sexta-feira, 22 de abril de 2011

O Tapeceiro

Tapeceiro caprichoso, Claudimar estava sempre atualizado com as novidades do mercado. Podia falar de qualquer tecido, cor, padrão – ele entendia de tudo! Tinha o maior carinho com os móveis antigos que as pessoas traziam, aquelas relíquias de família, que ele restaurava como se fossem dele.

Sofás capengas e rasgados saíam imponentes, numa elegância de dar gosto. Poltronas raquíticas voltavam triunfantes a seus lares. As pessoas ficavam maravilhadas com sua sensibilidade, sua técnica. Era um artista, um artista.

Sua fama correu mundo. De boca em boca, foi se tornando cada vez mais conhecido. O movimento da oficina cresceu muito, o que o obrigou a contratar assistentes, a quem ia passando o gosto pelo ofício.

Um dia, parou à sua porta um desses carrões importados, enorme, reluzente, novinho. Todos ficaram olhando. Um senhor alto, muito bem vestido, cabelos grisalhos cuidadosamente aparados, barba bem feita. Tinha lá pelos seus 65 anos, jeito calmo de falar. Apresentou-se. Juíz aposentado e morando no Rio de Janeiro, iria aproveitar o período de Carnaval para viajar ao Exterior com a família. Nesse meio tempo, queria um serviço inusitado: forrar as paredes do apartamento no Leblon, com um tecido caríssimo que ele havia importado. Claudimar titubeou; nunca fizera um tipo de serviço semelhante. O Juíz o convenceu acenando com um preço irrecusável.

Tudo acertado, lá foi Claudimar e sua equipe para a Cidade Maravilhosa. Deveriam concluir o serviço naqueles dias em que o País para por causa do Carnaval. O apartamento era enorme. Os assistentes queriam praia mas a ordem era o trabalho primeiro, depois a diversão: se sobrasse tempo, todos aproveitariam a praia. Para evitar a cara-feia, Claudimar liberou alguma bebida durante o trabalho. Julgou que uma caipirinha ou outra, meia dúzia de cervejas não fariam mal.

Começaram o trabalho. Pincel, cola, pano. Estende daqui, mede dalí, corta, cola. Escada, fita métrica, tesoura, capirinha, cola. Brocha, cola, pano, espátula, cerveja. Parede, corredor, capirinha e cerveja. O ambiente foi ficando descontraído. Entraram num outro clima, outro astral. A bebida ia descendo e as paredes sendo vestidas. O tecido caríssimo sendo colado e a bebida subindo. Tudo era festa. Trabalhavam, cantavam, riam muito e bebiam. Cortavam, mediam, colavam e bebiam.

Três dias depois, terminaram. Claudimar olhou para as paredes e sentiu um ar de triunfo, sua obra estava acabada. Não ficou uma bolha, uma imperfeição. Agora era só esperar pelo patrão, que traria o pagamento.

Numa última checada, seus olhos pararam estatelados. Foi como se migrasse de um sonho diretamente para o pesadelo.

Virou-se para os assistentes e soltou:
- Gente, peguem nossas coisas e vamos embora daqui rápido, antes que o Juíz chegue!!! Isso aqui vai dar morte!!!
Ficaram todos boquiabertos, sem entender nada. Como assim??? As paredes estava lisinhas, perfeitas. O que ele havia visto de errado?
- Já falei, vamos embora, precisamos ir embora, fugir daqui... Colamos o tecido do avesso!!!

As pessoas ainda comentam de Claudimar, em frente ao prédio onde funcionava a Oficina. Nunca mais foi visto pela vizinhança. Parece que alguém deu notícia dele vendendo sorvetes em Camboriú, cabelos compridos, barbudo, arredio. Mas o que mais intriga os vizinhos é um carro que fica rondando o local, faróis apagados e placas do Rio de Janeiro.

Mundo esquisito, este.

Vai saber, né?!?

3 comentários:

Antonieta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Antonieta disse...

Reinaldo, fiquei curiosa!!! o que aconteceu com o Claudimar???..rs

Unknown disse...

Camboriú... Camboriú... ou seria Balneário Camboriú? Saiba que são municípios distintos. É perto daqui, será que já cruzei com o tal Claudimar? Será...?