plástico. As prometidas caixas de papelão sumiram e, então, você é obrigado a levar suas compras sem embalagem alguma e socá-las no porta-malas do seu carro de qualquer jeito – se você tiver um carro.

Fomos feitos de bobos.

Quer dizer que a sacolinha de plástico era a grande vilã, que destruiria o Planeta Terra se não fosse expulsa do nosso convívio? Você já parou para observar a quantidade de plástico que é usada nas embalagens diversas? Tudo hoje vem num recipiente plástico! Desde a ração do seu cachorro até a embalagem do seu computador ou da sua televisão de tela plana, passando pelos produtos de cozinha e refrigerantes, tudo é embalado no plástico. E a culpada pela degradação do meio ambiente é a sacolinha?!?

O empresário do supermercado eliminou um gasto na sua planilha: não manda mais produzir sacolinha com o nome do estabelecimento e nem por isso vai descontar um percentual no preço praticado nas mercadorias que comercializa.

A indústria de plástico continuará a produzir as incontáveis embalagens que sempre produziu, numa escala que não tem como decrescer, já que a população só aumenta.

O consumidor? Ah, ele se ajeita, ele se acostuma. Se quiser, tem sacolinha pra vender. E lá vai ele, equilibrando as compras todas, levando as coisas no bolso, na bolsa... ele se vira!

Afinal, quando Cabral chegou aqui para tapear os nossos nativos, eles não deram sacolinhas plásticas para guardar os espelhinhos, não é?

Como diria a Kate Lyra, brasileiro é tão bonzinho...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Fernanda

Não pode existir um dia para chamar de bonito sem que você esteja por perto.

Não há porque acreditar que um fato seja verdadeiro até que você diga exatamente isso.

Não consigo ficar sem seu sorriso, não imagino o mundo sem seu olhar inteligente sobre as coisas que eu conto, por banais que sejam.

Não há como fugir do seu ar de meiga reprovação ante às piadas sem graça que insisto em fazer só para provocar você.

Não ouso ficar sem o aroma do seu perfume, que me leva a passear por lugares que só eu sei.

Não vou abrir mão do seu jeito chique, da sua elegância, de suas peculiaridades.

Não posso ficar sem o calor de seu corpo, a maciez dos seus cabelos, a umidade excitante de sua boca.

Não, não tem como esquecer (e não querer mais!) seu beijo simplesmente porque isso é (quase) a melhor parte de seus encantos.

Não penso em existir longe da maciez do seu colo; impossível não ceder ao convite erótico a uma carícia... a um beijo... ao deleite...

Não posso resistir aos apelos de sua voz rouca de desejo, aos seus ímpetos de paixão e a sua sinceridade de amor que me convoca, imponente... carente... indecente...

Não me dou ao direito de abrir mão do embate de nossos corpos, sempre tão mágico.

Não devo – e me recuso – a acreditar na finitude disso.

Não... isso seria admitir uma derrota, um conformismo que não existe em mim.

Não quero viver sem seu (o meu) amor!

Não tenho outra coisa a dizer, senão... que amo você!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Dois Pontos, Ano I

Amanhã meu Blog faz aniversário: um ano de existência!
Quando me decidi a escrever e postar aqui na Internet, fui movido por sentimentos múltiplos.
Inicialmente porque gosto de escrever e achei que seria um bom exercício para – quem sabe um dia – brincar com a idéia de editar um livro de crônicas. 
Posteriormente, percebi que não havia como fugir de comentar alguns fatos atuais pois isso sempre suscita discussões – e é muito salutar para desenvolver nosso senso crítico. É da discussão, da troca de idéias que nascem as grandes soluções.
Infelizmente não pude tocar em determinados assuntos pois como a Internet é um universo livre e vulnerável, eu poderia enfrentar confusões até no meu ambiente de trabalho, que é político. 
Assim, resolvi não mexer muito em determinados vespeiros com medo da ferroada da abelha-rainha.
Longe de vislumbrar nisso uma atitude covarde em tempos de renovação, creio tratar-se de um cuidado absolutamente necessário justamente porque os tempos de liberdade com os quais minha geração sonhou, ainda não chegaram.
Nessa pouca experiência como crítico de acontecimentos modernos, tive a certeza de que nem sempre se pode dizer o que se pensa ou emitir opiniões. 
Aliás, os termos são próximos: ao invés de emitir, o prudente é omitir.
Essa reserva de cautela é salutar, preserva nossas cabeças – literalmente.
Mas só posso afirmar que este ano foi muito positivo, aprendi bastante e me sinto orgulhoso ao ver no meu mapa de estatísticas que tenho leitores em vários países do mundo. Pude medir, assim, a força da Internet e garanto: isto aqui é o veículo mais poderoso já idealizado!
Agradeço a todos os que me acompanham, me prestigiam e comentam o que escrevo. Isso tudo é motivo de satisfação e orienta os rumos da prosa!
Dizem que as sextas-feiras 13 são dias de azar. Balela! Para mim, está sendo um ótimo momento para escrever, uma vez mais, para vocês! 
Muito obrigado a todos, pelo carinho - que é recíproco!

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Sorria...

Nem adianta tentar escapar delas. Estão em toda a parte e, quando você estiver bem distraído, elas denunciarão, não deixando muitas dúvidas sobre sua intenção, sua conduta, seus atos.

Você pode até tentar uma desculpa mais tarde mas elas são implacáveis e donas absolutas da verdade. Contra o que elas mostram não há argumentos.

Assim como aquelas fofoqueiras que vivem conversando no portão de casa e analisando o que cada um anda fazendo pelas vizinhanças, essas novas personagens tomaram conta do nosso dia-a-dia.

São as câmeras.

Elas estão em todos os lugares, todos. Nos Bancos, nas lojas, nas estações de embarque, nos consultórios, nas portarias dos edifícios, nos semáforos, nos postes e onde mais você puder imaginar.

Acabou o nosso sossego.

Não se pode fazer mais nada que sempre tem uma câmera olhando. Sabe aquela conversão não permitida, às duas e meia da manhã? Não pode; tem câmera multando. Muito cuidado com aquela coçadinha no nariz ou nas orelhas em público... vai que tem uma câmera filmando, já pensou?!? Não fale abertamente na festa da empresa: farão a leitura labial do que está sendo dito, tudo devidamente filmado. Pintou um clima para aquele beijinho no elevador? Nem pensar... tem câmera no elevador, também – e garanto que o Porteiro se diverte. Ah, claro... e nunca deixe as cortinas abertas na sua casa pois o vizinho do prédio da frente comprou uma câmera novinha.

Hoje em dia o mundo virou um grande Big Brother – não esse que passa na televisão mas aquele, imaginado por George Orwell. Virou uma febre, todo mundo tem um celular que filma tudo, registra tudo. Parece que se tornou obrigatório não só contar alguma coisa mas provar com um filminho feito no celular, para que todo mundo veja – e depois compartilha pela Internet.

- Alfredo, você não está contente aqui na empresa? Deveria ter nos procurado para conversar, ao invés de sair por aí falando mal de todo mundo...

- Que é isso, Dr. Epaminondas?!? Eu jamais faria isso...

- Não minta... eu vi no Youtube.

- O quêêê???

- Espero que tenha mais cuidado no seu próximo emprego...

Pois é, perdemos nosso sagrado direito de um comentário, uma fofoquinha, uma piadinha sobre a gostosona do nono andar. Não se pode falar mais nada: tem sempre alguém filmando, registrando, catalogando, colocando na Internet.

Para falar a verdade, eu acho que.... ei!!!! O que é você está filmando aí, hein?!?