sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Horários

Acabou o horário de verão. Uma pena, pelo menos para mim, que adoro esse período. Os dias ficam mais longos, demora mais a anoitecer. Terminar um dia de trabalho ainda com sol tem sua parcela de gratificação. Parece que tudo fica mais fácil, mais alegre, mais gostoso. Em suma, os dias rendem mais – justamente porque parecem maiores, sem falar no que se economiza em energia elétrica com as lâmpadas apagadas.

Adotado, atualmente, em mais de trinta países, o horário de verão foi instituído no Brasil por Getúlio Vargas em 1931, e está longe de ser unanimidade. O que pouca gente sabe é que esse conceito de aproveitar melhor a luz solar começou em 1.784, com Benjamin Franklin! Faz mais de duzentos anos!

Pois é, a idéia vem de longa data e está mundialmente consagrada mas brasileiramente, algumas pessoas abominam a mudança no ponteiro dos relógios e as justificativas são as mais débeis possíveis:

- Detesto esse horário que inventaram... pra quê isso?!?

- Eu me sinto muito cansado, não consigo me habituar...

- Mexe com o metabolismo, é muito ruim.

- É uma coisa que não é natural, então não faz bem.

- Tiram uma hora da vida da gente.

E por aí vai. Não adianta tentar explicar, tem gente que não entende. Não se “tira” uma hora da vida de ninguém... mesmo porque essa hora vai ser “devolvida” no final – mas aí quem se lembra?

Eu quase perco a paciência com quem fala essas besteiras. Sempre comento que quando se viaja para a Europa, por exemplo, avançamos vários fusos horários em pouquíssimo tempo. Quem deve sofrer com isso são os tripulantes de aviões ou pilotos e mecânicos de Fórmula-1, que mudam de Continente a cada duas semanas. Não adianta, continuam reclamando.

Mas o horário de verão rendeu pelo menos uma estória muito divertida, com uma Secretária que eu tinha, muitos anos atrás.

Como ela era muito avoada, na sexta-feira anterior à troca de horários eu tive o cuidado de avisá-la:

- Marilene, lembre-se que neste final de semana começa o horário de verão! Você deve adiantar seu relógio à meia-noite do sábado! Não se esqueça, hein?!?

Ela ficou me olhando; percebi nela uma certa angústia, embora não dissesse nada a princípio. Mas passados alguns minutos, ela não se conteve e soltou a pérola:

- Será que tem pobleminha se eu adiantar o relógio antes da meia-noite? É que eu não costumo ficar acordada até tão tarde...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Quinze minutos de fama

Atire a primeira pedra quem nunca quis ter seus quinze minutos de fama. Qual o quê... todo mundo quer ser visto, reconhecido em alguma coisa. Tem que pintar a oportunidade, mais nada. O lugar certo, as pessoas certas na hora certa – depois é relaxar e aproveitar.

Isso já aconteceu comigo, eu era adolescente e fazia o Curso Ginasial alí no bairro da Lapa.

Lembro-me daquela manhã... Aula de Educação Física, atividade: jogo de vôlei. Sempre preferi vôlei ao basquete por causa da minha altura, digamos... hããã... pouco favorável!

Um colega que não participou da aula ficou desfilando de lá para cá com u´a maquininha S-8, filmadora moderna que existia à época. O jogo começou e ele se pôs a filmar.

Até que eu era bom de saque; olhei para a quadra, olhei para a filmadora e pensei: "É aqui que me consagro. Saio da Lapa e busco o mundo. Do ginásio para a Seleção. Troco a Doze de Outubro pela Quinta Avenida". Assim, me tornei um gigante na quadra: não passava uma bola por mim, pulava como um elástico diante da rede para cortar as bolas mais difíceis, ganhei vários pontos só no saque, deslizava de barriga, me esfolando todo naquele chão duro... mas tudo valeria a pena, meu sangue não seria em vão!

As outras turmas assistindo... as meninas olhando... Apito final, o professor declara a nossa equipe vencedora. Pulei de alegria, numa coreografia mais ou menos ensaiada... tentando demonstrar a maior naturalidade do mundo. E não tirava o canto do olho da filmadora – queria ter certeza de que tudo estava salvo para a posteridade. Ainda todo suado, perguntei ao colega, displicentemente: "Gravou?". E ele, taxativo: "Lógico, não perdi um lance." Pronto, minha glória estava a caminho. Era só uma questão de tempo.

Depois, na sala de aula, a terrível revelação: não havia filme na máquina! Tudo um engodo! Vi com meus próprios olhos: ele me mostrou a filmadora v-a-z-i-a! Meus sonhos caíram por terra. Adeus Seleção... glória... dinheiro... Fiquei arrasado.

Ainda sinto um certo desconforto quando tento ver um jogo de vôlei pela TV; parece que alguma coisa me incomoda: pego o controle remoto, clico o botão para desligar e dou uma "cortada" nele, que vai parar no sofá do outro canto. Humpft!

Será que ainda tenho chance no jogo de malha?

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Infernet

Cansei.

Cada vez que abro minha caixa de e-mail, tem lá uma boa quantidade de mensagens alardeando contra ou a favor de determinado político, outras pedindo apenas um clique para salvar a vida de alguém que se encontra gravemente enfermo em algum hospital do Leste Europeu ou lamentações sensacionalistas de pais aflitos que tiveram o filho desaparecido e pedem que divulguem a foto da criança.

Há aqueles oferecendo uma montanha de medicamentos controladíssimos, que vão do Valium ao Viagra, passando por pílulas de emagrecimento – com entrega garantida em casa e em embalagem discreta. Garotas de programa se oferecendo. Coca-Cola mata. Hambúrguer do Mac é feito de minhoca. Deixaram uma fortuna de herança para você em algum país da África do Sul ou então você ganhou milhões de dólares num cassino onde jamais jogou.

A Internet virou bandalheira. O correio eletrônico, que garantiria a troca de mensagens importantes num espaço reduzido de tempo, transformou-se num desafio à nossa paciência. Ao invés de escreverem elas próprias, as pessoas ficam repassando aqueles arquivos intermináveis, pesados... com imagens que abrem, letras que pulam, musiquinhas que tocam... tudo num gosto muito discutível.

Quando recebo um e-mail, olho para duas variáveis: quem mandou e o tamanho daquela encrenca. Aqueles enormes, pode acreditar: lá vem um texto simples e bobo, que alguém resolveu montar num arquivo PPS cheio de janelinha que abre e fecha, letra que surge de um ponto de fuga imaginário, anjinho que voa e tome musiquinha com som metálico! Lições inservíveis de autoajuda ou, como costumo dizer, filosofia de parachoque de caminhão. Isso sem contar as mentiras, invenções, fofocas e toda sorte de bobagens que se espalham como fogo na palha. E assim a coisa vai... cada um muda uma letra, apaga uma vírgula e o assunto passa de A a Z em questão de minutos. Ah, claro... e somos obrigados a receber aquela série de Enc...Enc...Enc... que vem com uma relação de endereços de e-mail de pessoas que já receberam ou receberão junto com você: mais parece uma lista telefônica! Ninguém se lembra de apagar nada disso? Cadê as regras de etiqueta, ficaram relegadas a segundo plano, é?

Por isso, eu desisto! Chega dessa bobagem de Internet, que acaba viciando a gente. Vou até aposentar meu computador, voltar à velha e boa máquina de escrever para datilografar (termo antigo, hein?!?) os meus textos: aquele matraquear das teclas era um bálsamo para os ouvidos, alinhava os pensamentos... É. E também fazia você escrever tudo de novo quando errava alguma coisa. Não podia salvar um texto para revisá-lo mais tarde. Tinha que parar para consultar uma enciclopédia cada vez que precisava de uma informação. Se fosse com cópia em carbono, apagar uma a uma quando errava uma letra. Borrava tudo, um lixo. Ficar contando as palavras para não escapar da margem.

Bom, pensando bem, as coisas não precisam ser assim tão drásticas. Temos que aceitar a modernidade. Um pouco só, mas temos... Vou dar mais uma chance ao computador e à Internet. Quem sabe? Perdoarei até aqueles e-mail chatos de musiquinha.

É... mas bem que aquela estória de herança podia ser verdade...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Lei de Gérson

Muita gente fala em Lei de Gérson mas, principalmente entre os mais jovens, ninguém sabe ao certo a origem dela. Pois bem, saberão agora.

Gérson foi um dos jogadores de maior destaque do time brasileiro na Copa de 1970, no México. Era detentor da camisa 8, chamado pelos comentaristas esportivos de Canhotinha de Ouro e muita saudade deixou em quem teve o privilégio de vê-lo jogar.

Apesar de ser um atleta, Gérson tinha um vício incompatível com suas atividades físicas: era fumante. Eu sempre me perguntei como um jogador de futebol podia ser um dependente de cigarros mas... ele era!

Logo depois de vencermos o Mundial e nos sagrarmos tricampeões do mundo, veio a fase de glamour de alguns jogadores e Gérson foi chamado para fazer propaganda de um cigarro chamado Vila Rica – que nem existe mais.

E lá se foi Gérson, dos gramados para se tornar garoto propaganda!

No comercial, após fazer a apologia daquele cigarro, ele elogiava a qualidade do fumo e o preço acessível, resumindo tudo numa frase: “Eu gosto de levar vantagem em tudo, certo?

Estava lançada a maldição... sem querer e sem qualquer espécie de cerimônia, ele acabara de servir como instrumento de edição, aprovação e promulgação da Lei de Gérson. Em questão de pouquíssimo tempo, uma frase de efeito num comercial de cigarros se transformava no slogan dos espertalhões. Levar vantagem em tudo passou a significar engodo, trapaça, malandragem, falcatrua.

É bem provável que Gérson de Oliveira Nunes – hoje aos setenta anos - tenha se arrependido amargamente por ter sido protagonista de um absurdo desses, logo ele, que foi um ícone no selecionado tricampeão, atleta respeitado e íntegro!

Não tenho Procuração para defendê-lo mas divulgar a história é mais do que uma obrigação, é fazer justiça com um dos maiores jogadores de futebol que já tivemos.

Revogar a tal Lei de Gérson assim, de imediato, vai ser um pouco difícil mas quem sabe ela não cai no esquecimento?

O brasileiro, de uma maneira geral, precisa voltar a acreditar nos valores legados pela família, pela honestidade de princípios e boa índole e não dar vazão às facilidades e ao jeitinho. É esse costume que nos desacredita, é o nefasto passaporte que alguns ainda teimam em ostentar.

Não podemos ver como tolerável aquele tapinha nas costas querendo a cumplicidade de alguém para fazer algo que não se deve, bancar o espertinho. Tem algo errado em ser apenas honesto?

É como eu sempre digo: viver é fácil, o ser humano é que complica tudo.