sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O caso do radinho

Antonio Celso sempre foi muito respeitado pelos alunos. Também, não era para menos: competente e disciplinado, suas aulas tomavam a atenção dos adolescentes. Dizia-se que enquanto o mestre falava, era possível perceber o vôo de u´a mosca. Muito correto, não esbanjava nas notas, não... por isso todos se esforçavam nos estudos: nota alta com o professor Antonio Celso era sinônimo de status.

O mesmo estilo que ostentava na escola era seu padrão doméstico, sempre muito metódico, regrado e acima de tudo, justo.

Numa noite enluarada de Primavera, Antonio Celso preparou uma surpresa para sua mulher: iriam a um Teatro assistir uma peça. O evento serviria também para comemorar a aquisição do carro novo que pegara semanas antes. Tudo acertado, lá foram os dois, como jovens namorados!

A peça foi ótima; o casal se divertiu muito e, mãos dadas, voltaram para pegar o carro. Antes mesmo de sair do estacionamento, deu por falta de um rádio a pilhas, presente de uma turma de alunos. Como o carro era relativamente novo e não tinha som, ele se acostumou a deixar o radinho em cima do painel para animar um pouco os deslocamentos casa/escola.

Perguntou ao manobrista. Nada.

- Não vi rádio nenhum, doutor.

- Estava aqui em cima do painel, com uma capinha de courvin marrom...

O manobrista perguntou a um outro... um fala daqui, outro dalí... mas ninguém sabia de nada e o radinho não apareceu. Incomodado com a situação, Antonio Celso entrou no escritório do estacionamento e o que foi que ele viu na mesa do Encarregado? O seu radinho... com a capinha de courvin marrom!

- Olha lá meu rádio... alguém daqui pegou meu rádio!!! Dá aqui, quero meu rádio de volta!

- Esse rádio é meu! – defendeu-se o Encarregado.

- Seu, coisa nenhuma! – Antonio Celso já estava alterado. – Eu ganhei esse radinho de presente dos meus alunos faz tempo, tem até marquinha de unha perto do botãozinho onde se muda a estação! Pode ver, pode ver!!!

A confusão e o tom hostil das vozes já tinham atraído curiosos, entre funcionários e clientes do estacionamento. Num instante de tensão, todos puderam constatar que Antonio Celso não mentia: a marquinha estava lá, no local onde ele disse. Não restava mais nenhuma dúvida. Num só movimento, pegou com autoridade o rádio, entrou no carro e deu partida.

- Você tem sorte de eu não dar queixa à Polícia – vociferou para o Encarregado, que o observava assustado e incrédulo.

No trajeto para casa, comentava com a mulher sua indignação ante o ocorrido.

- Como pode uma coisa dessas? O sujeito furta meu radinho e ainda tem a cara-de-pau de dizer que é dele...

- Mas, querido... ele parecia tão seguro de si... você tem certeza que esse rádio é o seu?

- Ah, até você?!? Como não teria certeza? Não conheço meu radinho, então? E olha a marquinha de unha aqui, ó... E você me conhece, sou um homem correto e justo.

- Tudo bem, querido... você é quem sabe. Não vamos estragar nossa noite...

Chegaram em casa. Estacionou o carro, pegou seu estimado radinho e entrou; quando foi guardá-lo no lugar de costume, na estante da sala, quase teve um treco: seu radinho estava lá... com a capinha de courvin marrom e a marquinha de unha perto do botãozinho de mudar as estações...

2 comentários:

masettos disse...

infelizmente como seres humanos falíveis.. cometemos muitas vezes esse tipo de erro....ou seja...o julgamento precipitado.
quantas vezes não julgamos alguém pela aparência?
isso é comum entre nós....e num caso assim...nos resta ter a humildade de reconhecer o erro de avaliação..saber voltar atrás...pedir desculpas....enfim...vamos devolver o radio? rssss

fenolio disse...

Esse professor Antonio Celso não tem nada a ver com o Antonio Carlos, hein! Reinaldo!!!