Certamente foi a condenação mais longa do Brasil: 64
anos ou, mais precisamente, 23.368 dias: esse foi o tempo de martírio de Moacir
Barbosa do Nascimento. Nesse tempo ele foi sumariamente julgado sem direito a
qualquer espécie de defesa e execrado publicamente. Não faltaram dedos
apontados acusatoriamente para ele. O crime? Ter deixado passar a bola chutada
por Ghiggia no segundo tempo do jogo Brasil e Uruguai, em dezesseis de julho de
1950.
Durante décadas falou-se no silêncio que dominou o
Maracanã naquela tarde, que apenas a câmara de um espectador anônimo filmou, de
forma amadoresca e triste. Passei minha vida toda vendo esses poucos segundos
de imagens em preto e branco que registraram a derrota do Brasil numa Copa do
Mundo realizada em casa. Depois disso, Barbosa, o goleiro, foi obrigado a sentar
no banco dos réus e só pôde sair dalí no dia oito de julho deste ano, quando o
Brasil, novamente sediando uma Copa do Mundo, foi massacrado pela Alemanha por
sete a um e sendo eliminado da fase final do certame. Adeus, Copa 2014.
Mais do que um resultado vergonhoso, a derrota para a
Alemanha por um placar tão expressivo deve servir de lição não a um time, a um
selecionado mas ao povo brasileiro: não se pode viver de ufanismo.
O brasileiro sempre bateu no peito, num orgulho
de que éramos os melhores do mundo com a bola no pé. Doce ilusão. As vitórias
não nascem da sorte mas do empenho, do trabalho, do treino, da disciplina e
sobretudo da humildade.
É chegada a hora de nos voltarmos à realidade e
acabarmos com o endeusamento de algumas dezenas de pobres mortais que auferem
milhões de reais, dólares ou euros, num franco escárnio a quem passa a vida
toda em bancos de pesquisa e estudo. Vamos parar com essa hipocrisia pois a
Sociedade como um todo só é voltada para o dinheiro. Se nossos jogadores fossem
tão brasileiros e patriotas como dizem ser, não iriam jogar no exterior – se fazem
isso é em função dos absurdos salários que percebem. A mídia está aí para não
me deixar mentir: a vida que eles levam é regada a luxo, mordomias e banalidades
– e não são poucos os que se metem em confusão por causa disso; não preciso nem
citar nomes.
Tudo hoje é muito diferente do que nos idos de 1950,
quando ainda existia o amor à camisa, a dedicação aos clubes de origem, o
sentimento de amor à Pátria. Não havia tanto interesse econômico camuflado
atrás de cada contrato, cada marca, cada nome.
Barbosa nos deixou em abril de 2000 e, segundo registra
a História, amargurado por um gol que não conseguiu defender, sentindo-se
responsável pela derrota.
Bobagem, goleirão! Fique em paz, agora. Tomara que o povo
brasileiro siga seu exemplo de humildade: você nunca procurou a mídia para
reclamar de nada, apenas continuou sua vida, trabalhando honestamente e amando
as pessoas que ficaram à sua volta.
O grande Barbosa não foi um vilão mas um ícone a ser
reverenciado: a verdade tarda mas não falha!