sexta-feira, 15 de abril de 2011

Alice

Nesta quarta-feira tivemos a última apresentação da banda irlandesa U2. Moro perto do Estádio do Morumbi, onde os shows foram realizados e de lá do meu quinto andar, posso ver de camarote a movimentação, o agito do pessoal apertando o passo para não perder nada. De quebra, ainda ouço alguns acordes das músicas – não dá para ouvir nitidamente mas fica aquela atmosfera melódica no ar, muito bom.

Espero que os fãs da banda tenham se divertido tanto quanto o quarteto capitaneado por Bono, que se diz entusiasmado com o Brasil. Tanto gosta daqui que foi conversar com o nosso Ministro da Agricultura para saber de nossas técnicas de plantio e levá-las para a África e tentar minimizar o problema da fome por ali.

Agora, o espetáculo nefasto de tudo ficou por conta da saída desse último show. Nas outras noites, não houve confusão no trânsito, apenas um excesso de carros, aquele congestionamento normal. Na noite de quarta-feira, não. Aquilo foi um caos, eu garanto a vocês!

E que me perdoem os bons motoristas de táxi mas parece que os piores se reuniram ali, naqueles momentos. Todos os piores. Minha rua ficou branca, coalhada de táxis ávidos por passageiros. As filas eram duplas, triplas, eles estacionavam em todos os cantinhos, fossem guias rebaixadas ou passagens para pedestres. Enveredaram pela contra-mão, fecharam cruzamentos, pararam no meio da rua para combinar preços, fizeram daquele trecho um inferno. Isso, claro, sem contar os buzinaços à uma e meia da manhã com direito a gritos e xingamentos. A polícia esteve presente, claro. De helicóptero. Não sou técnico em Segurança nem em Trânsito mas acho que uma aeronave não tem como fazer nada numa hora dessas, ou vai baixar de repente num cruzamento para disciplinar o tráfego? Fiquei na sacada observando e não vi um carro de polícia, uma moto, nada. Foi um salve-se quem puder.

Na manhã seguinte, assistindo ao jornal televisivo, vi que a confusão foi mais além do que a perturbação do trânsito: os taxistas combinavam corridas que chegavam até R$ 400,00. Flanelinhas venderam vagas na rua por R$ 200,00.

Alguém da Prefeitura – desses que adoram dar entrevista à TV – disse que várias pessoas foram detidas e que a fiscalização foi intensa. Não foi, não. Assim como eu, várias pessoas nas janelas dos prédios viram: aquilo foi uma balbúrdia sem qualquer controle. Ainda bem que não deu coisa pior.

Juro que fiquei indignado. E somos nós que pretendemos sediar Olimpíadas e Copa do Mundo?!? E como é que vai ser? Vamos esfolar os turistas dessa maneira? Cobrar a mais nos hotéis, nos restaurantes, no picolé da praia ou no cafezinho da padaria? Vai ser esse Deus-nos-acuda no trânsito? E a polícia, só de helicóptero?

Sejamos honestos: temos uma bela vitrine mas sem conteúdo. Não adianta equipamentos públicos modernos se as pessoas comuns não estão preparadas para lidar com gente.

Resolvem menos ainda os discursos falaciosos de governantes querendo que acreditemos que tudo está sempre bem.

Afinal, não estamos mesmo no País das Maravilhas. Ou talvez até estejamos, vai. Só que seria melhor ficar claro quem é a Alice e quem é o Coelho.

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