sexta-feira, 8 de abril de 2011

Columbine tupiniquim

Impossível ficar alheio aos acontecimentos desta última quinta-feira, em Realengo, Rio de Janeiro. Na versão tupiniquim de Columbine, um jovem de 23 anos entrou numa escola pública com um único ideal: matar tantas crianças quanto possível, dentro do menor espaço de tempo – como se fosse num joguinho de videogame.

Infelizmente, não é uma ocorrência isolada. Para quem não se lembra, em novembro de 1999, um estudante de Medicina matou três pessoas e feriu outras, imitando uma cena de um conhecido game de computador. Isso aconteceu aqui em São Paulo, numa sala de cinema do Shopping Morumbi.

Apesar de ter ocorrido há apenas onze anos, esse episódio dos tiros no cinema parece já esquecido da memória da Sociedade, embora tenha ocupado por longas semanas as manchetes do noticiário.

Isso é que preocupa. Notícia boa não vende, o que dá audiência é a tragédia.

Provavelmente já neste domingo os programas de televisão apresentarão a matéria completa com depoimentos de testemunhas, gente que viu alguma coisa de perto, aparecerão cenas gravadas por celulares, entrevistas com parentes, vizinhos e conhecidos do assassino. Técnicos em Segurança falarão sobre o assunto, apontando soluções que jamais serão tomadas. Psiquiatras e psicólogos relatarão pormenorizadamente os aspectos da vida do sujeito, os traumas pelos quais passou quando criança. E, claro, políticos aproveitarão para dar aulas de hipocrisia, chorando por defuntos que não são deles. As emissoras ganharão pontos no Ibope, o que significa maior audiência e, portanto, preços maiores na venda dos espaços publicitários.

Todo mundo sairá ganhando. E as famílias dessas crianças?

A elas restarão as missas periódicas, cultos ecumênicos com ar solene. Nesses primeiros eventos, a mídia e os políticos ainda se servirão de algumas fatias. Depois o assunto acaba caindo no esquecimento e virando estatística em planilhas frias, sem emoção.

Resta torcer para que tanta luz sobre um fato não gere outros. Pode observar que sempre que alguma coisa é muito comentada, logo em seguida aparece uma outra igualzinha. No início dos anos 80 o adolescente Ricardinho matou pais e irmãos e botou os corpos dentro do Gol do família. Em 1988 foi a vez de Jorginho Bouchabki, no crime da rua Cuba. Mais recentemente, em 2002, tivemos o assassinato do casal Richthofen e em 2004 Gil Rugai – só para falar nos mais rumorosos. Todos esses casos mereceram destaque na Imprensa para depois cair no ostracismo – e quase ninguém se lembra deles.

Dizem que brasileiro não tem memória e eu acredito nisso. A maioria, com certeza, não tem.

Não basta simplesmente jogar esses fatos todos para baixo do tapete, fingindo não ser conosco. Claro, desta vez não foi conosco, não atingiu a nossa família. Só que não estamos livres disso.

E quando atingir, como será?

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