Diz o adágio popular que a morte é a única certeza da vida.
Se você considerar em termos filosóficos é a mais pura verdade mas com absoluta
certeza todos nós haveremos de considerá-la no mínimo, injusta.
Racionalmente, conseguimos compreender que tudo tem um
ínicio e um fim – menos para os seres vivos. Seu automóvel, seus
eletrodomésticos, a torneira elétrica da sua cozinha, seu barbeador bivolt, o
secador de cabelos... tudo um dia vai encrencar e pedir um novo. Mas... a
vida?!?
Esse sentimento de impotência é assustador; a vida não tem
retorno, não existe reposição e não há como compensar a perda de alguém que
amamos, com quem convivemos longo tempo de nossa existência.
Alguém querido que se vai deixa um vazio inexplicável em
nossa alma, acordamos no meio da madrugada sobressaltados como se aquilo não
fosse verdade e enfrentamos o dia-a-dia completamente desanimados. A nossa
própria vida parece perder o sentido, há uma fissura no nosso coração.
Eu digo que a morte é injusta pois como admitir que uma
vida de sonhos, de trabalho e de amor termine às vezes de maneira violenta ou
com sofrimento por alguma enfermidade? Difícil, muito difícil...
Por isso mesmo as pessoas começam a desacreditar de tudo e
não há como tirar-lhes a razão: sobra mesmo esse sentimento de quase revolta e
por mais que resistamos, rola aquela lágima de dor, de mágoa, de saudade.
É fácil – ou parece ser – para quem não está no centro
desse sofrimento, dizer para sufocar essa revolta muda, eu bem sei disso! Já
perdi muitas pessoas queridas, família ou amigos, e sei o que digo.
Não há, de fato, receita pronta, uma fórmula que nos
devolva o sorriso ao nosso rosto. O coração ainda vai bater
descompassado, a saudade sufocará o nosso peito, nossa memória reviverá cenas
como num filme e os olhos marejarão sem que consigamos conter tudo isso. Aos
poucos lembraremos das cenas de maneira mais suave e com menos emoção e isso
irá se acentuando até que consigamos esboçar um sorriso ao nos lembrarmos de
quem já se foi e do que representou em nossa vida. Ainda sentiremos saudade mas
será diferente, não aquele sentimento de perda mas o de serenidade. Devemos
aprender que de fato tudo tem um início, um meio e um fim. Não podemos ser egoístas
e querermos apenas a alegria do início e a segurança do meio.