sexta-feira, 6 de maio de 2011

Parece mas não é!

Se tem algo muito comum no gênero humano é uma capacidade de deduzir fatos com base num pretenso conhecimento. E o curioso é que quanto menos a pessoa sabe, mais ela própria inventa o restinho da estória – que pode terminar num dramalhão imenso!

Duvida? Então, leia...

Anacleto era um respeitado advogado, professor universitário. Divorciado há alguns anos, vivia na casa de campo – imóvel que sobrara da divisão dos bens na separação. Nunca mais havia pensado numa relação mais duradoura, preferindo se envolver em romances ocasionais. Numa dessas armadilhas da vida, conheceu Jacira, sua aluna na Faculdade de Direito. Durante algum tempo viveram um romance tórrido que, infelizmente, acabou.

Nas semanas seguintes ficou amuado, não saía mais de casa, amargurado com a situação pois se afeiçoara demais a ela. Numa noite fria de junho, ele resolveu escrever para a moça, tentando mostrar alguns pontos de vista que ele tinha sobre tudo o que eles haviam passado.

Pegou folhas de papel, caneta e começou a escrever. Ligou a lareira, tornando o ambiente mais aconchegante, mais propício às divagações, cenário que ficou (quase) completo com o copo de uísque. Dalí a pouco, lembrou que precisava também limpar um revólver que ele tinha. Levantou, pegou o tal revólver e algum material para limpá-lo. Ficou entretido nas duas tarefas, escrevia um pouco, limpava a arma, voltava à caneta.

Nesse meio tempo, a campainha tocou. Era a ex-namorada que havia ido com a mãe dela pegar um resto de roupas que tinha ficado lá. Ele as recebeu e amistosamente conversaram um pouco. Jacira parecia nervosa. Pegou as tais roupas e resolveu ir embora; tinha pressa. Ele, gentilmente, foi acompanhá-las ao portão, instante em que a moça voltou sozinha à sala pois esquecera-se de alguma coisa. Foram embora. Anacleto ficou olhando as luzes do carro desaparecerem na bruma da noite.

Voltou e recomeçou a escrever a tal carta. Olhou e notou a falta de algo: o revólver havia sumido!

O que é que aconteceu? Simples... Jacira viu um cenário e compôs ela própria a estória: um homem solitário, melancólico pelo término de um romance, escrevendo uma carta com um revólver ao lado. A conclusão saltou óbvia: estava prestes a cometer suicídio, deixando uma carta de despedida. Ela, então, levou embora a arma para impedir...

Só que ela se enganou redondamente, não era nada disso!

Situações assim a gente vê sempre. Existem pessoas que ouvem metade de um comentário e já saem fofocando uma estória inteira, inventando situações, deduzindo conclusões precipitadas ou convenientes.

Bom seria se cada um cuidasse da própria vida...

Um comentário:

Antonieta disse...

Percebo que, muitas vezes, entorpecidos por um sentimento genuíno de amor, confundimos o que somos com o que o outro é. Atribuímos a nossa felicidade e a nossa razão de existir ao outro e perdemos a referência de nosso real valor.