sexta-feira, 25 de maio de 2012

O Golpe do Carro Novo

O Governo Federal do Brasil anunciou, nesta semana, a redução do imposto sobre produtos industrializados – IPI - para aquecer a venda de veículos novos.

Segundo noticiou a Grande Imprensa, esse foi o resultado de negociações entre as montadoras, que amargando baixas constantes nas vendas, viu nessa alternativa a mola propulsora para aquecer o mercado de veículos zero quilômetro.

Os Economistas de plantão já se manifestaram, alertando os cuidados a serem tomados por quem pretende trocar o carro usado ou adquirir o primeiro zero. Essa precaução é necessária mesmo pois a inadimplência anda solta. Aqui nas ruas de São Paulo o que mais se vê são carros novos mas a esmagadora maioria deles pertence a algum Banco – está tudo financiado. Assim, não é errado dizer que essas pessoas não estão andando de carro mas encontram-se a bordo de dívidas. Não raro, a inadimplência irá mandar mais da metade desses carros para os pátios de leilão.

O que causa surpresa é essa benevolência com as montadoras – todas estrangeiras – e num prazo recorde.  Quando se trata de poderio econômico, as soluções saem assim, num estalar de dedos. Para quem ainda não acredita que quem manda no mundo é o Poder Econômico, essa é uma evidência incontestável. O dinheiro manda e os políticos obedecem. A Sociedade? Ah... a Sociedade obedece junto!

Eu me pergunto onde esses milhares de automóveis novos irão rodar – e quem mora em São Paulo ou Rio de Janeiro sabe do que estou falando: não tem ruas para todos! Nesta quarta-feira uma greve dos metroviários deixou claro que São Paulo – a quinta maior cidade do mundo, segundo dados da ONU, de 2007 – não tem como suportar sua frota toda nas ruas.

Outro fator que restou esquecido foi o da poluição ambiental. Mais alguns milhares de carros significa emissão de toneladas de material particulado na atmosfera. Serão mais motores funcionando ao mesmo tempo, no mesmo congestionamento, lançando fumaça para nossos pulmões. Todas as promessas feitas aos ambientalistas no passado foram jogadas no lixo.

Só quem está feliz nessa estória são as montadoras (norte-americanas, européias e asiáticas) e os Bancos, claro!

Não se trata de apostar no fracasso mas o bom senso fala mais alto: essa redução de IPI para incentivar venda de carros novos significa acenar à população com um presente de grego. E se analisarmos bem a atual situação econômica da Grécia, isso é que não queremos, mesmo...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Relacionamentos

Voltou a circular pela Internet um texto creditado a Arnaldo Jabor, intitulado Relacionamentos. Coisas na Rede são assim... vão e voltam!
Nele, é feita toda uma explanação sobre a durabilidade e a finitude dos amores, que não se pode ter sempre o ideal, que nem sempre o ideal é aquele que nos completa e que nem sempre ter sexo bom com alguém significa amor e vice-versa, que não devemos ficar com alguém por pena ou medo de solidão,  que podemos ter vários amores na vida... e por aí vai.
O texto é datado de 2008 e nem sei se foi escrito mesmo pelo Jabor. Se foi, desculpe mas não concordo com ele, não. Aliás, ainda bem que existe essa possibilidade de divergir das idéias! Que seria do azul se todos gostassem (só) do vermelho?
Gosto de ler as crônicas do Jabor, ele tem humor refinado e agudo senso de observação, mesclado com ironia e inteligência. Só que eu penso com meus próprios neurônios e nem sempre dá para concordar com opinião alheia.
Esse texto Relacionamentos tem conceitos óbvios mas que não consigo aceitar: falar que um amor acaba e encontramos outro parece tão fácil quanto mudar o canal da televisão. Considerar que devemos esquecer um amor antigo e substituí-lo por um novo beira a escolha do sabor do sorvete no menu do restaurante.
Não acho que seja assim, não.
Quando amamos alguém significa que percebemos afinidades em vínculos que desejamos para nós e deixar essa pessoa ir embora porque é obra da vida é um simulacro idiota de conformismo. É como assistirmos a um filme, onde não podemos mudar o final. 
O amor é um sentimento que nos faz passar por cima de tudo porque é a nossa felicidade que está em jogo e é esse sentimento que vai determinar o rumo de nossa vida. E a vida é um roteiro nosso! Temos que lutar por quem amamos, sim!
Construir um arquétipo é fácil – todos nós sabemos como as coisas deveriam ser; o que a maioria faz é não assumir os próprios erros, conviver com suas realidades.
Assim, o texto Relacionamentos do Jabor carrega uma certa amargura, um acomodamento pelas situações que deveriam ser mas não são.
Conheço pessoas que vivem projetando nos outros as suas próprias frustrações, insistem em analisar comportamentos jogando em outros atores papéis que na realidade são seus! Costumam achar soluções para todos, dão aulas de autoconfiança mascarando os próprios conflitos, enganando a sí próprias. Por fora sorriem como se não tivessem problemas mas no íntimo são extremamente frágeis, vulneráveis, tristes.
É a velha estória: falar dos outros é fácil.  Lendo aquele texto, só posso concluir uma coisa: o autor – seja ou não o Jabor – nunca amou ninguém!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Anna

Lembrei de você, Anna.

Claro que não foi por acaso. Na verdade, você não sai da minha cabeça.

Desde que nos conhecemos, foi a mulher mais marcante da minha vida:
conseguiu me ensinar coisas... nossa... jamais esqueci!

Vou ser réu confesso pois muitas outras tentaram fazer o mesmo mas não conseguiram. Sabe por quê? Sua voz sempre vinha na minha cabeça e eu acabava me guiando por aqueles seus palpites tão sábios. 

Eu sei que nosso amor foi meio desproporcional. Você me amava muito, aliás, sempre me amou e eu, embora dissesse o mesmo, insistia em procurar outras mulheres. Esnobei você, acreditei que sabia de tudo... doce ilusão!!!

Quando eu quebrava a cara, você me recebia de volta, com um sorriso de reprovação, um beijo quieto e carinhos. Isso tudo me reconfortava e me dava ânimo.

Sempre fui assim, meio volúvel, não é mesmo, Anna? Coisas da juventude, bobagem de auto-afirmação, explosão de hormônios... mas acho que é assim com todo mundo. Vacilei, não é? E você sempre soube...

Por causa dessas tolices acabamos brigando muito. Às vezes eu ficava tão magoado com suas críticas e comigo mesmo que nem tinha vontade de conversar. Tá certo... você nunca me obrigou nessa coisa de “discutir relação” mas suas palavras, embora mansas, doíam. Seu olhar naquele misto de compreensão e reprovação sempre foram, para mim, um castigo severo. E sabe por quê, Anna? No fundo, você sempre tinha razão, sempre teve.

O tempo – e você sempre me falou nisso – acabou me  ensinando o resto que eu me recusava a aprender:  com o tempo acabamos aprendendo, por bem ou por mal.

Hoje estamos separados – e para sempre, pelo menos neste nosso relógio terreno. Uma pena, pois sinto vontade de ligar para você e contar um pouco da minha vida, pedir conselhos para meus problemas, solicitar uma luz para meu futuro... ahn... mas agora não dá mais! Você se foi!

Confesso aqui, reafirmando: você foi a mulher mais importante da minha vida. Eu só continuo caminhando em função da sua voz, que continua nítida na minha cabeça e, principalmente, no meu coração.

Mãe, minha amada mãe Anna... eu não poderia deixar de mencioná-la aqui, para que fique gravado para todo o sempre, que eu a amo e sempre a amei.

Longe dessas propagandas do Dia das Mães, hoje eu não tenho apego comercial algum, não tenho um presente embrulhado com papel bonito, não trago um laço vermelho.

Tenho apenas meu coração aberto e com muita saudade... muita!

Guardo a certeza que no plano mais alto em que você está, continua auxiliando os que a procuram, sempre com aquela sua frase de estímulo que me guia até hoje: “...não pensa negativo pois acaba atraindo...”.

Não penso não, mãe...

Beijos... saudade!!!

sexta-feira, 4 de maio de 2012

O tempo

Logo quando eu me mudei para o apartamento onde estou, notei que havia um grupinho de adolescentes, com idade média de uns quinze anos, que às vezes costumava ficar de madrugada batendo papo na calçada.
Eram filhos de vizinhos que se reuniam alí para jogar conversa fora, contar piadas, falar do dia-a-dia. Coisa de adolescentes. Às vezes ficavam até uma, duas da madrugada rindo, brincando entre eles, fumando escondido. Não vou negar que até atrapalhavam o sono, já que moro no quinto andar, não é tão longe da rua...
Outro dia eu estava na varanda, apreciando a noite, a Lua... e só aí me dei conta que há muito tempo eu não escuto mais aquela algazarra. Fiz os cálculos mentalmente e me espantei ao perceber que aquela garotada de seus quinze anos hoje está com... trinta!
Faz quinze anos que moro aqui e nem notei esse tempo passar! Quanta coisa aconteceu nesse período, nossa...
Você já parou para pensar nisso? O tempo nos atropela! Às vezes, planejamos tanto para fazer algo e repetinamente já é tarde, a idéia inicial caduca, não é mais hora daquilo.
Até nós mudamos sem perceber. De repente, assumimos uma outra postura, modificamos nossa linha de raciocínio, nos tornamos mais tolerantes, aceitamos melhor opiniões que nos eram tão contrárias.
Tudo isso quem faz é o tempo.
Desde criança eu gostava de ter contacto com objetos antigos; moedas principalmente. Meu pai tinha bom punhado de moedas bem antigas, enegrecidas pelos anos.
Ficava fascinado, olhando para aqueles pequenos objetos metálicos, alguns datados do século XIX, imaginando por quais mãos haviam passado, o que teriam comprado, o quanto teriam sido alvo de cobiça e no entanto, não passavam de peças sem qualquer valor, riscados, arranhados pelo uso, debilitados por décadas de inflação.
O tempo... o tempo... o que através do Universo representa um breve instante, para nós pode significar toda uma vida. Todos nós passaremos; o tempo continuará soberano, sossegando conflitos, sentenciando destinos, tendo o dom implacável entre a realidade e o sonho. Vivemos escravos dele, presos num relógio, num calendário, algemados em nossas esperanças, reféns de nossas ilusões, algo que só se dissipará com o tempo... o tempo... o tempo...