sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A conta, por favor!

Chegamos ao final do ano. Mais um ano – ou menos, depende do ponto de vista!

Não tem escapatória, vem sempre aquele mesmo discurso sobre as resoluções de Ano Novo, o comparativo com o que você deixou de fazer das propostas do início deste ano... e por aí vai.

E essas tais resoluções são sempre as mesmas, também...

- Neste ano vou parar de fumar. Agora é pra valer.

- Vou emagrecer vinte quilos neste ano... não, gente... sério... pelo menos uns cinco!

- Não bebo mais, só socialmente. O problema é que minha vida social é tão intensa...

- Entrarei para uma Academia, preciso cuidar do corpo. Talvez faça isso lá para Agosto ou Setembro...

Eu não sei porque as pessoas não se assumem de vez. Não precisam ficar mentindo para si próprias!  Resoluções a gente toma o ano todo, qualquer dia, não precisa data especial, não... ainda mais quando é para nosso benefício, fala a verdade!

Eu me divirto muito com tudo isso!

Tenho plena certeza de que neste ano que está acabando não fiz nada de errado – ou pelo menos de tããão errado.  Vivi minha vida dentro daqueles princípios basilares que aprendi em Direito Romano: 1) viver honestamente; 2) não lesar a ninguém; e 3) dar a cada um o que é seu.

Esse é o grande segredo da vida e que antigos romanos já nos ensinavam há alguns milhares de anos. No mais, vamos aproveitar nossa existência, respeitando cada um e suas diferenças/semelhanças – isso já é o suficiente. A vida pode ser até curta mas tudo depende da intensidade com que a vivemos.

Se você concorda comigo,  pode encarar sua mesa farta sem culpa nenhuma; cuidado com o álcool porque pode ser nocivo à sua saúde mas nada como um brinde de vez em quando, não é?

Sinta-se em paz e em harmonia com o Universo. Tudo gira em equilíbrio e você, eu, todos nós fazemos parte dessa ciranda maravilhosa!

Vamos fechar este ano de 2011 como quem fecha a conta no barzinho: satisfeitos, felizes e...

- A conta, por favor!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal


Natal.

Chegamos a uma data mágica do nosso calendário. Pode ser que nem todos acreditem nisso. Não se trata nem de acreditar; basta sentir.

Aliás, Dezembro todo é assim, envolto numa névoa benevolente. As pessoas ficam mais felizes, cordiais. Os enfeites das ruas nos fazem viajar na exata proporção daquelas luzes multicoloridas. De repente nossos problemas parecem diminuir de tamanho. O relógio para.

O Natal é a data mais marcante do ano, sinalizando a chance de bons lucros para o comércio e embalando o sonho de milhões de crianças – e de adultos! – no mundo todo.

Ainda que não queiramos, a figura do Papai Noel povoa nossa cabeça porque é nele que depositamos nossa confiança com relação aos segredos de nossos desejos mais íntimos.

Sejam quais forem nossas crenças, acho que devemos considerar o Natal como o momento mais importante de nossas vidas para uma reflexão, algo como um balanço anual de nossas atitudes. É através desse exercício de auditoria personalíssima que iremos nos avaliar, pesando como nossas atitudes acabaram interferindo na vida de outras pessoas, negativa ou positivamente.

E é nesse clima maravilhosamente contagiante que termino, desejando a todos um Feliz Natal!

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Cinquentando

É incrível como o tempo provoca mudanças na gente. Não essas marcas de corpo - já que são as aparentes - mas mecanismos internos começam a atuar de maneira diferente.

Quando chegamos aos cinquenta anos, por exemplo, adquirimos uma outra identidade, é uma época em que não precisamos mais fingir nada diante de ninguém, é como se nos libertássemos de grilhões sociais que nos foram impostos. Depois dos cinquenta passamos a dizer “não” sem qualquer constrangimento e não temos mais obrigação de ficar fazendo graça diante de uma situação que não desejamos. Externamos nossas opiniões com segurança e sem medo de críticas. Conseguimos analisar uma situação e sabemos de antemão como aquilo terminará.

Passamos a ser – enfim! – donos de nós próprios. Se o restaurante tem fila para nos atender, atravessamos a rua e vamos a outro, não temos que ficar nos espremendo ali só porque disseram que o lugar é bom. Aliás, aos cinquenta nós sabemos o que é bom e o que não é. Nossa vontade se torna flexível por opção e não por modismo.

Aos cinquenta, os homens ficam quase totalmente grisalhos e as mulheres quase todas loiras ou com nuances assemelhadas. De cabelos semi-brancos os homens se tornam charmosos, com ar mais circunspecto e as garotas ganham um jeito mais sóbrio e ostentam uma elegância inigualável – coisas que não podem ser adquiridas na juventude.

Ser cinquentão é uma conquista e é justamente por isso que as pessoas, a partir dessa idade, ficam com um olhar maroto de quem já viu tanta coisa, que sabe tanto a respeito de tudo. Eu até proponho a criação do verbo cinquentar.

- Você já cinquentou, Maria?
- Infelizmente ainda não... faltam dois anos...
- O Alfredo cinquentou na semana passada... ficou tão charmoso...

Já pensou que chique?

É isso aí. Cinquentar.

A você, que está cinquentando hoje... seja muito bem vindo a essa nova fase da sua vida! A partir de agora, você vai se livrar de muitos preconceitos e terá a oportunidade de ser verdadeiramente feliz.

Saúde!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Romantismo

- Você não é romântico...
- Eu não sou??? Ué... mas o que é que você chama de romantismo?
- Ah... sei lá... romantismo é ligar pra dizer que a gente faz falta...
- Hum... é que muitas vezes não dá pra ligar... nem sempre se pode parar o que se está fazendo... ou tem pessoas por perto... entendeu?
- Viu como você não é romântico?
- Não fala isso... eu não gosto que as pessoas em volta fiquem ouvindo!
- Mas elas tem que saber...
- Saber o quê???
- Ah... saber que você me ama...
- ?!?
- O que foi que você disse?
- Eu não disse nada!
- Tá vendo só??? Você nunca diz que me ama!!!
- Eu não fico dizendo as coisas porque acho que não precisa! Nós não estamos juntos? Então...
- Então, o quê?
- Já está implícito que nós nos gostamos, ué!
- Mas gostar é diferente de amar...
- Ah, não... você vai filosofar numa hora destas? Eu estou trabalhando...
- Eu quero que você seja romântico e diga que me ama...
- As pessoas são diferentes umas das outras... eu sou diferente de você, não tenho essa necessidade de ficar falando isso o tempo todo!
- Você está me chamando de chata?
- Ai, meu Santo... daqui a pouco nós vamos brigar por causa de uma bobagem...
- Nosso amor é uma bobagem???
- Para com isso... assim você vai acabar me irritando.
- Você é um grosso...
- Eu não falei? Pronto... olha aí a confusão armada...
- Estúpido, insensível...
- Ah, eu??? Cadê o romantismo, agora???
- Eu não quero mais saber de você!!!
- Depois nós conversamos... agora não posso!
- Não tem depois. Está tudo acabado. Era isso o que você queria, não é?
- Amorzinho...
- Amorzinho, o diabo... não vem agradar, agora... vou ligar para o Carlinhos... ele pelo menos me dava atenção...
- Você vai fazer o quê??? Alô... alô... alô...
- Tup... tup... tup... tup...

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Compras coletivas

Minha primeira experiência com um desses sites de compras coletivas se deu neste último sábado. Quando recebi a oferta por e-mail não tive dúvidas: trocariam o óleo do meu carro, com filtro e tudo, além de uma higienizada no sistema de ar condicionado por um quarto do preço original.

“Nada mal”... pensei! Fiz minha inscrição, preenchi todos os dados solicitados online e no dia seguinte já pude imprimir meu vaucher que me permitiria utilizar os serviços contratados.

Sábado bem de manhãzinha lá estava eu na loja – aliás, o primeiro a chegar, não eram nem oito da manhã. Aos poucos foram aparecendo mais clientes. Constatei o que já percebera em outros locais: pessoas com mais idade acordam mais cedo e chegam logo aos compromissos. Parece que a garotada tem uma certa dificuldade em pular cedo da cama ou acha que o Universo está à disposição deles.

Logo a agitação começou na oficina, mecânicos a postos, mais clientes chegando, carros sendo manobrados. Um funcionário me chamou e começou a preencher outro cadastro. Fico perplexo com isso: esse pessoal não tem sistemas integrados para compartilhar bancos de dados? Lá vou eu fornecer todos os meus dados, tuuudo de novo! Mas era sábado de uma manhã fria e ensolarada, eu era o primeiro a ser atendido e ainda mais, numa pechincha daquelas... não iria me estressar por nada do mundo!

Fui para a salinha de espera e lá fiquei lendo revistas velhas, até que o consultor técnico veio falar comigo e pediu para que o acompanhasse. Fui. Carro levantado naqueles macacos hidráulicos gigantescos, ele e o mecânico me mostraram uma série de peças da suspensão que precisariam ser trocadas. Não entendo muito de mecânica mas admito que as peças pareciam um tanto quanto idosas, caquéticas mesmo. Voltamos ao computador, acessa daqui, calcula dali, preço que vai, cifrão que sobe, ânimo que desce e veio a facada: dezessete vezes mais do que a troca do óleo, quantia compreensivelmente divisível em quatro vezes. Meio em estado de choque, concordei: tem coisas com as quais não se brinca e suspensão de carro é uma delas. Mas confesso que considerei a atuação dos funcionários da oficina muito conveniente, ficar forçando um serviço, colocando pânico na nossa ingênua cabeça: "...melhor trocar... pode provocar um acidente... um carro tão novo... vai comprometer peças mais caras...". Sabe-se lá se isso não é uma roupagem moderna para a conhecida rebimboca da parafuseta?

Lembrei daquela canção do Roberto Carlos quando fui embora: “...saí da oficina um pouquinho desolado...” Mas essa sensação se dissipou em poucos metros; o carro ficou ótimo, todo durinho e sem barulhinho nenhum. Até que ele estava precisando de um carinho, vai... Estou endividado até março mas tudo bem.

Quem é que iria economizar um dinheirão numa troca de óleo, mesmo? Vou tomar mais cuidado na próxima atração irresistível dessas compras coletivas...

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Deveríamos...

Deveríamos nascer sabendo algumas coisas. Isso facilitaria muito nossa existência por aqui e não sofreríamos demais com certas situações pois já saberíamos o final de muita coisa.

Deveríamos nascer sabendo a tabuada, fazer regra de três composta, extrair raiz quadrada e conjugar verbos irregulares. De quebra, poderíamos já conhecer as obras de Shakespeare, Camões e Machado de Assis.

Deveríamos nascer sabendo todos os afluentes da margem esquerda do Rio Amazonas. Pensando bem, os da margem direita, também!

Deveríamos nascer sabendo de todas as datas consideradas importantes, como a Invasão Holandesa na Bahia, a Queda da Bastilha, a Independência de todos os países da América e nunca nos esquecer dos aniversários de nossos amigos.

Deveríamos nascer sabendo muitas coisas sobre o ser humano: que é frágil, ao contrário do que se mostra; que uma lágrima brota de nossos olhos menos de dois segundos depois de sentirmos saudade; que não existe vazio maior em nossos corações do que o provocado pela ausência de quem amamos; que as pessoas nunca pertencem integralmente a ninguém e é isso o que provoca tanta discórdia; que não existe coisa mais triste do que um aceno de despedida.

Se soubéssemos dessas coisas todas que envolvem o comportamento humano, talvez entendêssemos melhor nosso semelhante e a nós próprios.

Mas não sabemos. Temos que vivenciar isso tudo, dia a dia, momento após momento, decepção a cada gesto, tolerância a cada segundo, resignação a cada instante e aprendizado o tempo todo.

Eu me sinto como um aluno nesta vida, sempre aprendendo, sempre sendo testado – e parece que as provas não acabam nunca! As situações mudam, pessoas novas conheço e para mim é sempre uma novidade.

É no mínimo esquisito pensar que nascemos sem saber absolutamente nada, aprendemos e ensinamos nesta vida e aí... bom, aí partimos, simplesmente. Vamos embora não sabemos exatamente para onde, levando nossas experiências, nossos medos, nossas alegrias, nossas ansiedades.

São tantas coisas que não sabemos mas... deveríamos...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Quem é velho?

Uma notícia me surpreendeu bastante nesta semana: a Justiça italiana retirou o pátrio poder de um casal sobre sua filha por considerá-los velhos demais.

O casal em questão é formado por um aposentado de 70 anos e sua mulher, uma bibliotecária de 57. Depois de vinte e um anos casados e sem filhos, resolveram ter um bebê com óvulos doados e dessa manobra consagrada na literatura médica nasceu uma garotinha que hoje tem um ano e sete meses.

De acordo com a Corte de Turim, eles são velhos demais para criar a própria filha, foram egoístas e narcisistas por querer procriar nessa idade e que a mãe não estabeleceu vínculos afetivos com a criança. A menina foi encaminhada à adoção. Os pais verdadeiros podem vê-la a cada quinze dias.

Toda a celeuma teve início porque um vizinho denunciou o casal. Segundo essa pessoa, eles teriam deixado a criança no carro enquanto descarregavam as compras do supermercado, tarefa que levou entre trinta e quarenta minutos.

Honestamente, eu não sei o que é ser velho nas diversas atividades da vida. Claro que há um limite para cada estágio de desenvolvimento do ser humano, desde que nascemos. Nosso corpo muda, vai sofrendo restrições ao longo de nossa caminhada terrena mas daí a colocar proibições sobre o que fazer ou deixar de fazer, já é um pouco demais.

Não é raro vermos casais com diferenças monstruosas de idade. Nesta mesma semana tivemos a notícia de que o nosso ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, de 80 anos, está namorando uma moça de 34. Ahn... aí pode! Na semana anterior foi o casamento da Duquesa de Alba (uma das maiores fortunas da Espanha), de 85 anos, com um homem vinte e cinco anos mais jovem – aí também ninguém falou nada. São pessoas famosas em seus núcleos sociais, material e culturalmente bem posicionadas e, portanto, livre dos embaraços que algum vizinho queira causar.

O preocupante, nesse caso dos “pais velhos” é a interferência demasiada do Estado na vida dos cidadãos. Existe uma tendência global do “politicamente correto”: não se pode mais falar de nada, criticar ninguém. Somos impedidos de fazer uma piadinha porque tudo é levado às últimas conseqüências. Agora, pelo andar da carruagem, nem filhos poderemos ter – haverá sempre alguém observando e um dedo acusatório nos apontará na rua.

Quando eu nasci, já no finalzinho dos anos 50, meu pai tinha 49 anos e minha mãe, 42. Os pais dos meus amiguinhos de escola eram muito mais jovens mas eu jamais considerei isso como um empecilho na minha vida. Nossos vizinhos também não. Não vou negar que existiram conflitos de pensamento mas não de educação. Fui criado de uma forma bem espartana, ciente de meus limites, minhas responsabilidades e obrigações na casa paterna. Tinha que estudar muito, tirar ótimas notas, ser sempre o melhor da classe e por aí vai. Não era fácil mas não me arrependo, não. Hoje eu me considero uma pessoa inserida no mundo, normal. O fato de ter que rachar de estudar jamais me incomodou e agradeço aos meus pais que me incentivaram a isso. Não fosse por eles e eu, muito provavelmente, não estaria aqui escrevendo para vocês; tenho o maior orgulho dos meus pais! Agradeço tudo o que fizeram por mim. E não faltou carinho e atenção.

Velho é quem se preocupa mais com a vida alheia do que com a sua própria; velho é quem fica procurando pequenas falhas e não vê escandalosos acertos. Velhos são esses jovens que querem que acreditemos que devemos tolerar suas manias (sim, jovens têm manias). Velho é quem fica procurando pelo em ovo, que nunca acredita no que os outros falam, que duvida de tudo.

Velho é quem se acredita assim!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O beijo

Aproveitou-se do momento da despedida para chegar mais perto. Ficaram conversando por alguns minutos à espera dos carros. Podia sentir-lhe o perfume, fragrância mágica que o conduzia a pensamentos inconfessáveis. As mãos dela gesticulavam no ar com uma graça própria enquanto falava mas ele sequer prestava mais atenção no assunto; ficou a observá-la mais e mais, na cumplicidade da penumbra. Não tirava os olhos de sua boca, carnuda, vermelha, talvez à busca de um carinho. Seus lábios se moviam enquanto falava e muito sorria, numa alegoria bonita e própria para seu rosto encantador.

A Lua de Primavera brilhava entre algumas nuvens e uma leve brisa fria soprava de quando em quando. Já era tarde. Despediram-se com o convencional beijo na face. O contacto com a pele do rosto fez com que seu coração disparasse. Sua mão ficou depositada suavemente no ombro dela e, num ímpeto, não permitiu que se afastasse e as bocas se atraíram como ímãs poderosos e sedentos de um só desejo. Foi um longo beijo, carregado de emoção e volúpia. O contacto dos lábios, a maliciosa transgressão das línguas e a pressão do abraço premindo os corpos fazia a união perfeita. Sentiu seus contornos com mãos hábeis que, mesmo por cima da roupa, iam explorando com cuidado aquilo que lhe era permitido na ocasião.

Interromperam o beijo, afastaram-se ligeiramente e olharam-se fixamente nos olhos para, logo em seguida se entregarem a outro beijo e outro... e outro...

Cada um pegou seu carro e, durante algum tempo ele ficou olhando para o clarão dos faróis no retrovisor, até que tomaram rumos diferentes.

Chegou em casa ainda com o espírito leve, um vigor renovado, essas sensações que ocorrem quando temos a oportunidade de reviver um amor. Naquela madrugada não conseguia dormir, pensando naquilo que seria muito mais do que uma simples aventura, alguém que poderia simbolizar a felicidade que merecia. Por fim adormeceu, embalado pelas lembranças do perfume, do calor de um corpo e do melhor beijo de sua vida.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Duvido

Duvido.

Duvido que eu chore.

Não tente porque não conseguirá. Não tenho mais choro, não tenho mais lagrimas.

Já parei para ouvir as músicas que nos fizeram estória. Ouvi de novo e mais uma vez. Resisti. Relembrei nosso primeiro encontro, nosso beijo, nossa última transa. Mentiria para você se dissesse que não senti (sinto) saudade.

Fui criado para ser forte. Mentira, não sou.

Sinto sua falta, seu perfume, o toque dos seus cabelos, a maciez da sua pele. Você me faz uma falta do caramba!

Faz falta a rouquidão da sua voz me pedindo mais (amor). Sinto falta do seu berro, do seu urro, do seu compasso perfeito, das loucuras eróticas na sacada do prédio. Das confidências, dos segredos.

A ausência de nossos corpos faz um eco danado na vida, sabia?

Me sinto sozinho sem sua safadeza, sempre presente. Você enigmática, imponente, carente e autoritária, sedenta e romântica. Tesão, meu amor. Amor e tesão - isso se confunde. Isso me confunde.

Vilã da minha vida, você se fez presente e fugiu, sem explicação, sem porquê, sem motivo – ao menos um!

Agora estou aqui, vazio.

Um vazio de lágrimas que, já disse, ninguém vai ver.

Se quiser, vem um dia, assim meio perdida, como já veio outras vezes, vem roubar de mim o amor que sempre foi seu.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A Maçã

A maçã tem marcado o nosso mundo de forma indiscutível. Basta lembrar a estória de Adão e Eva. Tudo começou com uma maçã.

Depois vieram outros episódios.

Guilherme Tell foi obrigado a empunhar arco e flecha acertando uma maçã na cabeça de seu próprio filho.

Isaac Newton só formulou a teoria da gravidade depois de ser atingido por uma... maçã!

Branca de Neve mordeu uma maçã envenenada.

Quem se lembra da gravadora dos Beatles? Isso... a Apple Records.

Em todas essas ocasiões, a maçã sempre mudou o rumo das coisas e teve exemplar importância para os destinos da Humanidade. A maçã celeste fez com que o Homem fosse expulso do Paraíso, a lenda de Guilherme Tell evidenciou confiança e coragem, a observação de Newton revolucionou a Física, a fábula dos Irmãos Grimm tem encantado milhões de pessoas nos últimos duzentos anos. Dos Beatles, então, nem é preciso falar nada. A maçã tem algo de mágico.

A tecnologia do século XX também teve sua maçã – talvez a mais importante para nossa vida moderna: a maçã de Steve Jobs. De tudo o que você vive hoje, em termos de informática e internet, muito se deve a ele. Sonhador, visionário e futurista, esse californiano imaginou um mundo onde cada um dispusesse de um computador para uso pessoal e que pudesse usar essa máquina para trabalhar e se divertir – às vezes tudo ao mesmo tempo.

Hoje em dia é fácil você imaginar isso simplesmente porque tudo já existe. Mas... e há trinta anos atrás?!? Tudo o que você conhece atualmente de tecnologia de informática, já existia na cabeça de Jobs. Percebeu como ele foi um privilegiado, um gênio?

É que os modernismos invadem nossa vida quotidiana e começam a integrá-la de tal forma que nem nos apercebemos disso. Experimente ficar sem seu aparelho celular de última geração, um smartphone com sistema touch screen, deixar de ouvir suas músicas prediletas num aparelho portátil de mp3 ou interagir com seus amigos de redes sociais sem um tablet.

Jobs conseguiu mudar o computador, transformando aquela máquina pesada num instrumento que cabe na palma da sua mão. Tudo isso se traduz na simplificação de coisas extremamente complexas e na rapidez das informações. Em questão de poucos minutos você tem notícias diretamente do outro lado do Globo e vive os acontecimentos de forma simultânea. Não existem mais barreiras, nem de tempo.

Nesta última quarta-feira eu tomei conhecimento da morte de Steve Jobs pela Internet, antes mesmo que qualquer canal de televisão noticiasse – e, ironicamente, por intermédio de meu Macbook, um dos muitos aparelhos criados por ele. Foi a criatura divulgando a morte de seu criador.

Parafraseando Jobs, é natural e salutar que o velho dê lugar ao novo porque no Universo sempre existe esse processo de renovação, de mudança. Sábio conceito, claro, mas o fato é que pessoas deixam saudades.

Eu acredito que nosso mundo não se resuma aqui e que existam até outras dimensões para serem exploradas, desvendadas e melhoradas. Com certeza num desses locais estará Steve Jobs. E, lógico, sua maçã!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Qual a sua ocupação?

Época de transição, essa em que vivemos. Valores sedimentados por nossos bisavós substituídos por promessas vagas e uma filosofia de crença exagerada num universo materialista que está bem longe da grande maioria.

Claro que as coisas mudam, é um processo constante de evolução. A Humanidade não é estática – muito pelo contrário... ela é até dinâmica demais. Mas essa estória de evolução – acho eu... – teria que ser para a frente e não para trás.

É uma idiotice pensar, por exemplo, que mudando a nomenclatura das coisas você as torna diferentes. Antigamente tínhamos a profissão de vendedor e ninguém se envergonhava disso; hoje não existe mais o vendedor, são todos representantes comerciais. Também desapareceu aquele sujeito simpático que nos vendia o seguro do carro: virou produtor de negócios. Faxineira? Não, não... agora são Auxiliares de Limpeza. O Auxiliar de Escritório virou Estagiário, o camarada que não sabe nada, faz tudo pela metade, ganha menos que todo mundo e leva todas as broncas. Isso quando não escalonam os níveis hierárquicos em Junior, Senior, Master, Master Plus e por aí vai...

Tudo enrolação! Jogo de palavras. As funções das pessoas são as mesmas e mudar-lhes os nomes não trará maiores benefícios. Mexem é com o ego das pessoas, embutindo na cabeça delas que possuem valor muito maior do que o que realmente têm. O salário não se modifica, a não ser para menos mas a cabeça muda... e como muda!

Hoje pela manhã ligou para meu local de trabalho um rapaz procurando uma vaga.
- Você está procurando trabalho? - perguntei.
- Não, não... eu quero uma colocação profissional. - ele respondeu.
- Ué... mas então... você não quer trabalho?
- É que falando assim fica muito forte...
- ?!?
- Eu estou disponível para trabalho...
- Ah, tá!

Acabei descobrindo, assim, que não existem mais pessoas desempregadas, existem as disponíveis para trabalho... doce ilusão!

Precisamos acabar com essa bobagem, com essa pretensa especialização à custa de nomenclaturas pomposas que não levam a nada, com esses diplominhas inservíveis que são dados pelas faculdades que brotam às centenas todos os anos. O que necessitamos, mesmo, é resgatar os reais valores – aqueles dos nossos bisavós! – porque eles é que estavam corretos. Se fizermos isso vamos descobrir que embaixo desse vernizinho tolo de banalidades, ainda há matéria de grande quilate dentro de cada um de nós.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A ameaça que vem do espaço

Quem avisa é a NASA: nesta semana, um satélite artificial, colocado em órbita para pesquisar a atmosfera há vinte anos, cairá em algum ponto do planeta.

O artefato pesa seis toneladas e deverá ser fragmentado em vinte e seis pedaços. A agência espacial americana tranqüiliza os terráqueos porque as chances de algum pedaço da nave atingir alguém é da ordem de 1 em 3.200. Computando-se os sete bilhões de habitantes da Terra, os números para atingir VOCÊ são de 1 em 22 trilhões - mais confortável, não é? Ah, e também explica que se um pedaço do satélite cair no seu quintal, nem pense em botar a mão nele porque trata-se de propriedade dos Estados Unidos e você não pode se apoderar como se fosse um souvenir.

O que eu acho engraçado é que esses cientistas colocam no espaço seis toneladas de aço – mais ou menos o peso de seis peruas Kombi – e, de repente avisam “olha, o satélite cumpriu suas funções nestes últimos vinte anos e agora vai cair, não sabemos exatamente quando e muito menos onde”.

A única certeza que eles dão é que o monstrengo sofrerá atrito com o ingresso na atmosfera terrestre e se partirá nos tais vinte e seis pedaços mas a chance de você ser atingido é mínima.

Já que perguntar não ofende, se eles não sabem nem onde essa geringonça vai cair, como é que podem afirmar essa divisão de pedaços tão exata?

Isso tudo me faz pensar que nessa imensidão de números, estatísticas, percentuais e índices, o ser humano perde feio para o acaso. Há alguns anos, mais precisamente em 11 de julho de 1979, o laboratório espacial Skylab, também norteamericano, caiu na Terra depois de permanecer alguns anos no espaço: houve um problema técnico que forçou sua queda. Da mesma maneira como hoje, também ninguém tinha a mais vaga idéia de como e onde a estação orbital se projetaria na sua atrapalhada volta ao planeta. Alguns fragmentos caíram no Oceano Índico e outros na costa oeste da Austrália e, felizmente, ninguém se machucou.

Esses fatos só ajudam a engrossar a teoria de que o Homem jamais pisou em solo lunar, façanha que demandaria cálculos hiperexatos, sem qualquer margem de erro. Se não se consegue lidar nem com um satélite meteorológico que está orbitando nosso próprio planeta, como supor o controle de uma nave a trezentos e oitenta e quatro mil quilômetros, há quarenta e dois anos?!?

Mas acho que ninguém precisa se preocupar com algum tipo de acidente com um desses vinte e seis pedaços de metal pois eles tendem a se desintegrar totalmente quando da passagem pela atmosfera. Não fosse assim e seríamos atingidos diariamente por boas dezenas de detritos que vagam pelo espaço e nos dão o espetáculo das estelas cadentes. Na verdade, o satélite artificial deve cair nesta sexta-feira à tarde... ei!!! – é hoje!!!

Bom, vou cruzar os dedos para que não caia alguma coisa na minha cabeça! Isso vai ser fácil de constatar: se na próxima sexta-feira não tiver Blog...

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Onde eu atravesso?

Fiquei sabendo por acaso, nesta semana, que São Paulo é a quarta maior cidade do Planeta mas tem a maior frota de veículos automotores - olha só que coisa!?!

Justamente por isso é que São Paulo é uma das cidades mais congestionadas do mundo; só quem mora aqui sabe da dor de cabeça para se locomover de um ponto a outro. Se há trinta anos ainda havia momentos de sossego no trânsito, hoje já não existe mais horário: você pode dar uma volta às três da manhã que enfrentará lentidão em algum lugar. O horário de rush, por aqui, dura mais ou menos o dia inteiro...

Mas não precisa ser técnico em nada, basta observar para concluir que tem mesmo muito carro na rua – e todo mundo resolve sair ao mesmo tempo! Entretanto, mesmo assim meio moroso, trânsito é sempre um perigo e não são raros acidentes fatais em nossas ruas envolvendo veículos pesados e leves, motocicletas, bicicletas e pedestres.

No meio dessa confusão toda, as autoridades de trânsito tentam implantar campanha para respeitar o pedestre na travessia das vias públicas. Louvável.

Na teoria, funciona assim: o pedestre que pretender atravessar uma via onde não tiver semáforo para pedestres, deverá se dirigir até uma faixa de segurança, sinalizar com a mão e esperar que todos os carros parem e esperem, pacientemente, que ele transponha a rua. Ninguém buzina, ninguém fica acelerando, ninguém xinga.

Tudo parece muito simples e civilizado mas experiências levadas a cabo por alguns órgãos de Imprensa demonstraram a inutilidade da medida: os motoristas não param ou só detém seus veículos quando notam uma câmara de televisão registrando a cena. Desse jeito, até eu.

Eu sempre ouvi dizer que na Europa é assim, que quando você coloca o pé na rua os carros param. Na primeira vez que estive lá pude concluir: não é bem assim! Para atravessar uma rua, aqui e em qualquer lugar do mundo, o que vale é o bom senso de ambos, pedestres e motoristas. Não adianta querer que um carro na avenida Vinte e Três de Maio pare só porque você resolveu atravessar na frente dele; melhor caminhar até o próximo viaduto e transpor por ali na mais absoluta segurança. Quem se lembra das noções de Cinemática sabe que é necessário algum tempo/espaço para deter um veículo que pesa algumas boas centenas de quilos.

Eu fico torcendo para que a campanha dê bons frutos, que motoristas, motociclistas e pedestres aprendam, tenham mais bom senso e mais educação e que, em linhas gerais, passem a ter um respeito mútuo que hoje simplesmente não existe.

Enquanto isso não acontece, eu vou é procurar um semáforo onde eu possa atravessar a rua bem sossegadinho...

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O caso do radinho

Antonio Celso sempre foi muito respeitado pelos alunos. Também, não era para menos: competente e disciplinado, suas aulas tomavam a atenção dos adolescentes. Dizia-se que enquanto o mestre falava, era possível perceber o vôo de u´a mosca. Muito correto, não esbanjava nas notas, não... por isso todos se esforçavam nos estudos: nota alta com o professor Antonio Celso era sinônimo de status.

O mesmo estilo que ostentava na escola era seu padrão doméstico, sempre muito metódico, regrado e acima de tudo, justo.

Numa noite enluarada de Primavera, Antonio Celso preparou uma surpresa para sua mulher: iriam a um Teatro assistir uma peça. O evento serviria também para comemorar a aquisição do carro novo que pegara semanas antes. Tudo acertado, lá foram os dois, como jovens namorados!

A peça foi ótima; o casal se divertiu muito e, mãos dadas, voltaram para pegar o carro. Antes mesmo de sair do estacionamento, deu por falta de um rádio a pilhas, presente de uma turma de alunos. Como o carro era relativamente novo e não tinha som, ele se acostumou a deixar o radinho em cima do painel para animar um pouco os deslocamentos casa/escola.

Perguntou ao manobrista. Nada.

- Não vi rádio nenhum, doutor.

- Estava aqui em cima do painel, com uma capinha de courvin marrom...

O manobrista perguntou a um outro... um fala daqui, outro dalí... mas ninguém sabia de nada e o radinho não apareceu. Incomodado com a situação, Antonio Celso entrou no escritório do estacionamento e o que foi que ele viu na mesa do Encarregado? O seu radinho... com a capinha de courvin marrom!

- Olha lá meu rádio... alguém daqui pegou meu rádio!!! Dá aqui, quero meu rádio de volta!

- Esse rádio é meu! – defendeu-se o Encarregado.

- Seu, coisa nenhuma! – Antonio Celso já estava alterado. – Eu ganhei esse radinho de presente dos meus alunos faz tempo, tem até marquinha de unha perto do botãozinho onde se muda a estação! Pode ver, pode ver!!!

A confusão e o tom hostil das vozes já tinham atraído curiosos, entre funcionários e clientes do estacionamento. Num instante de tensão, todos puderam constatar que Antonio Celso não mentia: a marquinha estava lá, no local onde ele disse. Não restava mais nenhuma dúvida. Num só movimento, pegou com autoridade o rádio, entrou no carro e deu partida.

- Você tem sorte de eu não dar queixa à Polícia – vociferou para o Encarregado, que o observava assustado e incrédulo.

No trajeto para casa, comentava com a mulher sua indignação ante o ocorrido.

- Como pode uma coisa dessas? O sujeito furta meu radinho e ainda tem a cara-de-pau de dizer que é dele...

- Mas, querido... ele parecia tão seguro de si... você tem certeza que esse rádio é o seu?

- Ah, até você?!? Como não teria certeza? Não conheço meu radinho, então? E olha a marquinha de unha aqui, ó... E você me conhece, sou um homem correto e justo.

- Tudo bem, querido... você é quem sabe. Não vamos estragar nossa noite...

Chegaram em casa. Estacionou o carro, pegou seu estimado radinho e entrou; quando foi guardá-lo no lugar de costume, na estante da sala, quase teve um treco: seu radinho estava lá... com a capinha de courvin marrom e a marquinha de unha perto do botãozinho de mudar as estações...

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Ulisses

Eu acredito que não tenha contado para vocês mas eu tenho um amigo interplanetário. Isso mesmo! Ele é de Saturno e nos conhecemos por acaso: numa de suas viagens pelo nosso sistema solar ele teve problemas com sua nave e acabou descendo aqui na Terra. Coincidentemente eu estava por perto e pude ajudá-lo; nossa amizade começou alí e foi ficando cada vez mais forte. Sempre que pode, ele dá uma passadinha aqui para conversarmos um pouco.

É muito legal trocarmos informações sobre nossos Planetas. Os costumes são diferentes e nem sempre Ulisses – esse é seu nome - compreende o que se passa por aqui.

Nesta terça-feira mesmo estivemos juntos e ele pode acompanhar as notícias sobre a cassação de uma parlamentar acusada de corrupção aqui no Brasil.

- Essa coisa de corrupção, como é que é isso? – perguntou Ulisses.

- Bem, corrupção é quando você pega um dinheiro que não é seu. – respondi.

- Mas isso não é errado?

- Lógico que é... por isso é que essa pessoa está sendo julgada.

- Compreendo. Quer dizer que então ela será punida pelo que fez?

- Bem.... não! Eles não consideraram dessa forma e ela foi absolvida.

- Mas existem imagens dessa moça pegando esse dinheiro... como é que vocês chamam... corrupção, não é?

- Sim, sim... foi feita essa filmagem justamente para provar que ela pegou dinheiro, que é corrupta.

- Isso não é uma prova forte?

- Sem dúvida, claro que é.

- E quem são essas pessoas que estão fazendo esse julgamento dela?

- Ah, esses são colegas dela... eles também são políticos e atuam junto com ela...

- Atuam na corrupção?

- Não foi isso o que eu disse, Ulisses.

- Desculpe... mas é que eu não entendo. Como é que ela pode ser julgada e inocentada pelos próprios colegas?

- Ah, isso está no Regimento Interno lá do Congresso. São as regras a serem seguidas por eles.

- E quem fez esse tal Regimento Interno?

- Quem fez? Ué... foram eles mesmos!

- Deixa ver se eu entendi... quer dizer que eles agem de acordo com regras que eles próprios criam para disciplinar aquilo que eles mesmos fazem???

- Bom... é!

- E esse dinheiro que ela pegou, ela vai devolver, né?

- Acho que vai ser difícil... pelo menos nos casos anteriores isso não aconteceu, não...

- Fala uma coisa... como é que essas pessoas foram parar lá nesse tal de Congresso?

- O povo vota nelas para ficarem lá...

- O quê???

- Pois é.

- Mas se o povo colocou, pode tirá-las de lá a qualquer momento, não é?

- Na verdade, não... elas ficam por pelo menos quatro ou oito anos, depende do cargo.

- E quem é que decide isso tudo, de quanto tempo elas ficam?

- Hããã... elas próprias.

- Muito esquisito, este seu País. Daqui a pouco você vai querer me convencer que vocês sediarão a Copa do Mundo sem estádios prontos...

- Ulisses!!!!!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

As Polegadas do Facebook

Há algumas semanas comecei a reparar, através do Facebook, recados das garotas com a citação de algumas polegadas. Não sei se todos já perceberam isso mas de vez em quando surge lá alguém postando “37 polegadas”, “36 polegadas” e assim por diante. Não vou mentir, fiquei curioso e perguntei às minhas amigas que postavam isso e obtinha como resposta “kkk”. Algumas me chamaram de curioso e tome “kkk”.

Percebendo que lidava com um complô feminino, resolvi vasculhar a Internet à procura de pistas... e descobri o grande segredo!

Trata-se de um movimento, surgido sabe Deus onde, para alertar sobre a prevenção do câncer de mama.

Pelo que li em vários sítios da Internet, já houve movimentos assim, anteriormente. Logo no primeiro ano, as mulheres diziam a cor do sutiã que estavam usando, no ano seguinte tinham que declarar o lugar da casa onde deixavam a bolsa e, neste ano, colocam o número do sapato que calçam seguido da palavra “polegadas”.

Por absurdo que pareça, significativa parcela das garotas na Internet não sabe disso. Algumas sequer sabem o que são “polegadas”. Encaram como simples brincadeira, uma forma de aguçar a curiosidade masculina.

Eu fico me perguntando como proclamar a cor do sutiã, dizer onde guarda a bolsa e divulgar o número do calçado pode favorecer a prevenção do câncer de mama!

Segundo algumas fontes da Rede, isso é para que os homens adivinhassem do que se tratava. Isso mesmo: adivinhassem, como se um número em polegadas representasse uma dica extremamente valiosa.

Sinceridade? Achei a brincadeira totalmente sem sentido e a tal campanha, fraquinha, mesmo. Em primeiríssimo lugar porque câncer nunca é brincadeira...

E tem outra: pouca gente sabe mas câncer de mama não tem incidência somente em mulheres. Os homens também sofrem com a doença e o percentual não é baixo, não. É uma doença que deve ser levada muito a sério e não ser alvo de chacotas pela Internet.

Foi então que resolvi escrever por aqui pelo Blog, como forma de alertar as pessoas sobre a importância de cuidar da saúde, sejam homens ou mulheres, principalmente com relação ao câncer – e não só o de mama. E tudo simples assim, às claras, como deve ser!!!

Alerta dado? Então eu fico com a sensação de dever cumprido!

Ah, só esclarecendo... uma polegada equivale a 2,54 cm!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Falar é com a boca!

Se tem um costume que eu abomino é o de falar com as mãos.

Não aquele agitar típico – dizem – que os italianos têm mas aquela pessoa que não consegue falar com você sem ficar dando tapinhas no seu braço, nas costas, no peito...

Dia destes, encontrei um antigo colega de serviço na fila do Banco. Eu rezei para que o atendimento fosse breve, o que acabou não ocorrendo. No espaço de uma hora conversando com esse sujeito, quase fui a nocaute. Quanto mais ele se empolgava na conversa mais os tapas iam surgindo e variando de força conforme a emoção do que ele contava.

Um sufoco... e é péssimo porque apesar de não gostar dessa situação, como dizer isso à pessoa que está nos batendo? Eu ainda tento brincar, dizendo “...fala mas não me bate...” ou “...cara... vou ficar todo roxo...” – mas o pior é que eles acabam achando graça, riem muito e tome tapa!

Tem aquele que gosta de cutucar. Ao invés do tapinha, enfia o dedo indicador na sua barriga ou na região do ombro. E – caramba! – isso dói!!! Meia hora numa sessão de “dedoterapia” dessas e a gente sai dolorido e com raiva do mundo.

Existe ainda um outro tipo, que tem a mão em forma de torniquete: enquanto fala com você fica apertando seu braço ou sua perna, se estiver sentado, com os dedos polegar e médio. São fisgadas de surpresa, daquelas que quando menos você espera, já foi! Também dói.

Uma vez, já faz um tempinho, ouvi pelo rádio uma confissão do Derico, simpático saxofonista do Sexteto do Jô. Ele contou que em certa ocasião, um desconhecido, num lugar público qualquer, chegou e lascou um tapão na careca dele, como um informal cumprimento. Tem isso, também: há pessoas que confundem tudo porque o Derico pode estar todos os dias na nossa casa mas pela televisão, né? Isso não nos torna íntimos dessas pessoas mas cadê o respeito e o bom senso?

O pior é que não tem como escapar desses verdadeiros lutadores falantes. Quando você menos espera, já levou um tapa, uma cutucada ou um beliscão.

Dureza, viu? Por isso, fico grato quando as pessoas deixam seus comentários por aqui mesmo... sem essas inocentes agressões!

Boa semana pra nós... ai!... sem tapas, por favor!

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Em princípio...

Expressões idiomáticas enriquecem qualquer vocabulário e servem como atalho para outras coisas que queremos dizer. Assim, ao invés de gastar um monte de palavras, uma expressão menor acaba dizendo tudo.

Aqui no Brasil somos especialistas nisso. Muitas vezes encontramos aquele sujeito que não vemos há anos e trocamos palavras formais sobre o passado, a família, os amigos comuns. Isso não quer dizer que desejamos qualquer tipo de proximidade com ele e, ao nos despedirmos, é comum falarmos “aparece lá em casa...”. Isso quer dizer exatamente o contrário, ou seja, “foi legal revê-lo mas não passou disso, ok?”. O interlocutor percebe na hora e responde “ah, pode deixar... eu passo lá.”, querendo dizer “fique tranquilo que eu não vou.

Uma das expressões campeãs no ambiente de trabalho é “acho que assim está bom” – para reconhecer que seu relatório ficou uma porcaria mas o chefe terá que engolir. O chefe, por sua vez, dirá que “está interessante mas poderia ser mais completo”, quando sua vontade era dizer “você é mesmo um incompetente”. Mais grave é "passe na minha sala, precisamos conversar sobre isso" que significa, sem sombra de dúvidas, que você foi demitido!

Lá pelas dez ou onze” significa que a pessoa com a qual você marcou um encontro não aparecerá! A variante é “entre dez e onze”.

Na Universidade é comum se dizer “estou terminando” quando a referência é para aquela Monografia que nem foi iniciada. O professor nem responde, só olha...

Certa vez eu passeava num shopping com uma amiga, que gostou de uma determinada roupa numa vitrine. Pedindo minha opinião, fui sincero: “é bonitinha...”. Ela me repreendeu: “minha avó dizia que bonitinho é o feio arrumado”. O pior é que ela tinha razão porque a tal roupa não era lááá essas coisas – até ela acabou concordando e caímos na risada.

Tem uma que é clássica quando encontramos uma garota pela primeira vez, sabe aquele papo morno para causar um certo interesse? Aí, na despedida você pergunta quando a verá de novo e ela responde “vamos nos falando”. Isso quer dizer que ela nunca mais vai querer olhar para a sua cara e que não adianta insistir. Situação pior é quando você até chega a marcar essa outra saída e no acerto das datas ela responde: “em princípio na quinta-feira”. Ah... esse “em princípio é de matar – quer dizer que ela vai sair, sim... e só vai avisar na última hora que não é com você! Assuma que perdeu...

Bom, mas essas frases-feitas de núcleos românticos formam um capítulo à parte. Qualquer sexta-feira destas eu escrevo sobre isso, ficamos assim?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Aniversário

Hoje é uma sexta-feira muito especial e o espaço da crônica fica reservado para a pessoa mais importante da minha vida, que aniversaria hoje: minha filha!

É curioso falar de minha filha porque quero dizer tanta coisa e ao mesmo tempo tudo trava, os pensamentos se atropelam...

Lembro-me bem do dia de seu nascimento, dos momentos que antecederam o parto, da desabalada mas cautelosa carreira no meio do trânsito de São Paulo para chegar ao Hospital, daquela apreensão natural e, por fim, da visão de um ser humano em miniatura, aburdamente indefeso - e lindo!

Impossível esquecer de todas as experiências, dos momentos mágicos proporcionados a partir de então... a primeira palavra, o gesto de engatinhar, as tentativas para ficar em pé, as noites sem dormir por causa da febre que não queria baixar, o sorriso constante, o olhar meigo.

Acompanhar-lhe o crescimento foi gratificante, notar sua evolução na escola, orientar, mostrar, orientar de novo... e também aprender com sua inocência lógica, respeitar a individualidade, saber quando tinha razão.

É claro que nem tudo na vida são rosas e sempre existirão aqueles momentos negativamente marcantes mas o que importa mesmo é que você saiba, minha filha, que terá sempre em seus pais um refúgio para suas angústias, seus medos e suas dúvidas. Você jamais estará sozinha.

À minha querida filha, fica aqui o registro deste seu aniversário, com esta demonstração pública de afeto – retribuindo o que você sempre distribuiu a todos. Continue sendo a menina carinhosa, delicada e essencial à minha vida. Eu agradeço por todos os momentos bons que me proporciona!

Eu a amo muito.

Um beijo do papai.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Amy

Tomei um susto, sábado passado: liguei meu computador à tarde e me deparei com a notícia da morte de Amy Winehouse. Eu gostava dela, embora não fosse assim um fã de carteirinha. O timbre de sua voz era muito bonito, entoando letras melancólicas, carregadas de sentimento.

Confesso que fiquei chocado, muito mesmo. Aquilo me abalou de maneira estranha, forte. Talvez pela idade dela, nem dois anos a mais do que minha própria filha ou pelo cenário dos últimos tempos de sua vida, do envolvimento com drogas.

É muito preocupante essa proximidade dos vícios com a juventude. Sempre comparo a cabeça de um adolescente com um disco rígido de computador ou com um desses disquinhos de mídia: você pode gravar ali qualquer coisa e mesmo que possa se trocar informações depois, vai ser quase impossível apagar tudo de vez, sempre sobrarão alguns resquícios daquelas primeiras coisas alí marcadas.

Isso evidencia a importância de uma educação de berço, da atenção dos pais, do carinho de um lar alicerçado nas velhas e boas tradições da família. Modernamente, o que se viu foram crianças e adolescentes criados por aparelhos de televisão e computadores – com mínima presença dos pais. Muito mais fácil e confortável deixar os filhos se divertindo com um videogame do que chamar para uma boa conversa ou um passeio ao ar livre. O sorvete perde feio para qualquer game...

Os almoços em família foram substituídos por lanches rápidos aquecidos no microondas e devorados rapidamente para não atrapalhar um jogo qualquer: uma das mãos no sanduíche e outra no mouse. Os pais correndo, ambos com seus afazeres e sem tempo para os próprios filhos!

Não é difícil supor que um ambiente assim se torna favorável à abordagem de pessoas alheias ao núcleo familiar: é gente que supre a atenção desses jovens e usam isso para o cenário inaugural das drogas. Pronto, está armado o desastre!

Precisamos rever com urgência esse comportamento, devemos fechar o cerco em torno da família, potencializar os bons sentimentos, evidenciar os exemplos que trazemos de nosso passado para projetar isso aos nossos filhos e netos. Pode parecer muito “careta” mas aquela imagem de reuniões familiares, seja à volta da mesa na sala de jantar ou nos encontros íntimos como Natal e aniversários, essa demonstração coletiva de carinho pode, aos poucos, reverter esse quadro que se formou, de literal abandono dos nossos jovens à própria sorte.

Essa inversão tem um componente muito especial: amor. Talvez seja uma forma de contrariarmos Amy numa de suas composições mais tocadas, provando, definitivamente, que seu refrão está errado: “Love is a losing game”... ou alguém duvida disso?

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Lacuna para as férias!

Bom... depois de algumas semanas ausente, estou de volta! Se não tenho férias no trabalho há muitos e muitos anos, pelo menos me dei ao luxo de sossegar os neurônios para que eles voltassem com mais carga durante uma nova fase!
Obrigado pela paciência, pela espera... e pela fidelidade!
Vamos lá?

Liberdade, liberdade... abre as asas sobre nós!

Passei minha infância e minha adolescência sob o clima do regime militar que governou o Brasil a partir do famoso 31 de março de 1964.

Foram tempos duros, sob muita censura. Não se podia falar sobre muita coisa, havia risco de alguém ouvir e denunciar. Músicas e peças teatrais tinham que passar por um crivo prévio. A Imprensa não podia publicar o que queria e era frequente nos deparamos com notícias desconexas porque parte do texto havia sido cortado. Como protesto branco, alguns jornais publicavam receitas culinárias ou versos de Camões no lugar das matérias vetadas; assim, era muito comum, no meio de alguma reportagem política, ter uma inexplicável receita de bolo de cenoura.

Pessoas foram presas, torturadas e até mesmo mortas apenas por expressarem suas idéias, por defenderem um ideal de liberdade. Pensar era proibido num País que despontava para o mundo como liderança numa época de ufanismo. Muitos intelectuais se exilaram na Europa mas por aqui havia canções patrióticas enaltecendo o povo. Os universitários eram perseguidos, presos e torturados enquanto a televisão anunciava a construção da Transamazônica. Vladimir Herzog era assassinado nos porões do DOI-CODI e o Brasil iniciava seu programa nuclear.

Na conveniente ignorância da maior parte da população, o País ia bem, obrigado. Aos poucos uma outra consciência foi tomando conta de todos e o clamor pelo afastamento dos militares e a devolução do poder político do País aos civis tomou proporções que não dava mais para esconder. Passada uma fase de transição, vivemos uma outra época e a desejada luz no final do túnel começou a surgir.

Depois de 21 anos de ditadura militar, a liberdade voltou às nossas mãos.

Será?

Camuflado sob uma pretensa Democracia e numa discutível defesa de minoras, hoje em dia você é obrigado a engolir tudo, mesmo que não queira, ainda que não concorde. Somos proibidos de um monte de coisas, é o Estado interferindo cada vez mais em nossas vidas, delimitando o que você é obrigado a aceitar como normal. Já parou para pensar que você não tem mais o direito de ter opinião sobre nada?

Tomar um chopp no final da tarde com os amigos? Nem sonhar... se você for parado numa blitz da Lei Seca, pode ir preso. Acender um cigarrinho no bar? Multa na certa! Não se pode nem mais contar anedotas envolvendo nossos irmãos lusitanos ou nipônicos ou judeus e nem pense em fazer um gracejo sobre aquele rapaz afeminado do escritório porque você acabará nas barras de um Tribunal, devidamente processado. De Homem de bem a criminoso é um estalar de dedos. O politicamente correto, hoje, é participar da Marcha da Maconha, é ter bolsa-alguma-coisa, é pertencer a uma tribo.

No fim, estamos apáticos, nem contar uma piadinha pode! Saímos de um Regime em que vivíamos sob o jugo dos militares e caímos num pior: qualquer pessoa pode nos delatar e nos acusar de alguma coisa. Estamos num grande Big Brother, somos observados minuto a minuto, eletronicamente ou ao vivo. Até mesmo nossos perfis nas redes sociais da Internet são vasculhados e tem sido frequentes as demissões por conta de comentários públicos principalmente no Orkut, Facebook e Twitter - e isso tudo está interligado! Para quem gosta de História, procurem a figuração desse tipo de denuncismo gratuito na II Guerra, vejam quem se valeu disso para angariar colaboracionistas.

Mas que mundo esquisito, este, não? Clamamos tanto pela liberdade e fomos presenteados com um (outro) disfarçado Cavalo de Tróia.

É... não tem jeito: a História sempre se repete!

Falando nisso, alguém sabe da Helena?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Os ovos da raposa

Cada dia mais eu me surpreendo com a Internet. Não com o que trafega pela Rede mas como ela pode influenciar as pessoas.

É tanta bobagem que de um tempo para cá nem abro mais determinadas mensagens só de olhar os títulos, como esses que avisam sobre novos vírus, novos golpes, novos tipos de sequestros, conspirações políticas e por aí vai.

Existem vários sites que se dedicam a desmistificar essas tranqueiras mas o pior mesmo são as pessoas que acreditam nisso.

Dia destes, a menina que trabalha comigo começou a falar sobre esses casos em que “roubam os rins” das pessoas, que órgãos humanos valem uma nota preta e que é claro existem médicos envolvidos nisso: “Para tirar um rim assim... precisa saber, né? “ Não adiantou dizer a ela que tudo isso não passa de uma lenda urbana, que ninguém é deixado numa banheira cheia de gelo e sem os dois rins, ela deu mais crédito a um e-mail apócrifo do que a mim.

Infelizmente, a Internet tem a velocidade de um raio para propagar essas brincadeiras sem graça. E piada sempre existiu no gênero humano. Quando eu era criança, os amigos maiores que eu se divertiam à custa da minha ingenuidade.

Lembro-me bem de uma dessas “pérolas”. Os garotos comentavam ter encontrado um ninho de raposa num terreno baldio das proximidades. Ninho de raposa? Sim, com vários ovos, inclusive!

Aquilo povoou minha cabeça algum tempo e, de quando em vez eu ficava olhando para o tal terreno, na esperança de ver a raposa e, quem sabe, já com os filhotinhos.

Contei aquilo em casa. Minha mãe, com exemplar paciência, me disse que raposas não botavam ovos e não faziam ninhos. Bastou somente esse pequeno esclarecimento e me dei por satisfeito: se minha mãe havia dito, é porque era verdade. Naquela tarde, ao encontrar os meninos, disse a eles, com toda a autoridade, que raposas não botavam ovos. Eles começaram a rir, caçoando de minha ingenuidade. Fiquei brabo mas no final acabei rindo junto.

É terrível como hoje em dia existe uma crise de confiança: as pessoas preferem acreditar numa estória idiota do que dar ouvidos a alguém de carne e osso, que tem experiência e merece credibilidade. O mundo hoje está assim: os embusteiros vendem uma idéia errada como se fosse a mais preciosa! São coisas absurdas mas que mexem com o imaginário. Livros, quase ninguém mais lê: a Internet fornece conhecimento instantâneo e grátis!

Grátis até pode ser mas... conhecimento, não! Ou, pelo menos, não conhecimento bom, saudável e útil. E isso faz com que as pessoas fiquem mais emburrecidas, embaladas por tanta futilidade internética e televisiva...

Agora, fiquei imaginando... já pensou se existir, em algum lugar deste planeta, uma raposa que bote ovos? E aquela coisa de mutação, como é que fica, não é? Não se pode duvidar de Darwin.

Acho melhor pesquisar no Google.

Nunca se sabe...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Magia

Há u'a magia que nos une.

Um fogo que aproxima

e um gelo que nos afasta...

Existe um querer imenso

e uma indiferença que enlouquece.

É um emaranhado de espinhos

onde procuro a rosa

ou ao menos seu perfume...

É a dualidade, o contraponto.

Busco entender, não consigo;

tento esquecer, não posso.

O tempo passa, nós passamos

e só fica uma ilusão pesada.

É o duelo entre a fada e a bruxa

que com seus feitiços

só me faz pensar uma coisa:

há u'a magia que nos une...

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Que cor é esta?

Tá bom... confesso sem rodeios: sou daltônico! Isso, confundo cores, chamo verde de cinza, laranja de amarelo e roxo de azul, misturo tudo!

Descobri isso quando fui tirar minha primeira Carteira de Motorista. Durante o exame, o médico me esticou um bloquinho com umas folhas que continham bolinhas multicoloridas. Dizem que tem números escondidinhos lá no meio das tais bolinhas, é o famoso Teste de Ishihara. Pois não vi nenhum número, só o monte de bolinhas coloridas! O médico chamou um colega, conversaram lá um pouquinho e então me aprovou.

Não tem nada de mais em ser daltônico mas acabamos virando atração turística numa roda de amigos, quando eles ficam mostrando cartõezinhos coloridos ou esticando pedaços da própria roupa e perguntando “que cor você vê aqui?”. Ora bolas, como responder uma questão dessas?!? Como eu vou explicar que cor eu vejo se não é a mesma que o sujeito enxerga? O pior é que dificilmente alguém acredita que você não vê ou confunde cores – por isso esse inquérito todo.

Conheci poucos daltônicos na minha vida mas percebi pelo menos uma coisa em comum: a gente disfarça e não comenta sobre isso justamente para escapar da saraivada de perguntas. Ser daltônico incomoda muito mais às outras pessoas do que a nós próprios.

Roupas se constituem numa dificuldade: como combinar as peças entre si? Tive uma sugestão de uma namorada, que queria colocar plaquinhas com as cores em cada coisa e uma tabela dizendo as combinações mais razoáveis. Imaginei meu armário cheio de camisas, calças e paletós com crachás... achei aquilo ridículo e abortei a idéia - e a namorada, também.

Quem me conhece é testemunha: quase sempre me visto na cor azul e seus diversos matizes; achei um caminho para não errar tanto, já que consigo vê-la. Disseram-me que tem diferença entre azul, roxo e lilás mas eu posso garantir que não tem. Alias, eu fico admirado com as mulheres, que conseguem distinguir diferença entre creme, areia e bege. Algumas chegam a afirmar que existe bege claro e bege escuro.

São muitas as estórias bizarras que coleciono mas uma das mais engraçadas foi um dia que saí de casa com um sapato de cada cor, um azul e um preto. Os modelos eram parecidos e lá fui eu... para divertimento de minha ex-mulher, que também só percebeu horas depois. Estávamos meio brigados e adivinha se tudo não acabou num ataque de risos...

Sábado passado fui comprar umas camisas e quando olhei aquelas prateleiras repletas, fiquei perdido. Conversa vai, conversa vem, descobri que o vendedor também era daltônico. Nós nos entendemos perfeitamente. Saí de lá sem comprar nada; não iria arriscar um daltônico sugerindo cor. Daltônico sim, louco, não...

Agora você entendeu porque o fundo do meu Blog é preto?

Até a próxima...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Rosyneide

Eu já escrevi aqui sobre a saga de morar sozinho. Não é fácil, principalmente quando você descobre que não tem poderes para lidar com tudo ao mesmo tempo – principalmente as tarefas domésticas que pareciam simples à primeira vista.

Descobri, por exemplo, que não tenho o mínimo dom para limpeza – nem mesmo aquela trivial. Não é uma questão de saber fazer, é algo relacionado a jeito, mesmo. Tentar eu sempre tentei – tento até hoje! – mas não fica bom. Tive homéricas disputas com o aspirador de pó que no meio do trabalho regurgitava tudo no piso limpinho, com vassouras e rodos que teimavam em escapar das mãos, panos que impregnavam mais sujeira do que tiravam.

Era evidente que eu precisava de ajuda profissional. Lembrei-me de uma empregada que minha mãe teve durante muitos anos. Ela chegou muito jovem, assustada com a cidade grande. Minha mãe a tratava como uma filha. Foi lá que ela aprendeu a cuidar de uma casa, tudo com dedicação exemplar. Resolvi arriscar seu telefone, que ainda tinha na minha agenda. Para minha alegria, ela atendeu, combinamos tudo e ela passou a me auxiliar semanalmente em casa.

Rosyneide continuava quase a mesma de década atrás. Competente, de extrema confiança, cuidadosa com as coisas da casa. Era como alguém da família. Às vezes deixava alguma comida pronta para meu jantar, um conforto gastronômico incrível para quem só sabe fazer macarrão instantâneo.

O apartamento era limpo com impecável habilidade, os vidros permaneciam absolutamente transparentes, um primor – além de alguma roupa que ela colocava na máquina de lavar e estendia nos varais da área de serviço.

Comecei a notar um pontinho negativo nessa estória de roupas e panos lavados e expostos no varal. Panos de prato eram estendidos junto com panos de chão e ficavam lá balançando indolentemente ao sabor de leve brisa, encostando uns nos outros. Isso aconteceu seguidamente por algumas semanas mas eu não encontrava Rosyneide sempre para corrigir isso, nossos horários não coincidiam. Na primeira oportunidade que tive, eu a adverti para que não fizesse mais aquilo, que não era higiênico panos de chão encostarem em panos de prato, etc. Ela me olhou fixamente e começou a rir e quanto mais eu falava mais ela ria.

Retomando o fôlego, ela me explicou:

- Esses panos de prato já são panos de chão faz tempo... estavam velhos e eu fiz de pano de chão...

Meu estômago deu uma ligeira embrulhada. Percebi que há algumas semanas - talvez meses? - eu enxugava a louça com os panos que ela passava no chão do banheiro.

Rosyneide ainda continuou trabalhando durante algum tempo lá em casa. Só que passei a duvidar de algumas coisas - ficava imaginando que lugares a esponja de louça havia visitado antes de repousar na pia da cozinha ou se ela lavava direito as mãos para pilotar o fogão.

Deixa p'ra lá... minha mãe sempre dizia: "o que não mata, engorda".

Ah, só um aviso às minhas amigas: eu troquei todos os panos de prato, ok?

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Os Brasil

Nasci num outro Brasil, finalzinho dos anos 50. Não cheguei a viver os Anos Dourados mas minha infância se passou nos anos 60 – peguei só uns reflexos daquele brilho todo.

Tive a grata felicidade de conhecer dois “brasis”: um atrasado de tudo, refém de muitos costumes herdados ainda do Império e outro, tecnologicamente avançado mas com conceitos sociais no mínimo discutíveis.

Sou do tempo do leite em litro de vidro e tampinha de alumínio, do coletor de lixo com carrocinha puxada a cavalo, da Praça Ramos de Azevedo com piso de paralelepípedo, dos gatos que habitavam os baixios do Viaduto do Chá, do bonde na Dr. Arnaldo, do Mappin, da Eletroradiobrás e da Peter, da televisão em preto-e-branco. Assisti aos Festivais da Canção, vi A Banda ganhar e Sérgio Ricardo quebrar o violão e atirar na platéia, aprendi a gostar de Caetano Veloso e Gilberto Gil, me apaixonei pela beleza inocente da Rita Lee.

Prestei exame seletivo para cursar o ginásio em escola do Estado. Estudava muito e me divertia pouco – como era comum à época. Havia menos cinema e mais sabatinas, menos jogo de bola e mais notas azuis na caderneta. Tínhamos uma outra consciência, sabíamos que deveríamos estudar muito para trilhar um caminho de sucesso. E lá vinham os textos em Francês, verbos em Inglês, oração subordinada adjetiva em Português, tabela periódica de elementos em Química, fórmulas de Física e equações imensas de Matemática. Quanto vale o x se a raiz do delta é b2 – 4ac? Em quanto tempo um tanque de mil litros ficará cheio se a torneira o completa a tanto e um ralo o escoa à vazão de quanto? Afluentes do rio Amazonas, invasão holandesa na Bahia, Machado de Assis e José de Alencar. Velhos e bons tempos...

Foi, então, com um misto de espanto, incredulidade e revolta que acompanhei pelo noticiário da última semana, a existência de um livro aprovado pelo MEC que enaltece o modo errado de se falar, numa pretensa valorização de cultura do povo. Segundo o que foi divulgado, não existe mais o certo e o errado, vale o adequado e o inadequado, alertando ainda sobre um certo preconceito linguístico, dependendo de onde se fala dessa maneira.

Não resta dúvida que todos na Sociedade precisam, merecem respeito mas a inversão de situações é um caminho que não leva a lugar algum. Não é o falar errado que surrupia credibilidade ao cidadão mas estimular o erro é lamentável. É claro que não se pode exigir que uma pessoa sem cultura declame Camões mas o mínimo aceitável é que ela fale com todos os plurais, flexionando corretamente os verbos... além de ser elegante guinda qualquer um a outro patamar. Podem falar o que quiserem mas até mesmo quem não sabe se expressar direito gosta de ouvir uma pessoa culta discursar - e para isso não é necessário usar nenhum vocabulário rebuscado: basta ser claro e objetivo.

Desta vez o alvo foi a Língua Portuguesa, talvez amanhã seja a Matemática e depois a História - olha que perigo!

Eu me senti lesado com a publicação desse tal livro e sua inexplicável aceitação pelo MEC pois percebo que tudo o que estudei - eu e milhares de pessoas - foi jogado no lixo. Nós nos esforçamos à toa? Por certo, não...

Fiquei imaginando como será, então, este País no futuro. Teremos uma Sociedade totalmente despreparada, sem memória, sem história. Os valores culturais não existirão e as pessoas terão destaque apenas pelos bens materiais. Se alguém destoar disso será tido como preconceituoso e sofrerá punições. Quem for mais inteligente será perseguido. Aos poucos esse falar errado que hoje é cultuado será substituído por gestos e grunhidos, expressão máxima da interiorização humana.

Algo me diz que talvez Pierre Bouller não estivesse errado quando escreveu La Planètte des Singes...

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Falha técnica

Bem... aos seguidores do "Dois Pontos" só me resta pedir humildes desculpas mas o Blogger teve problemas técnicos e, por isso, a tradicional postagem da sexta-feira ficou prejudicada hoje! Essas coisas acontecem no mundo da Internet...
Grande abraço a todos! Assim que possível postarei a crônica!

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Parece mas não é!

Se tem algo muito comum no gênero humano é uma capacidade de deduzir fatos com base num pretenso conhecimento. E o curioso é que quanto menos a pessoa sabe, mais ela própria inventa o restinho da estória – que pode terminar num dramalhão imenso!

Duvida? Então, leia...

Anacleto era um respeitado advogado, professor universitário. Divorciado há alguns anos, vivia na casa de campo – imóvel que sobrara da divisão dos bens na separação. Nunca mais havia pensado numa relação mais duradoura, preferindo se envolver em romances ocasionais. Numa dessas armadilhas da vida, conheceu Jacira, sua aluna na Faculdade de Direito. Durante algum tempo viveram um romance tórrido que, infelizmente, acabou.

Nas semanas seguintes ficou amuado, não saía mais de casa, amargurado com a situação pois se afeiçoara demais a ela. Numa noite fria de junho, ele resolveu escrever para a moça, tentando mostrar alguns pontos de vista que ele tinha sobre tudo o que eles haviam passado.

Pegou folhas de papel, caneta e começou a escrever. Ligou a lareira, tornando o ambiente mais aconchegante, mais propício às divagações, cenário que ficou (quase) completo com o copo de uísque. Dalí a pouco, lembrou que precisava também limpar um revólver que ele tinha. Levantou, pegou o tal revólver e algum material para limpá-lo. Ficou entretido nas duas tarefas, escrevia um pouco, limpava a arma, voltava à caneta.

Nesse meio tempo, a campainha tocou. Era a ex-namorada que havia ido com a mãe dela pegar um resto de roupas que tinha ficado lá. Ele as recebeu e amistosamente conversaram um pouco. Jacira parecia nervosa. Pegou as tais roupas e resolveu ir embora; tinha pressa. Ele, gentilmente, foi acompanhá-las ao portão, instante em que a moça voltou sozinha à sala pois esquecera-se de alguma coisa. Foram embora. Anacleto ficou olhando as luzes do carro desaparecerem na bruma da noite.

Voltou e recomeçou a escrever a tal carta. Olhou e notou a falta de algo: o revólver havia sumido!

O que é que aconteceu? Simples... Jacira viu um cenário e compôs ela própria a estória: um homem solitário, melancólico pelo término de um romance, escrevendo uma carta com um revólver ao lado. A conclusão saltou óbvia: estava prestes a cometer suicídio, deixando uma carta de despedida. Ela, então, levou embora a arma para impedir...

Só que ela se enganou redondamente, não era nada disso!

Situações assim a gente vê sempre. Existem pessoas que ouvem metade de um comentário e já saem fofocando uma estória inteira, inventando situações, deduzindo conclusões precipitadas ou convenientes.

Bom seria se cada um cuidasse da própria vida...

sexta-feira, 29 de abril de 2011

A solidão e o ovo

Vivo encontrando com gente que acha morar sozinho a melhor coisa do mundo. Em parte é mesmo, não nego – e olhem que moro sozinho há uns quinze anos, um bom tempinho.

Quem quer morar sozinho é porque vive rodeado de gente, numa casa onde todo mundo se atropela, dá palpite, troca informação o tempo todo. Aí é comum se ouvir:

“- Meus pais e meus irmãos foram viajar neste final de semana; foi um sossego, é ótimo morar sozinho!”

Sinto informar mas isso não é morar sozinho. É claro que um hiato numa vida movimentada às vezes é bom mas você sempre tem a razoável certeza de que aquelas pessoas voltarão a fazer parte do seu dia-a-dia, não é verdade? Morar sozinho é uma instituição, você tem que refazer seu estilo de vida, depender de si próprio para tudo, de cozinhar a pregar um botão, passando por todas as tarefas domésticas que se possa imaginar. E olha... experiência própria, uma casa ou um apartamento dão trabalho, podem acreditar. Os problemas se multiplicam.

No início é uma sensação de liberdade sem tamanho: você pode fazer o que quiser, na hora que quiser, sem dar satisfação a ninguém. Chegar tarde deixa de ser um complicativo, levar namoradas à vontade sem ter que dar explicações. Nas primeiras semanas em que você está se instalando, fazendo planos, esse sentimento é maravilhoso e as idéias vão surgindo a cada minuto. Quando a realidade volta a tomar conta, as coisas são bem diferentes: você passa a ter consciência das responsabilidades e acaba não fazendo nada do que arquitetou.

Lí, uma vez, que a única vantagem de morar sozinho é poder usar o banheiro de porta aberta. É verdade. No mais, você não aproveita sua liberdade incondicional: nada de festas babilônicas, jantares românticos à luz de velas, música alta, namoradas estonteantes. Eu já me peguei com a televisão e o rádio ligados em bom volume, ao mesmo tempo, só para dar a impressão de que havia mais gente em casa.

Pode ser difícil acreditar mas eu engrosso aquelas estatísticas de pessoas que dizem "boa noite" ao William Bonner! Aliás, o Bonner e sua simpática consorte, Fátima, ajudaram a compor uma das minhas estórias domésticas mais bizarras.

Uma noite, ao chegar do trabalho, liguei a televisão e fiquei ouvindo enquanto pensava em algo para jantar. Sou péssimo na pilotagem de fogão mas como não tem outro jeito, tento fazer algo para não perecer de fome. Pois bem, eu me resolvi por um ovo cozinho, algo simples. Coloquei água numa panelinha, larguei o ovo lá dentro e comecei a passear pelo apartamento, ouvindo as notícias. Em dado momento, eu me detive em frente ao televisor atraído por um comentário mais interessante. Dalí o noticiário seguiu e eu fui sendo absorvido. Sentei. Bonner daqui, Fátima de lá, acabei ouvindo o resto do noticiário. Esqueci do tal do ovo. O Jornal acabou e a musiquinha da novela já se insinuando, comecei a sentir um cheiro de queimado. Quando entrei na cozinha tomei um susto: a panelinha estava quase incandescente! A água havia evaporado e o ovo estava encolhido num cantinho com uma fumacinha saindo dele.

Até hoje sou alvo de gozação de amigas para quem contei isso. Tenho quase certeza que sou o único ser do Planeta Terra que conseguiu queimar um ovo cozido! E você ainda acha bom morar sozinho?!?