sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Samba II

Acabou o Carnaval mas não a folia.
Quem acompanhou os desfiles das Escolas de Samba de São Paulo deve ter notado como evoluíram as agremiações paulistanas. Belas apresentações, fantasias bem elaboradas, carros alegóricos majestosos. Lindo, tudo muito bonito. Se o intuito era emocionar o público, conseguiram. Parabéns, mesmo! O espetáculo vem melhorando ano a ano.
A grande nota zero, entretanto, viria na apuração.
O que pudemos assistir ao vivo, transmitido pela televisão, foi algo grotesco. Confusão, briga, invasão da mesa apuradora e um cidadão rasgando os envelopes com votos ainda não computados. No final, algumas pessoas presas, a instauração de um Inquérito Policial e a quase certeza de que ninguém será punido.
Aí começaram as denúncias de que a bagunça não se constituiu em fato isolado mas algo orquestrado por algumas Escolas de Samba, apenas para tumultuar o processo.
Pior ainda: a Prefeitura de São Paulo se manifestou, dizendo que se essa orquestração fosse provada, essa ou essas Escolas não iriam receber mais verba pública.
Como é que é?!?
O dinheiro do contribuinte vai para desfiles de Carnaval? Vai. Só neste ano a Prefeitura destinou R$ 23 milhões (aproximadamente US$ 13 milhões ou € 10 milhões) para o evento.
Quando soube disso percebi, no mesmo segundo, o porquê de tanta briga, tanto bate-boca, tanto desentendimento entre as Escolas de Samba para subir de nível, para migrar ao grupo especial ou coisa que o valha. Não é pelo fascínio, pelo glamour ou pelo apego de cultura popular, nada disso. O quesito principal é o dinheiro, mesmo.
Só Deus sabe quanto disso é desviado para alguns bolsos e é isso que me causa uma irritação maior: tem sempre alguém dando uma de espertinho, tirando proveito de uma situação que ele mesmo cria.
Eu, de maneira muito ingênua, sempre pensei que as Escolas contassem com recursos de seus integrantes, naquela abnegação quase doentia para desfilar no Sambódromo. Que nada... em tudo tem a mão do Estado que, generosa, esparrama o dinheiro que você, eu, todos nós pagamos de Impostos para manter a cidade.
Alguém tem idéia do que daria para fazer com R$ 23 milhões?  Muitas obras, sem dúvida.
Mas é isso... daqui a pouco começará a época de chuvas e, então, aqueles passistas que desfilaram alegres para as câmaras, estarão reclamando da enchente na porta de suas casas, lamentando que perderam o pouco que tinham.
Vamos sambar, gente... vamos sambar!!!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Samba

Vai começar o samba na avenida
Só alegria, só vitória
Resumo de uma vida
Pedaço de alguma estória
Às vezes sem rima e sem verso
Conta mais o luxo e a memória
E vem a escola
Embalada na prosa
Vestida de cores
Do verde ao rosa
Com tanto esplendor
Falando de amor
São frases de efeito
Ditas com jeito
Causando furor
Erguendo a avenida
Naquele momento
Que se esquece da vida
E do sofrimento
Não tem dor de partida
Não se escuta um lamento
Aqui tudo pode
Poeira se sacode
Não tem mais tristeza
O que se vê é beleza
Sorriso é o lema
Não existe problema
Só tem coisa boa
O resto é à toa...
E por quê?
E por quê?
E por quê?
Porquê vai começar o samba na avenida...

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Que saco, hein?!?

Durou pouco o clima de cordialidade entre os grupos que apoiaram o acordo havido entre o Governo do Estado de São Paulo e os empresários do setor de supermercados com relação à supressão das sacolinhas de plástico.

No início das negociações, ano passado, tudo era festa. Os ambientalistas comemoravam o sumiço das terrríveis sacolinhas plásticas e acenavam com um planeta mais limpo, livre de um lixo muito inconveniente.

Neste ano de pré-adaptação, as conversas giravam em torno da substituição das sacolinhas por outros meios para transporte das compras do supermercado. Caixas de papelão, sacolas de lona, cada um inventaria um jeito.

Afinal, e quando não existiam as tais sacolinhas??? Eu me lembro, quando criança, íamos ao supermercado e levávamos sacolas de feira; elas eram deixadas numa espécie de guarda-volumes e obtínhamos uma senha (uma cartolina pintada ou algo semelhante a um cartão de crédito com um número inscrito). Fazíamos nossas compras tranquilamente e depois um garoto do supermercado ia correndo resgatar nossa(s) sacola(s). Era assim, tudo simples assim.

Aí alguém inventou uma sacolinha de plástico para embalar as compras. Extremamente práticas, elas caíram no gosto do consumidor rapidamente, além de terem outra função: ninguém mais comprava sacos de lixo. Passaram-se os anos e elas tiveram que se sentar no banco dos réus: tóxicas, demoravam cerca de 400 anos para se decompor e ajudavam a entupir bueiros e favorecer enchentes.

Mas agora enfrentamos um outro dilema: as sacolas não são mais distribuídas gratuitamente – aliás aqui cabe um parêntese porque o custo delas sempre esteve embutido nas mercadorias. Os supermercados começaram a vender umas tais sacolinhas biodegradáveis (demoram só 100 anos para se decompor) e também sacolas retornáveis – também de um material plástico. As prometidas caixas de papelão sumiram e, então, você é obrigado a levar suas compras sem embalagem alguma e socá-las no porta-malas do seu carro de qualquer jeito – se você tiver um carro.

Fomos feitos de bobos.

Quer dizer que a sacolinha de plástico era a grande vilã, que destruiria o Planeta Terra se não fosse expulsa do nosso convívio? Você já parou para observar a quantidade de plástico que é usada nas embalagens diversas? Tudo hoje vem num recipiente plástico! Desde a ração do seu cachorro até a embalagem do seu computador ou da sua televisão de tela plana, passando pelos produtos de cozinha e refrigerantes, tudo é embalado no plástico. E a culpada pela degradação do meio ambiente é a sacolinha?!?

O empresário do supermercado eliminou um gasto na sua planilha: não manda mais produzir sacolinha com o nome do estabelecimento e nem por isso vai descontar um percentual no preço praticado nas mercadorias que comercializa.

A indústria de plástico continuará a produzir as incontáveis embalagens que sempre produziu, numa escala que não tem como decrescer, já que a população só aumenta.

O consumidor? Ah, ele se ajeita, ele se acostuma. Se quiser, tem sacolinha pra vender. E lá vai ele, equilibrando as compras todas, levando as coisas no bolso, na bolsa... ele se vira!

Afinal, quando Cabral chegou aqui para tapear os nossos nativos, eles não deram sacolinhas plásticas para guardar os espelhinhos, não é?

Como diria a Kate Lyra, brasileiro é tão bonzinho...